Quando o último filme da série Harry Potter foi dividido em dois, restou a Harry Potter and the Deathly Hallows - Part 2 a triste missão de ser um gigantesco final. Embora tenha agradado a boa parte dos fãs, a produção apresentou um ritmo mais arrastado e perdeu seu impacto com um público mais amplo. E essa mesma sina acomete The Hunger Games: Mockingjay - Part 2.

Para falar a verdade, seu antecessor já havia encontrado alguma resistência com a crítica, um aspecto que só ficou ainda mais evidente. Com os resultados nas bilheterias registrando números abaixo do esperado, ficou ainda mais fácil falar mal da obra. Ao mesmo tempo, não dá para ignorar que esse é o encerramento de uma bem-sucedida franquia que totaliza quatro filmes.

The Hunger Games: Mockingjay - Part 2 começa exatamente no mesmo ponto que o longa-metragem anterior foi encerrado – e é bom ter a memória refrescada, já que a produção não se dá ao trabalho de explicar. O rosto da revolução, Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence), ainda está se recuperando de ferimentos causados por seu amigo (?) Peeta Mellark (Josh Hutcherson), que havia sido sequestrado pelo governo de Snow (Donald Sutherland), mas foi resgatado e agora apresenta sérias confusões mentais.

Por sua vez, Gale Hawthorne (Liam Hemsworth) está extremamente dedicado ao serviço militar, colaborando com os planos de Alma Coin (Julianne Moore), líder do 13º Distrito, e de Plutarch Heavensbee (Philip Seymour Hoffman), ex-organizador dos jogos. Outros personagens marcantes como Finnick Odair (Sam Claflin), Johanna Mason (Jena Malone), Cressida (Natalie Dormer) e Primrose Everdeen (Willow Shields) também marcam presença, mas outros se reduzem a participações especiais de luxo.

Com um elenco inchado e uma revolução em andamento, é esperado que The Hunger Games: Mockingjay - Part 2 traga algumas mortes (e, bom, a série é famosa por isso!). Ao mesmo tempo, o uso e abuso dos efeitos especiais faz com que nenhuma cena seja muito forte, tanto é que o filme conseguiu manter sua classificação PG-13 nos Estados Unidos. Como a protagonista não é exatamente uma guerreira, não se pode esperar por grandes batalhas ou grandes momentos catárticos. Mas isso também não quer dizer que a protagonista seja apática.

Afastada das decisões importantes da revolução e consciente de que é apenas uma peça em um grande tabuleiro, Katniss faz sempre o que pode (e com muita intensidade). Para quem esperava uma infinidade de sequências de ação, isso talvez decepcione, mas é preciso lembrar que esse nunca foi o foco principal da série, que sempre esteve mais voltada para os dilemas de uma adolescente que vive em um mundo muito difícil e que se vê com muito mais responsabilidades do que jamais conseguiu imaginar. Na verdade, as imperfeições e inseguranças da personagem sempre costumaram ser seus grandes atrativos. Não entendo porque isso devesse mudar agora.

Claro que muitos dos problemas desse longa-metragem poderiam ser evitados se não houvesse a divisão. A jornada dos personagens ficaria mais clara (especialmente a de alguns coadjuvantes), haveria mais ação e cada momento seria decisivo. Entretanto, a decisão dos produtores evitou muitos cortes na trama e manteve no roteiro diversos aspectos paralelos e essenciais para que o universo retratado seja crível e amplo. Cai o ritmo, fica (ainda que não integralmente) a fidelidade ao material literal.

Com essas características, The Hunger Games: Mockingjay - Part 2 entrega exatamente o que se poderia esperar dele. O filme encerra as principais pontas soltas da trama, dá um destino definitivo para seus principais personagens e tem uma carga emocional digna de tudo o que conquistou ao longo de seus lançamentos. Para isso, contudo, ele exige de quem o assiste um envolvimento prévio, um preço que nem todos estiveram dispostos a pagar.

Outras divagações:

The Hunger Games

The Hunger Games: Catching Fire

The Hunger Games: Mockingjay - Part 1