Divagações: Evil Dead

Já vou começar dizendo que nunca fui um grande fã dos filmes de terror. Não exatamente pelos sentimentos que eles evocam, mas pelo grande...

Já vou começar dizendo que nunca fui um grande fã dos filmes de terror. Não exatamente pelos sentimentos que eles evocam, mas pelo grande incômodo que sinto ao acompanhar um roteiro que depende exclusivamente da ignorância humana. Sim, tirando algumas exceções notáveis, toda a produção de filmes de horror é pautada em pessoas fazendo decisões ruins nas piores horas possíveis, o que já não consigo mais engolir.

De qualquer forma, respeito filmes que são conscientes desses artifícios e clichês do gênero e, ainda mais, reconheço os que são capazes de brincar com esses artifícios. Dito isso, não consigo deixar de pensar que o diretor Fede Alvarez não entendeu exatamente qual era o apelo por detrás da franquia The Evil Dead, já que por mais bem intencionada que essa releitura seja, falta a ela exatamente o espírito que tornaram os filmes de Sam Raimi conhecidos e fizeram de Ashley Williams (Bruce Campbell) um ícone do horror trash.

Assim como no original, um grupo de adolescentes – composto pela junkie Mia (Jane Levy), seu irmão David (Shiloh Fernandez) e seus amigos Eric (Lou Taylor Pucci), Olivia (Jessica Lucas) e Natalie (Elizabeth Blackmore) – está isolado em um casebre nas montanhas. Nesse local, eles acabam entrando em contato com o ‘livro dos mortos’, um poderoso artefato capaz de invocar demônios para o nosso mundo. Quando uma dessas entidades acaba possuindo o corpo de Mia, cabe a David encontrar um modo de sobreviver ao demônio e salvar a sua irmã.

Como eu disse anteriormente, falta a esse filme aquela falta de compromisso e o senso de humor que transformaram The Evil Dead em um cult do terror. Nessa nova versão fica clara a intenção do roteiro em manter as coisas dentro de certo nível de seriedade, tentando assustar genuinamente os espectadores durante os primeiros três quartos do filme.

Não é que Evil Dead faça isso mal. Pelo contrário, o trabalho de maquiagem (que surpresa a minha ao saber que não apelaram para o CG!) é ótimo e a ambientação funciona muito bem. O problema é que não existem muitas maneiras de inovar no gênero trinta anos depois do filme original, o que acaba transformando a trama em uma sucessão de clichês enfadonhos.

Os personagens são extremamente ignorantes, colocando suas vidas em risco a troco de nada; as situações acontecem sem muita explicação e coerência dentro das regras daquele universo, sem o contrapeso do exagero que permeava o filme de 1981 – restou apenas uma casca vazia de sangue e gore. Posso até estar sendo muito crítico, já que esses recursos talvez estejam voltados para uma nova geração, acostumados com a ultraviolência da franquia Saw, mas não consigo deixar de achar as escolhas de Evil Dead um pouco gratuitas.

De todo modo, eu fico triste por não haver nenhuma situação icônica ou algum personagem que emule a canastrice simpática de Bruce Campbell. Não que isso prejudique o resultado final, já que, mesmo com seus problemas, não posso dizer que o filme não atinge a sua proposta, conseguindo se sustentar bem em uma época quando já saíram de moda os filmes de terror com um bando de adolescentes sendo massacrados um a um.

Se você for ao cinema esperando ver mãos de motosserra, viagens no tempo e um terror escrachado, certamente esta nova versão ficará aquém das expectativas. Já vou avisando que, para quem não gosta de filmes de terror, dificilmente esta será uma experiência divertida. Contudo, os fãs de um horror mais atual e que não buscam nada além de alguns sustos descompromissados podem descobrir que talvez Evil Dead mereça ser visto.


Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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