Divagações: The Duchess

Keira Knightley adora fazer filmes de época. No meio da filmografia da atriz, The Duchess pode passar despercebido – mas não deveria. D...

Keira Knightley adora fazer filmes de época. No meio da filmografia da atriz, The Duchess pode passar despercebido – mas não deveria. Dirigido pelo inexperiente e praticamente desconhecido, Saul Dibb, a produção traz uma história baseada na vida real de uma aristocrata do século 18 que se envolve com política e com um político em especial.

Georgiana (Keira) é uma moça rica que vê com bons olhos seu casamento com um duque (Ralph Fiennes). Apesar de não gostar muito das obrigações matrimoniais, ela aproveita uma vida de riqueza, faz suas extravagâncias, dita moda, começa a ter um papel político e consegue se transformar em uma mulher influente. Na sua vida pública, tudo vai muito bem.

Dentro de casa, no entanto, ela não é tão feliz. A princípio, seu marido não parece se importar de viver a sua sombra, mas as cobranças dele – que exige um filho – começam a prejudicar o casamento. Além disso, a presença de uma amiga de Georgiana na casa, Bess Foster (Hayley Atwell), deixa os atritos expostos. E, para completar, um amigo da juventude dela, Charles Grey (Dominic Cooper), entra para a política, misturando um pouco as coisas.

Pouco romântico, The Duchess pode pegar de surpresa um espectador que procure por uma trama ‘água com açúcar’. Esse filme, na verdade, é um drama muito bem construído e interessante principalmente para quem se interessa por história ou outros temas relacionados, como o papel da mulher na sociedade.

A trama traz personagens cheio de defeitos e que tentam fazer o possível dentro das regras daquele período. Por mais que a protagonista pareça muito ‘avançada’ em questões políticas, ela não deixa de defender os interesses da aristocracia. Ela é retratada como uma mulher com ideais feministas e é muito vocal com suas opiniões liberais, ao mesmo tempo em que aceita o fato das mulheres não terem direito ao voto e que se adequa às inúmeras infidelidades do marido.

Outro fator interessante é que, embora ela pareça conhecer muito bem as normas sociais e se comporte maravilhosamente em público, Georgiana tem dificuldades em entender os anseios do próprio marido e não consegue dialogar adequadamente com ele (o que poderia ter resolvido muitos problemas).

The Duchess consegue, ainda, reunir um elenco fantástico (Charlotte Rampling está ótima, aliás), mas vale observar que tudo gira ao redor da personagem de Keira Knightley. Ralph Fiennes, por exemplo, entrega uma performance irrepreensível, cheia de camadas e sutilezas. Mesmo assim, seu personagem simplesmente não é tão interessante. Quanto aos demais atores, a maior parte tem pouco tempo de tela e não consegue demonstrar um trabalho mais complexo, com a possível exceção de Hayley Atwell.

O grande destaque, de qualquer modo, fica por conta dos figurinos e cabelos. Os vestidos e as perucas usados ao longo do filme são magníficos, exagerados e retratam a opulência em que vivia a nobreza daquela época. Os cenários, obviamente, seguem a tendência, com devido destaque para a residência da duquesa. Assim, não é sem motivo que o filme recebeu um Oscar pelos figurinos, além de uma indicação a Melhor Direção de Arte.

The Duchess é um filme impactante e não deixa de ter sua beleza, principalmente quando sua protagonista escorrega em noções ingênuas sobre o mundo que a cerca. É muito mais cruel que as adaptações de obras literárias da época, mas também é mais real.

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