Divagações: The Girl on the Train

Com o sucesso de Gone Girl , em 2014, não foram poucos os estúdios tentando encontrar um novo thriller de mistério para aproveitar essa on...

Com o sucesso de Gone Girl, em 2014, não foram poucos os estúdios tentando encontrar um novo thriller de mistério para aproveitar essa onda. Mas, até agora, a obra ainda não encontrou um sucessor espiritual a altura. Adaptar o bem-sucedido romance de Paula Hawkins para o cinema parecia uma aposta certa para saciar a sede dos que sentiam falta de ver o gênero bem representado nas grandes telas – e, quem sabe, de quebra começar bem uma nova temporada depois de um verão cheio de títulos decepcionantes.

The Girl on the Train acompanha a história de Rachel (Emily Blunt), que após o fim de seu casamento vive os seus dias atormentada pelo passado, apoiando-se no álcool para continuar vivendo. Nutrindo um ódio por Anna (Rebecca Ferguson), a nova companheira de seu ex-marido, Tom (Justin Theroux), Rachel encontra conforto ao observar a vida de uma de suas antigas vizinhas, a jovem Megan (Haley Bennett) pela janela do trem que pega todos os dias. Porém, quando Rachel acorda após uma bebedeira e sem memórias da noite anterior, ela se vê envolvida na investigação do desaparecimento repentino de Megan, o que a força a buscar respostas para entender seu próprio envolvimento na situação.

Com bons valores de produção, uma equipe competente, atuações densas e uma temática que é bastante relevante hoje em dia, este filme tinha potencial para ser realmente impactante. Infelizmente, sinto que a produção falha em se conectar emocionalmente com seus espectadores (ou ao menos comigo, devo dizer), sendo incapaz de realmente produzir a empatia que é fundamental em uma obra de mistério.

Para uma trama que requer que nós se importemos com a protagonista, The Girl on the Train comete o erro de apresentar um rol de personagens absolutamente detestáveis. São pessoas que não apenas cometeram erros em suas vidas, mas que insistem em se manter na mesma miséria com pouco ou nenhum grau de redenção. Isso é mais enervante se considerarmos que o filme trata de temas densos, como relacionamentos abusivos, mas ao mesmo tempo coloca como protagonistas três mulheres que se deixam definir totalmente por suas relações amorosas com homens e por seus papéis de maternidade.

O mistério, por sua vez, apesar de ter seus pontos fortes e algumas viradas interessantes, parece um pouco 'jogado' e mesmo desenvolvimentos coerentes dependem de revelações repentinas e arbitrárias sem muita construção prévia. O roteiro não é capaz de nos fazer querer ver o filme novamente para observar os detalhes que deixamos passar em um primeiro momento – justamente porque a impressão é de que não há nada notável a ser observado.

Aliás, se citei Gone Girl anteriormente foi por um bom motivo. The Girl on the Train se apropria de muita coisa da obra de David Fincher. Da estética ao narrador não confiável, passando pela narrativa com idas e vindas no tempo, é muito fácil perceber as influências ostentadas por este filme – o que não seria de todo mal, não fossem certos excessos que deixam The Girl on the Train sem uma identidade própria.

Esse resultado não deixa de ser uma pena, uma vez que eu realmente gostei de The Help, outro trabalho do diretor Tate Taylor. Por lá, justamente, há uma energia e uma vontade que este filme carece, ainda que fosse para servir de contraponto para toda a depressão e melancolia que permeia o longa-metragem (até mesmo em sua resolução).

Todos esses problemas acabam se somando para transformar um filme com muito potencial em algo mediano. Claro que existem pontos fortes e é importante frisar que The Girl on the Train nunca chega a ser um filme ruim, por mais que faltam coisas que o tornem memorável ou genuinamente interessante. Se você gostou do livro que deu origem ao filme, talvez valha a pena ver pela curiosidade (ainda que não tenha ouvido muitos elogios ao trabalho de adaptação), mas tendo em vista todo o contexto, The Girl on the Train me parece completamente dispensável.

Outras divagações:
The Help

Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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