Divagações: Hoje Eu Quero Voltar Sozinho
4.10.16
Filmes sobre adolescentes costumam cair em um dilema complicado. De um lado, eles podem abusar tanto de uma ingenuidade inexistente quanto de uma sexualidade exagerada, subestimando seu público e planificando seus personagens. De outro, podem mergulhar em dramas profundos e exagerados, perdendo a leveza que a idade traz – ainda que ela venha com sua dose de melodrama – ou exagerar na falta de comprometimento, sumindo com qualquer dose de sensibilidade. São equilíbrios difíceis de manter, principalmente porque os próprios adolescentes não são exatamente exemplos de balanceamento e sensatez.
Hoje Eu Quero Voltar Sozinho é um filme que não opta por nenhum desses quadrantes, mirando justamente no desafio impossível do retrato acurado. Assim, não é de surpreender que o diretor e roteirista Daniel Ribeiro não tenha acertado em cheio no alvo, mas preciso admitir que ele chegou bem perto disso. E de uma forma absolutamente doce.
A história se desenrola ao redor de Leonardo (Ghilherme Lobo), um rapaz cego que está travando uma batalha ainda mais difícil que o habitual por sua independência. Ele convive diariamente com sua melhor amiga de infância, Giovana (Tess Amorim), que, por sua vez, sente-se relativamente confortável com o estado atual das coisas e teme as mudanças que estão prestes a acontecer. A relação entre os dois é relativamente harmoniosa – até a chegada de um novo aluno na escola, Gabriel (Fabio Audi). Ao não se enquadrar com o grupo que gosta de fazer piadas com Leonardo, ele acaba se enturmando com os dois amigos de infância, trazendo novos questionamentos para ambos.
Uma coisa que me incomoda um pouco (mas confesso que sou bem chata com isso) é a idade do elenco. A produção, lançada em 2014, é baseada em um curta-metragem de 2010 com os mesmos atores que, convenhamos, ficaram um pouco velhos para andarem por aí vestindo uniforme de colégio e vivendo as felicidades e agruras dos primeiros romances. Mas ainda está em uma faixa etária que consigo relevar! Então, sigo em frente.
O que considero particularmente interessante sobre Hoje Eu Quero Voltar Sozinho é que o filme pode se passar em quase qualquer cidade brasileira. Os personagens andam a pé ou vão de bicicleta para a escola, aproveitando o caminho para interagirem. Há algumas discrepâncias tecnológicas – todo o ambiente da escola parece ter ficado para trás no tempo –, mas nada que prejudique a experiência. Na verdade, o resultado é um tempo difícil de situar, que mistura a nostalgia dos seus tempos de escola com dilemas contemporâneos.
Essa sensação, aliás, é estimulada pela bela fotografia de Pierre de Kerchove. O mundo cinza é acompanhado por cores em momentos especiais e a luz parece sempre ofuscar ou apagar o que deveria ser visto com mais cuidado. Os personagens não estão vivendo o que consideram ser a época mais feliz de suas vidas, mas eles estão descobrindo um mundo novo dentro de si mesmos.
Charmoso e surpreendente a sua própria maneira, Hoje Eu Quero Voltar Sozinho é aquele filme que parece ter poucas pretensões, mas que, na verdade, está fazendo muita coisa a cada instante. Perto de outros filmes sobre amadurecimento, ele se destaca pela sensibilidade e também por não dar todas as respostas. Os protagonistas ainda terão muito a enfrentar em sua vida escolar (e emocional), mas o que vivem nesse recorte é marcante por si só.
Hoje Eu Quero Voltar Sozinho é um filme que não opta por nenhum desses quadrantes, mirando justamente no desafio impossível do retrato acurado. Assim, não é de surpreender que o diretor e roteirista Daniel Ribeiro não tenha acertado em cheio no alvo, mas preciso admitir que ele chegou bem perto disso. E de uma forma absolutamente doce.
A história se desenrola ao redor de Leonardo (Ghilherme Lobo), um rapaz cego que está travando uma batalha ainda mais difícil que o habitual por sua independência. Ele convive diariamente com sua melhor amiga de infância, Giovana (Tess Amorim), que, por sua vez, sente-se relativamente confortável com o estado atual das coisas e teme as mudanças que estão prestes a acontecer. A relação entre os dois é relativamente harmoniosa – até a chegada de um novo aluno na escola, Gabriel (Fabio Audi). Ao não se enquadrar com o grupo que gosta de fazer piadas com Leonardo, ele acaba se enturmando com os dois amigos de infância, trazendo novos questionamentos para ambos.
Uma coisa que me incomoda um pouco (mas confesso que sou bem chata com isso) é a idade do elenco. A produção, lançada em 2014, é baseada em um curta-metragem de 2010 com os mesmos atores que, convenhamos, ficaram um pouco velhos para andarem por aí vestindo uniforme de colégio e vivendo as felicidades e agruras dos primeiros romances. Mas ainda está em uma faixa etária que consigo relevar! Então, sigo em frente.
O que considero particularmente interessante sobre Hoje Eu Quero Voltar Sozinho é que o filme pode se passar em quase qualquer cidade brasileira. Os personagens andam a pé ou vão de bicicleta para a escola, aproveitando o caminho para interagirem. Há algumas discrepâncias tecnológicas – todo o ambiente da escola parece ter ficado para trás no tempo –, mas nada que prejudique a experiência. Na verdade, o resultado é um tempo difícil de situar, que mistura a nostalgia dos seus tempos de escola com dilemas contemporâneos.
Essa sensação, aliás, é estimulada pela bela fotografia de Pierre de Kerchove. O mundo cinza é acompanhado por cores em momentos especiais e a luz parece sempre ofuscar ou apagar o que deveria ser visto com mais cuidado. Os personagens não estão vivendo o que consideram ser a época mais feliz de suas vidas, mas eles estão descobrindo um mundo novo dentro de si mesmos.
Charmoso e surpreendente a sua própria maneira, Hoje Eu Quero Voltar Sozinho é aquele filme que parece ter poucas pretensões, mas que, na verdade, está fazendo muita coisa a cada instante. Perto de outros filmes sobre amadurecimento, ele se destaca pela sensibilidade e também por não dar todas as respostas. Os protagonistas ainda terão muito a enfrentar em sua vida escolar (e emocional), mas o que vivem nesse recorte é marcante por si só.
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