Divagações: Captain Phillips

Apesar da comparação soar meio forçada, sinto que Captain Phillips é para 2013 o que Argo foi para 2012 – e falo sem nenhuma implicação...

Apesar da comparação soar meio forçada, sinto que Captain Phillips é para 2013 o que Argo foi para 2012 – e falo sem nenhuma implicação de que este será o vencedor do Oscar. Afinal, esses paralelos não são muito difíceis de serem traçados, pois ambos são thrillers baseados em fatos reais, conseguem prender você na cadeira e são bons filmes de atores que, apesar de terem uma boa produção, não estavam lá na sua melhor fase.

Porém, ao contrário de Argo, Captain Phillips não é uma obra de um homem só. O brilhantismo está justamente nos conflitos entre protagonista e antagonista, na maneira de se apresentar esse choque que não recai sobre um maniqueísmo, mostrando, mesmo que de modo sutil, que existem dois lados para toda história.

Richard Phillips (Tom Hanks) é o capitão do Minsk Alabama, um navio cargueiro americano que está trafegando pelo Oriente Médio. Ele se coloca em rota de choque com Abduwali Muse (Barkhad Abdi) e seu grupo de piratas somalianos, enquanto cruza o Oceano Índico para aportar em Mombaça, no Quênia. No entanto, o que para ambos era para ser apenas um trabalho de rotina, acaba se torna uma situação totalmente fora de controle.

Sem dúvida, o ponto mais notável deste filme são as atuações de Tom Hanks e, em certo nível, a do próprio Barkhad Abdi – que mesmo sendo um amador consegue se colocar como um contraponto ao nível do primeiro. Hanks entrega um personagem palpável e muito crível, sem o exagero que poderia se esperar nessas situações. Abdi, por sua vez, também se sai muito bem, com um nível de canastrice e pilantragem que, ao invés de atrapalharem, casam muito bem com um papel como esse. Além disso, a interação de ambos é bastante interessante, transformando a trama em uma disputa de astúcia onde cada um joga com o pouco que tem.

O roteiro de Billy Ray é muito bem trabalhado, conseguindo construir bem uma tensão crescente que nos acompanha até os minutos finais do filme, onde cada pequeno acontecimento pode levar a um desfecho trágico. É nesse ponto que o filme acerta em cheio, sendo também o momento em que a atuação de Tom Hanks faz a diferença, mostrando-se frágil o suficiente para gerar empatia, mas sem parecer excessivamente apático.

Ainda assim, não acho que Captain Phillips seja um filme capaz de satisfazer a todos os públicos. As mais de duas horas de projeção podem acabar cansando quem esperava um filme mais enxuto, já que é fácil perceber algumas gordurinhas. A direção de Paul Greengrass, com sua câmera tremida e seus planos fechados, apesar de ser bem dinâmica e ajudar no clima de tensão do filme, às vezes parece meio fora de lugar, querendo injetar uma dose de ação estranha a um filme que é essencialmente dramático.

Apesar de já conhecer muito bem a história do Minsk Alabama e saber exatamente como o filme iria terminar, Captain Phillips conseguiu me prender na cadeira do começo ao fim, pois se trata de um filme sólido e com boas qualidades, mesmo que sem nenhuma excepcionalidade. Sem dúvida, vale a pena conferir, já que esse é um daqueles raros filmes que consegue transpor de um modo muito autêntico a realidade para dentro das telas do cinema, sem distorcer as situações com um romantismo exagerado ou apelar para o sentimentalismo fácil.


Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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