Divagações: Xanadu

“In a word: Xana-don't!”. Por mais que, hoje, essa resenha em uma frase da Esquire pareça engraçada, ela deve ter sido um baque compl...

“In a word: Xana-don't!”. Por mais que, hoje, essa resenha em uma frase da Esquire pareça engraçada, ela deve ter sido um baque complicado para os envolvidos em Xanadu, um musical disco que tinha tudo para ser um sucesso, afinal, estamos falando de Olivia Newton-John como a protagonista feminina, além da ilustre participação de Gene Kelly nesse que se tornou o último longa-metragem do ator.

Atualmente, a produção é tratada como cult e chega a ser adorada por um público encantado com suas cores, seus efeitos especiais exagerados, suas músicas dançantes e sua premissa fantástica. Não que as coisas estivessem assim tão ruins em 1980. Xanadu conseguiu escapar do fracasso nas bilheterias de cinema e alcançou números bons nas rádios, vendendo com vigor sua trilha sonora. Ainda assim, a recepção da crítica deixou um gosto amargo relacionado com o musical.

No começo, somos apresentados a Sonny Malone (Michael Beck), um jovem e talentoso pintor que não gosta da ideia de ser empregado – ainda mais pelo autoritário Simpson (James Sloyan) –, mas também não tem disciplina o suficiente para trabalhar como freelancer. A princípio, seu encontro com a misteriosa Kira (Olivia Newton-John) parece apenas comprovar porque as coisas estão indo para o caminho errado, mas ela o coloca em contato com o empresário Danny McGuire (Gene Kelly), o que muda a vida de ambos.

O detalhe é que Kira é apresentada como uma figura mística, que patina pela cidade, some e aparece quando bem entende, canta por aí e brilha (sim!). Nesse fiapo de história, o mistério de sua existência é resolvido de uma forma bastante patética e o casal principal nunca chega a convencer. A cena mais romântica, inclusive, é uma animação colocada no meio do filme e que não faz o maior sentido (reza a lenda que a música foi feita especialmente para o filme e acabou sendo acrescentada posteriormente às filmagens e da maneira mais barata possível).

Resumindo, o filme é uma bagunça. Xanadu é uma desculpa para colocar Olivia Newton-John em um papel de mulher inalcançável, embora a carreira dela nunca tenha exatamente decolado nos Estados Unidos. Na principal sequência de Gene Kelly, ela parece fora de lugar e forçada. Aliás, a coreografia de sapateado é bastante simples e está fora de sincronia com a música. Seria terrível se não fosse simplesmente triste.

Para falar a verdade, o fato de a produção ter sobrevivido tanto tempo é derivado principalmente da identificação da comunidade gay (ainda que o filme não tenha essa intenção) e das músicas que, vamos combinar, são deliciosamente grudentas. De certo modo, vale mais a pena comprar a trilha sonora que o DVD.

Mas é claro que eu muito provavelmente esteja sendo simplesmente uma crítica mal-humorada. Acredito que Xanadu não é um bom filme – e está muito longe de sequer se parecer com um. Contudo, ele é absurdo e (a longo prazo) acabou ganhando pontos por isso. Suas falhas, os figurinos absurdos e os exageros dos anos 1980 o tornam uma caricatura de sua própria época e permitem que, 35 anos depois, o filme seja visto com bom humor. Xana-dance!

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