Divagações: Moonrise Kingdom

O diretor Wes Anderson tem oito filmes em longa-metragem no currículo – e todos são memoráveis. Ele possui um estilo muito próprio, abso...

O diretor Wes Anderson tem oito filmes em longa-metragem no currículo – e todos são memoráveis. Ele possui um estilo muito próprio, absolutamente encantador e facilmente reconhecível. Com Moonrise Kingdom, isso não é diferente. O elenco é repleto de velhos conhecidos do cineasta e as figuras infantis complexas estão novamente presentes.

Na trama, Sam (Jared Gilman) e Suzy (Kara Hayward) são dois pré-adolescentes problemáticos que se encontram quase ao acaso e começam um relacionamento por correspondência. Os dois vivem em pontas distantes de uma mesma ilha: ele é um escoteiro órfão sob os cuidados do chefe Ward (Edward Norton); ela é a irmã mais velha em uma família em crise, distante do pai (Bill Murray) e consciente que a mãe (Frances McDormand) está tendo um caso com um policial (Bruce Willis). Quando os dois decidem fugir juntos, todos se mobilizam para encontrá-los e o serviço social (Tilda Swinton) é chamado.

Por mais que a trama não seja complexa ou represente uma grande inovação, Moonrise Kingdom consegue se sair bem ao apostar em situações e personagens. Assim, o filme consegue divertir sem subestimar a inteligência do público, colocando um leve exagero (daqueles bem calculados) das reações às personalidades, da geografia ao clima, dos figurinos à trilha sonora (do sempre ótimo Alexandre Desplat). O roteiro, obviamente, é muito bem pensado para abrigar tudo isso sem ficar carregado de clichês, mérito de Anderson e de Roman Coppola.

Além disso, a produção ganha muitos pontos pelo capricho. A edição de Andrew Weisblum garante um ritmo muito bom e não cansa o espectador, sendo um alívio encontrar uma linguagem equilibradamente objetiva e poética em 94 minutos. Os recursos visuais também merecem atenção e dão um charme único, com um toque nostálgico e um tanto quanto mágico. A paleta de cores brinca com o amarelo, o verde e o vermelho.

É estranho como o efeito finalmente surge. Há uma melancolia colorida e uma graça trágica em tudo o que acontece em Moonrise Kingdom. Nenhum dos personagens está vivendo a melhor época de suas vidas e todos têm motivos para sentar e simplesmente chorar. Ao mesmo tempo, eles abraçam a busca pelos jovens apaixonados e embarcam com toda a garra possível em situações forçadas e fantasiosas. É a metáfora da vida que segue em frente sendo aplicada no contexto amplo, não apenas no caso dos protagonistas em fase de amadurecimento.

E os atores levam essa missão a sério. Jared Gilman e Kara Hayward são estreantes esforçados e estão perfeitos em seus papéis. Edward Norton permanece em sua zona de conforto, mas parece mais aberto a ousar. Bill Murray e Frances McDormand funcionam maravilhosamente bem juntos e conseguem se complementar sem ofuscar o outro. Por sua vez, Bruce Willis consegue manter a qualidade geral, enquanto Tilda Swinton, Jason Schwartzman e Harvey Keitel surgem como as mais agradáveis das surpresas.

Moonrise Kingdom, no geral, representa uma excelente adição à carreira de Wes Anderson e deixa a todos esperando por mais. O primeiro amor ganha novas tonalidades e um frescor que a tempos não se via, sendo absolutamente surreal e inocente. Exatamente como deveria ser.

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