Divagações: American Ultra
19.11.15
Com exceção da ótima entrevista para o Funny or Die e da polêmica distribuição de maconha na Comic-Con desse ano, admito que não acompanhei um material promocional sequer de American Ultra. Assim, fui ao cinema praticamente às cegas ver qual era o dele.
Admito que não sou o maior fã dessas comédias canábicas que vem adquirindo cada vez mais espaço na mídia, mas o fato do filme tentar ser provocativo já o fazia ganhar alguns pontos comigo. Contudo, American Ultra acaba não sendo tão instigante, acabando por mostrar uma obra que, apesar de divertida, não é lá muito inspirada e certamente menos interessante do que todas as ideias da equipe de marketing do filme.
Mike Howell (Jesse Eisenberg) é o maconheiro estereotípico: lento, confuso e desorganizado. Preso a uma cidadezinha do interior devido a violentos ataques de pânico, ele passa os seus dias entre o trabalho em um mercadinho caindo aos pedaços e em seu namoro com Phoebe Larson (Kristen Stewart).
A vida de Mike estaria destinada a mediocridade se não fosse a revelação de que ele havia feito parte de um programa secreto da CIA. O detalhe é que um novo e ambicioso supervisor da organização, Adrian Yates (Topher Grace), montou toda uma operação para assassinar Mike e ‘limpar o portfólio’, para desespero da idealizadora do projeto, Victoria Lasseter (Connie Britton).
Como resultado disso tudo temos uma filme de ação geralmente competente e com a alma de uma comédia romântica – pode-se dizer que a química entre Jesse Eisenberg e Kristen Stewart que já havia funcionado em Adventureland e continua bem por aqui. A produção também faz valer a sua classificação etária de R-17 com um bocado de sangue, humor negro, palavrões e gente sendo morta das formas mais variadas.
Como já disse, não há como negar que o filme é divertido, porém, ele é muitas outras coisas – até demais. American Ultra tenta misturar comédia, ação, drama, romance e um clima de filme indie em doses nem sempre harmônicas, sobretudo porque os atores não conseguem segurar a bola e fazer esse espectro tão grande de emoções funcionar organicamente. Isso fica ainda mais evidente com o vilão da história, pois a atuação de Topher Grace soa um pouco forçada e incapaz de transformar o personagem em uma ameaça respeitável.
O filme também tenta emprestar alguma estética de quadrinhos mais experimentais e lisérgicos, como a obra de Robert Crumb – o que, inclusive, dá origem a uma sequência bastante interessante nos créditos. Porém, falha em trazer isso para o cerne da experiência do filme, transformando esses recursos e referências visuais em algo marginal. Isso, somado a direção não muito madura de Nima Nourizadeh, faz com que o longa-metragem pareça mais barato e amador do que realmente é.
No fim, American Ultra sofre pela ausência de um objetivo claro. É possível ver que há boas ideias, mas as soluções tendem a ser mais óbvias e menos inventivas do que gostaríamos. É uma pena, pois o filme funciona como uma hora e meia de entretenimento descompromissado, mas poderia ter se tornado algo muito mais memorável se tivesse pisado com força no acelerador e abraçado toda a loucura e o deboche sem medo de fazer concessões. Para um ‘stoner movie’, American Ultra é, por vezes, careta demais.
Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle
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