Divagações: The Gambler

Mark Wahlberg é um cara que se esforça, mas já aprendeu seus limites em Hollywood. Ele não é um dos melhores atores, embora se comprome...

Mark Wahlberg é um cara que se esforça, mas já aprendeu seus limites em Hollywood. Ele não é um dos melhores atores, embora se comprometa com seus projetos e sempre cumpra o prometido. No caso de The Gambler, ele assumiu o que provavelmente foi um dos maiores desafios de sua carreira e fez o máximo para que a experiência valesse a pena para o espectador – e ele, mais uma vez, consegue. Por mais que muita gente não olhe duas vezes para o filme, a produção merece uma atenção especial.

Refilmagem de um longa-metragem de 1974 estrelado por James Caan (e que, segundo a lenda, é um retrato autobiográfico do roteirista James Toback), o filme tem um texto esperto assinado por William Monahan, que não deixa pontas soltas na história, mas permite a presença de brechas para diferentes interpretações sobre os personagens, especialmente o protagonista. Já a direção é do promissor Rupert Wyatt, que aposta em um visual sujo e estiloso e em um ritmo bem demarcado – mas não rápido demais.

A história de The Gambler acompanha o professor de literatura Jim Bennet (Mark Wahlberg). Ele é viciado em jogo e suas dívidas começam a sair de controle – a ponto de seu principal agiota decidir suspender o crédito. Para tentar pagar, ele continua a emprestar dinheiro, inclusive da própria mãe, Roberta (Jessica Lange), e a jogar, mas a bola de neve só aumenta. Como se não bastasse, ele se envolve com uma aluna Amy Phillips (Brie Larson) que também trabalha em um cassino.

A princípio, não há nada de novo nessa trama. Há desespero, ameaças, tramoias e tudo o que se pode esperar de um viciado que saiu de controle. Contudo, há também a vida do protagonista fora dos cassinos (ele não dorme muito, aparentemente). Jim tem um passado que não parece levar para esse caminho, também tem muito a perder e não parece estar realmente preocupado com as consequências de seus atos. Tem alguma coisa errada e o espectador é convidado a tentar descobrir a peça que está faltando nesse quebra-cabeça.

The Gambler, contudo, não é um filme brilhante. Embora a produção tenha feito uma aposta acertada na forma como conduziu o personagem principal, essa é praticamente a única coisa legal do filme. Brie Larson faz o seu melhor, mas sua personagem parece ingênua demais para alguém naquela posição. Para completar, todos os agiotas parecem cães que ladram, mas não mordem de verdade. Eles até sugerem ter carinho e respeito pelo personagem de Wahlberg, quase como se desejassem que ele saísse da situação toda bem, sem nenhum arranhão (ok, eles batem um pouco).

Essa impressão é incômoda e quebra de uma maneira irreparável a construção da tensão do filme, que deveria ser crescente até atingir o ponto máximo nas cenas finais. Na prática, o espectador começa a simplesmente tentar adivinhar o que ele vai fazer para sair da situação, já que é certeza que as coisas vão dar certo no final. O caminho vale a pena ser visto, mas fica a sensação de que a construção do filme poderia ter sido bem melhor.

Indicado para um domingo chuvoso, The Gambler é um filme que faz apenas o que promete, mas que não arrisca tanto quanto deveria e evita criar expectativas altas demais para si mesmo. Há potencial e entretenimento inteligente, mas apenas uma fagulha de autenticidade.

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