Divagações: Kill Your Darlings

Um dos queridinhos dos festivais em 2013, com participações em Sundance, Veneza, Toronto, Nova York, Londres e até no Rio de Janeiro, Kil...

Um dos queridinhos dos festivais em 2013, com participações em Sundance, Veneza, Toronto, Nova York, Londres e até no Rio de Janeiro, Kill Your Darlings passou praticamente batido nos cinemas nacionais, estreando em poucas salas e em poucas cidades. Não que isso não seja compreensível, já que o único apelo para um público mais amplo está no elenco. A temática é arriscada e a história – baseada em fatos reais – é distante para a maioria dos brasileiros.

Passado na década de 1940, o filme traz os primeiros encontros entre uma série de grandes escritores do período, todos ainda na universidade. A narrativa se dá a partir do olhar (inicialmente) ingênuo de Allen Ginsberg (Daniel Radcliffe), que enfrenta problemas em casa com uma mãe doente (Jennifer Jason Leigh), além da pressão de ter um escritor famoso como pai (David Cross).

Estudando em Columbia, Allen se encanta com o colega Lucien Carr (Dane DeHaan) e com os novos amigos que ele lhe apresenta, especialmente William Burroughs (Ben Foster) e Jack Kerouac (Jack Huston). No entanto, sua paixão esbarra na presença do possessivo David Kammerer (Michael C. Hall) e de um assassinato cruel.

Embora a história de todas essas pessoas seja interessante para quem gosta de literatura e da geração beatnik, o apelo geral de Kill Your Darlings é muito restrito e a realização do filme só foi possível devido aos esforços do diretor e roteirista John Krokidas, que assina o texto com Austin Bunn. Esse é o primeiro longa-metragem de Krokidas, que lutou durante muitos anos para conseguir levar essa história para as telas – em um momento, ele chegou a escalar Chris Evans, Jesse Eisenberg e Ben Whishaw, mas problemas com financiamentos atrasaram o projeto.

Assim, não dá para negar que se trata de um filme feito com muito amor e capricho. As atuações demonstram um elenco comprometido e disposto a arriscar. Obviamente, o filme atraiu muita atenção da mídia pelas cenas de relacionamentos homossexuais, a maior parte envolvendo Radcliffe. Contudo, isso não deveria ser óbvio. Todas as sequências são tratadas com naturalidade pelos personagens (e seria muito estranho se não fosse o caso!) e funcionam muito bem dentro do contexto dramático.

Além disso, queria destacar o trabalho de Dane DeHaan. Ao lidar com o personagem mais problemático, confuso e misterioso de Kill Your Darlings, ele consegue entregar muita coisa com olhares expressivos e uma linguagem corporal bem estudada. Ele se destaca ao lado de um Daniel Radcliffe competente e, principalmente, de um Michael C. Hall trabalhando no automático.

Mas o filme não é totalmente dependente das atuações. O cenário criado funciona muito bem ao colocar os personagens em um contexto privilegiado. Fica claro que há uma guerra acontecendo enquanto esses jovens querem mudar o mundo com palavras bonitas e o uso indiscriminado de drogas, ao mesmo tempo em que desperdiçam o dinheiro que seus pais estão gastando com a universidade. E eles são mentes brilhantes que vão realmente enriquecer o mundo com o que estão produzindo. Então, como julgar essas maluquices?

Kill Your Darlings é uma tentativa de não julgar, mas de amar os personagens. O filme traz um contexto em que defeitos fazem parte de um processo criativo interminável e cada tropeço se transforma em um aprendizado. É uma história bonita e contada da forma certa.

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