Divagações: Moonstruck
5.11.15
Atualmente, é estranho pensar que Moonstruck foi um sucesso em 1987, sendo bem recebido pelo público e pela crítica. A produção ganhou três estatuetas no Oscar (Melhor Atriz, Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Roteiro Original), além de outras três indicações. E o filme é uma comédia romântica estrelada por Cher e Nicolas Cage! Eram outros tempos...
A história, convenhamos, é bem simples. Loretta Castorini (Cher) é uma contadora do Brooklyn, em Nova York. Ela é uma mulher muito prática e que está prestes a se casar com Johnny Cammareri (Danny Aiello). Quando ele faz uma viagem, contudo, acaba a incumbindo de uma missão que pode acabar com o noivado: ela precisa convencer o irmão dele, Ronny (Nicolas Cage), a comparecer ao casamento.
O detalhe dessa trama, no entanto, são os personagens pouco convencionais. Loretta é absolutamente certinha, mas é extremamente supersticiosa e quer um casamento na igreja simplesmente porque o anterior (ela é viúva) aconteceu em um cartório e isso dá azar. Ela também é muito apegada à própria família, mas não se importa nem um pouco com o fato de que a mãe de seu noivo está morrendo. Já Ronny é um cara amargurado e com sérias tendências violentas, mas que se transforma com a simples possibilidade de levar uma mulher para assistir a uma ópera.
Para completar, toda a questão da Lua – que rendeu o título do filme – envolve lembranças do romance entre os pais da protagonista, Cosmo (Vincent Gardenia) e Rose (Olympia Dukakis). Ele, contudo, está traindo a esposa com Mona (Anita Gillette). Ou seja, nada faz muito sentido.
De certa forma, Moonstruck não deixa de ser um filme sobre as peças que a vida prega para todos nós. Quando o filme começa, tudo parece acertado para aquela família, mas há diversas rachaduras e outros pequenos problemas que vão aparecendo ao longo do tempo. Eles não são exatamente pessoas normais? Não, mas quem é?
O filme também tem seus méritos ao levar a história para a comunidade italiana de Nova York sem fazer muito esforço. Basicamente, a música de abertura “That's Amore” já deixa tudo bem claro. Na verdade, assim como a personagem principal, tudo no filme é bem direto e sem complicação (inclusive no tal romance que ela vive), embora nada faça muito sentido se você for realmente parar para pensar.
Embora o retrato da cidade e da comunidade pareça ser muito bom, principalmente porque as pessoas têm profissões comuns, vão ao cabeleireiro e caminham pelas ruas, há algo forçado em Moonstruck. É quase como se quisessem dar uma aura de contos de fada para algo que tem os dois pés bem firmes no chão. Talvez alguns dos coadjuvantes acreditem que isso seja possível, mas a protagonista em si jamais embarcaria no conceito.
Para completar, Cher está tentando ser o mais natural possível, enquanto Nicolas Cage está absolutamente exagerado e fazendo uma voz estranha. Ao mesmo tempo, Olympia Dukakis é quem traz a maior carga de realismo e dramaticidade, sendo contraposta a Vincent Gardenia interpretando um homem comicamente desonesto e incomodado com isso. É quase como se o filme procurasse algum equilíbrio ao contrapor mulheres reais (ou tão reais quanto possível) a homens de mentirinha, mas que estão bem longe de qualquer ideal romântico – e, mesmo assim, elas simplesmente os amam.
Moonstruck é involuntariamente engraçado, mas traz aspectos que seriam interessantes de se ver em um filme atual. Há algo nele que lembra uma série de televisão (o que não deixa de fazer sentido), além de várias boas intenções não totalmente realizadas. Ainda bem que os anos 1980 existiram e produziram coisas assim.
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