Divagações: The Damned United
28.11.13
Confesso que não é só uma questão de não ter apreço – eu detesto futebol! Ainda assim, eu resolvi dar uma chance a The Damned United. Foi um verdadeiro voto de confiança para o diretor Tom Hooper e o roteirista Peter Morgan, pois os dois têm ótimos títulos no currículo e merecem isso.
Além disso, para meu alívio, a câmera não entra no gramado. Como acontece com Moneyball, por exemplo, o enfoque está nos bastidores do esporte e o filme é – livremente – baseado em fatos reais. Brian Clough (Michael Sheen) é um técnico esquentadinho que levou para a elite do futebol do país um time que estava prestes a ser rebaixado para a terceira divisão. Seu braço direito é Peter Taylor (Timothy Spall), um homem bem mais quieto e prudente, com quem ele tem um rompimento ao ser contratado como técnico do Leeds United.
O motivo da briga entre os dois vai sendo mostrado aos poucos, assim como a crescente rivalidade entre Clough e o antigo técnico do Leeds, Don Revie (Colm Meaney). Com bons princípios, ousadia e certa falta de tato para lidar com as pessoas, Clough é uma pessoa que inspira diferentes tipos de sentimentos, o que garante que The Damned United traga algo interessante e diferente sem precisar pesar no drama.
Para quem gosta do esporte, adianto que há breves cenas de partidas, discussões táticas, brigas com cartolas, torcidas revoltadas, trapaças e momentos históricos. Suponho que alguns fãs sejam até capazes de falar o resultado da partida antes que ele apareça na tela, mas a ideia principal é acompanhar a tensão, com os erros e acertos do técnico pesando cada vez que seu time entra em campo.
Michael Sheen, obviamente, é o destaque e entrega uma excelente atuação, mostrando na tela um personagem complexo e crível. Ele é ajudado por coadjuvantes competentes e pelo roteiro ágil. Ainda assim, ninguém brilha tanto quanto ele e fica claro que boa parte da responsabilidade do filme está sobre as suas costas.
De qualquer modo, The Damned United não consegue fugir de se parecer com outras obras sobre esportes, limitando seu mundo ao do futebol e sem um único personagem feminino que valha a pena. Outros clichês do gênero também estão presentes, especialmente nas figuras do ‘leal’ jogador Billy Bremner (Stephen Graham) e do cartola Sam Longson (Jim Broadbent). A propósito, vale observar que todo o elenco do filme é de primeira categoria.
A produção, no entanto, não é das mais ricas e não adianta procurar por vestígios de um
orçamento avantajado. É tudo muito modesto e o enfoque está mesmo nos personagens e suas histórias. Como a adaptação tomou certas liberdades, o filme tem um humor bastante próprio e consegue transmitir uma tensão moderada, já que é mais importante ver o que acontece entre as partidas do que durante (acredite ou não, os resultados são bem previsíveis).
Como é o meu caso, mesmo quem não gosta de futebol pode aproveitar The Damned United. Afinal, não se trata de uma biografia tradicional – do tipo que coloca o retratado em um pedestal –, nem enaltece as propriedades do esporte, preferindo simplesmente contar uma boa história com bom humor. Isso mostra que é realmente importante dar uma chance para profissionais de qualidade, mesmo quando eles saem da sua zona de conforto.
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