Divagações: Dark Places

Com o sucesso de Gone Girl já nas livrarias e a certeza de uma adaptação cinematográfica a caminho, os olhos de muitos produtores se vol...

Com o sucesso de Gone Girl já nas livrarias e a certeza de uma adaptação cinematográfica a caminho, os olhos de muitos produtores se voltaram para a escritora Gillian Flynn. Com a boa recepção alcançada no ano passado com a crítica e o público, agora chega às telas um de seus romances anteriores, Dark Places. É uma aposta com grandes chances de sucesso.

Mas atenção: embora essa história também envolva crimes e um grande mistério, esse não é um filme tão envolvente quanto o anterior. Há mais personagens e, consequentemente, menos tempo para tentarmos entendê-los. Não há tantas reviravoltas, mas é preciso considerar que esse não é exatamente o objetivo. Trata-se de uma investigação feita por uma ‘detetive’ parcial e relutante – e isso não deixa de ser fascinante de acompanhar.

Aos oito anos, Libby Day (Sterling Jerins) sobreviveu a um massacre dentro de sua própria casa, o qual vitimou sua mãe, Patty (Christina Hendricks), e suas duas irmãs mais velhas. O único membro restante de sua família, Ben (Tye Sheridan), foi acusado dos assassinatos e sentenciado a prisão perpétua. O depoimento da menina, mesmo confusa e assustada, foi essencial no julgamento.

Anos depois, Libby (Charlize Theron), sem dinheiro e instável emocionalmente, é contatada por Lyle (Nicholas Hoult), um jovem curioso que está brincando de detetive com alguns amigos – e quer esclarecer o caso da família dela. Assim, ela precisa encarar seu irmão (Corey Stoll), seu pai ausente (Sean Bridgers), uma ex-namorada de Ben (Chloë Grace Moretz/Andrea Roth), um amigo que ele tinha na época (Shannon Kook/J. LaRose) e até uma moça que acusou seu irmão de assédio (Addy Miller/Drea de Matteo). Todos estão mentindo ou têm algo para esconder.

Cheio de detalhes, esse mistério intrincado de Dark Places vai se tornando mais complexo a cada nó que a protagonista tenta desfazer. Ao mesmo tempo, o espectador é levado a acompanhar os acontecimentos daquele dia por meio de uma série de flashbacks. Quando as peças começam a aparecer em seus devidos lugares, é muito tarde para desviar o olhar e uma tragédia está prestes a acontecer.

Para quem leu o livro, a narrativa do diretor e roteirista Gilles Paquet-Brenner é extremamente fiel aos acontecimentos. A maior parte das mudanças envolve personagens menores, causando pouca interferência na trama principal. Contudo, espremer uma história como essa em menos de duas horas tem seu preço. Algumas respostas são óbvias e todas as teorias apresentadas não deixam de ter algum fundamento. Faltam distrações, caminhos errados, portas fechadas.

Para completar, Dark Places não pede que você goste de seus personagens – nem mesmo da protagonista. Eles não são pessoas legais e nem ao menos se esforçam para tal. Não há qualquer tentativa do filme em gerar empatia, o que é uma escolha válida e corajosa, mas também bastante complicada e arriscada. Afinal, passamos a acompanhar pelo mistério em si e não por desejarmos a felicidade ou a infelicidade de alguém.

A história é boa o suficiente para isso? Sim. Não há pontas soltas, tudo é muito redondo. Contudo, o impacto emocional é drasticamente reduzido e o filme se torna mais esquecível. Sem ser tão bom tecnicamente quanto Gone Girl, o que acontece com Dark Places não deixa de ser um pouco triste. Há um bom filme, uma história excelente, diálogos poderosos, um elenco muito competente. Só faltou criar um vínculo com o espectador.

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