Divagações: Léon

Léon é um daqueles filmes que eu tenho certeza de já ter assistido diversas vezes, mas não consigo me lembrar de ter sentado para ver do...

Léon é um daqueles filmes que eu tenho certeza de já ter assistido diversas vezes, mas não consigo me lembrar de ter sentado para ver do começo ao fim – até agora, pelo menos. Exibições esparsas na televisão, rápidos momentos em que outros estão assistindo, um pouquinho aqui, mais um resto lá. Eu já conhecia toda a história, mas foi importante parar para acompanhar a evolução dos personagens e relembrar os detalhes.

Em um horroroso prédio de Nova York, vive a jovem Mathilda (Natalie Portman), uma menina de 12 anos que odeia sua vida e sua família, com a exceção do irmão mais novo (Carl J. Matusovich), que é seu protegido. Quando homens estranhos liderados por Stansfield (Gary Oldman) vão até o apartamento para acertar contas com seu pai (Michael Badalucco), ela acaba escapando por pouco e pedindo abrigo com um vizinho, Léon (Jean Reno). Mathilda logo descobre que ele trabalha como assassino profissional e quer se tornar uma aprendiz em busca de vingança.

Embora essa premissa possa levar a um filme de ação, Léon não é sobre grandes aulas de tiro e perseguições, mas sobre a relação que se desenvolve entre um homem ignorante e solitário e uma garota inocente, mas cheia de ideias perigosas. O assassino é, sem dúvida, um homem perigoso quando está trabalhando, mas sua afeição por Mathilda o torna absolutamente dócil. A menina traz muitos problemas, mas ele assume essa tarefa por amor.

Com roteiro e direção de Luc Besson, esse é considerado o melhor filme do diretor, mesmo que, na época, tenha sido tratado como um projeto menor. Feito rapidamente entre dois filmes – Nikita e The Fifth ElementLéon abre muito espaço para os atores mostrarem a que vieram. Há muita improvisação (especialmente de Gary Oldman) e cada personagem parece ter um enorme background.

As nuances do trabalho de Jean Reno, por exemplo, são essenciais para que o público não odeie o personagem ou duvide de suas intenções. Ao mesmo tempo, a maior parte da carga de energia e imprevisibilidade fica por conta de Natalie Portman, que é jovem e adoravelmente inconsequente. Sua Mathilda é tão parte do filme quanto qualquer um dos adultos, ao contrário de muitos personagens infantis, que são meras peças para fazer a trama andar.

O detalhe é que Léon não é exatamente um filme realista. Há uma nota constante de exagero e fantasia que me fazem pensar que, talvez, a narrativa esteja sendo feita pela própria Mathilda. O relacionamento entre o relutante professor e a empolgada (ainda que não muito dedicada) aluna é o tema central em uma história onde muita coisa está acontecendo ao mesmo tempo, embora todo o mundo (conhecido) pareça girar ao redor desses acontecimentos.

O mais incrível é que, nesse contexto repleto de maldade, violência e vingança, estamos ao lado de um assassino profissional e de uma garota perturbada. Estamos torcendo por eles porque sabemos que merecem a felicidade, embora ela seja uma meta praticamente inalcançável. Luc Besson fez com que nos apaixonássemos por essas pessoas quebradas, mas absolutamente fantásticas e merecedoras da nossa atenção. Mais do que um suspense, ou um filme sobre crimes, Léon é uma história muito humana, uma obra-prima.


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