Você provavelmente já viu muitos produções contando o início de um relacionamento, os primeiros problemas e a forma como os casais resolvem suas dificuldades e ficam juntos para sempre. Não é sempre assim? Apesar do título e de todo o ar de comédia romântica que parece emanar de Celeste & Jesse Forever, esse filme não é sobre nada disso.

Celeste (Rashida Jones, que também é uma das roteiristas) e Jesse (Andy Samberg) se conhecem desde a infância e nunca passaram um tempo significativo separados. Os dois eram melhores amigos, começaram a namorar, acabaram se casando e, agora, estão se divorciando. Mesmo depois que o relacionamento chegou ao fim, eles continuam saindo regularmente, moram na mesma casa (ainda que com entradas independentes) e raramente são vistos separados. A princípio, isso é muito legal, mas seus amigos Beth (Ari Graynor) e Tucker (Eric Christian Olsen) – que, aliás, estão se casando – acham tudo muito bizarro e começam a ficar irritados com essa proximidade toda entre o ex-casal. Mas é bom manter a amizade depois que o amor acaba, certo?

A princípio, você é tentado a ficar ao lado da perspectiva dos protagonistas, mas as fissuras começam a aparecer aos poucos. Celeste & Jesse Forever é um filme muito bom em criar expectativas para depois quebrá-las. Assim como a construção que Celeste acha ser extremamente feia, tudo depende das circunstâncias e do ponto de vista.

Vou citar mais um exemplo. Um dos pontos de atrito envolve o momento profissional de cada um. Jesse é um artista, mas está vivendo um bloqueio criativo e parece não estar se esforçando para sair do buraco onde se encontra. Celeste está lançando um livro, tem uma empresa de consultoria com seu sócio Scott (Elijah Wood) e conseguiu uma nova cliente, a popstar Riley (Emma Roberts). Com o tempo, no entanto, vemos o descontentamento dela com seus resultados profissionais e diversos tropeços causados pela falsa sensação de segurança. Ele, por sua vez, só estava realmente precisando de um tempo e de uma boa motivação.

Outra questão é a capacidade de cada um de seguir em frente e iniciar novos relacionamentos. Ambos estão com medo de conhecer novas pessoas. Eles sabem que o casamento acabou, mas o outro ainda é importante demais. Entre ser feliz, sentir segurança e não querer magoar sobra pouco espaço para se abrir para novas experiências. Até que o destino (leia-se: roteiro) decide forçar um pouco a barra.

De forma geral, Celeste & Jesse Forever é um filme muito bem construído estruturalmente. Ele amarra muito bem todas as pontas e traça um caminho perfeitamente crível para seus protagonistas. Também consegue manter o público cativado e atento na trama, principalmente ao manter a incerteza sobre qual deveria ser o destino dos personagens. Eles devem mesmo se separar? Vão voltar a ficar juntos? Existe algo que ainda não sabemos?

Ainda assim, há algo de errado com os coadjuvantes. Eles são pessoas vazias e de personalidades planas, sem uma motivação real. O mundo onde tudo se passa acaba parecendo uma versão exagerada da nossa realidade, gerando uma sensação de descrença irreparável. Em certos momentos, até os protagonistas acabam sendo levados por essa versão mais absurda e maluca das coisas. É como se existisse a ideia de transformar o filme em uma comédia abobada, mas o plano acabou sendo descartado sem que algumas sequências fossem repensadas.

Melhor como ideia que como um produto acabado, Celeste & Jesse Forever é um filme que funciona muito bem se você está vivendo (ou viveu recentemente) um momento da vida que permite uma identificação. Há quem tome um dos lados do casal e faça uma interpretação diferente da minha, mas acredito que não há certos ou errados por aqui. Relacionamentos acabam, mas esse chegou ao fim e recebeu um ponto final antes mesmo de seus 'participantes' estarem prontos. E esse é um filme sobre como (não) é possível seguir em frente mesmo com o coração em outro lugar.