Divagações: Serendipity
17.9.15
De vez em quando eu reclamo da falta de comédias românticas nos cinemas atualmente. Contudo, não dá para negar que o gênero foi explorado a exaustão nos anos 1990 e no começo da década seguinte, gerando alguns exemplares nada aconselháveis.
Os fãs de John Cusack devem se lembrar bem dessa época. O ator fez o fantástico (ainda que não romântico) Being John Malkovich; seguido por um dos principais títulos do gênero, High Fidelity; que foi acompanhado pelo esquisitinho, mas razoavelmente bem-sucedido America's Sweethearts; até chegar a Serendipity. Depois disso, nada mais teve muita graça. O que não é à toa, já que o filme não é nem um pouco recomendável.
Jonathan Trager (John Cusack) é um cara comum de Nova York que esbarra acidentalmente em Sara Thomas (Kate Beckinsale) dentro de uma loja lotada, onde todos fazem suas compras de fim de ano. Os dois sorriem, escolhem um mesmo produto, têm suas diferenças, mas acabam saindo para tomar um café juntos. Tudo está bem, mas ela é uma moça supersticiosa que insiste em desafiar o destino – e eles acabam se perdendo sem ter como se comunicar novamente.
Obviamente, há um reencontro, mas ele só acontece cinco anos depois, quando ambos estão prestes a se casar com outras pessoas (Bridget Moynahan e John Corbett). A questão que fica no ar é: será que eles estão realmente destinados a ficarem juntos ou se trata apenas de uma infeliz coincidência?
A verdade é que isso pouco importa. Serendipity é bastante óbvio e força a barra em diversos pontos. Há muitos elementos que são repetidos mais de uma vez, apenas para garantir que tudo precisa se encaixar para que as coisas funcionem bem. Desde o par de luvas comprado no primeiro encontro, o hotel onde o casal se perdeu, a pista onde patinaram, o livro que ela vendeu para um sebo... Tudo circula ao redor dos dois por tempo demais, em encontros e desencontros sem fim.
O casal principal, para completar, está bem perdido. Para John Cusack isso é apenas mais um filme e não dos mais interessantes; para Kate Beckinsale, essa foi uma péssima escolha de personagem. Afinal, enquanto ele é apenas devagar e indeciso, ela é inconstante, pouco coerente, responsável por toda a confusão e está noiva de uma pessoa que não combina nem um pouco com sua personalidade. Nada faz sentido.
A propósito, vale acrescentar que nenhum dos dois protagonistas parece realmente comprometido com as pessoas com quem decidiram se casar, o que já é péssimo por si só. Uma tentativa de desviar a atenção desse tema, concentrar o expectador na busca do casal principal e trazer um pouco de comédia está no personagem de Eugene Levy. Mas isso não deixa de ser um pouco triste.
A direção de Peter Chelsom faz o que pode com os atores, mas é simplesmente convencional e sem sal demais. Para completar, o roteiro de Marc Klein não é dos seus melhores – e ele já não é conhecido por excelentes trabalhos. Com muitos elementos técnicos mantendo o nível de simplesmente ‘razoável’, o filme provavelmente ainda é lembrado pelos nomes conhecidos no elenco, o que talvez tenha sido um bom investimento a longo prazo para os produtores.
Resumindo, quem está bem desesperado por uma comédia romântica nova iorquina talvez se renda a essa produção, mas garanto que há opções melhores disponíveis por aí. Serendipity é forçado, óbvio e nem um pouco apaixonante – o que é uma pena, já que havia potencial para algo bem mais interessante, ainda mais com um título legal como esse.
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