Expectativas são engraçadas. Eu li tantas coisas ruins sobre The Marvels – as motivações não fazem sentido, o tom do filme não é bem definido, a trama é boba etc. – que fui para o cinema esperando por uma bomba. E não devo ter sido a única, já que me deparei com uma sala de cinema meio vazia (ou meio cheia?), algo incomum considerando a estreia recente e o padrão para uma produção do estúdio.

Lá pelas tantas, contudo, eu percebi que estava me divertindo e que várias daquelas coisas ditas anteriormente não faziam muito sentido. O que aconteceu, então? Em primeiro lugar, é preciso admitir que este, obviamente, não é um filme perfeito – mas ficou evidente que seus defeitos estão sendo considerados de forma potencializada, enquanto as qualidades estão sendo ignoradas.

Em grande parte, acredito que seja uma questão de “timing”, pois já estamos saturados de histórias de heróis e, mais especificamente, cansados da fórmula narrativa da Marvel. Outro aspecto que me vem à mente é o próprio preconceito com produções do gênero protagonizadas por mulheres (infelizmente, não tenho como medir o peso disso na recepção do longa-metragem).

The Marvels reúne três personagens já conhecidas, de modo que ele exige um conhecimento prévio não apenas dos filmes, mas também das séries do estúdio. Carol Danvers (Brie Larson) é uma capitã muito, muito, muito poderosa que vive no espaço com seu “gato” e não tem relacionamentos muito bons na Terra. Monica Rambeau (Teyonah Parris) é uma capitã que sempre leva pauladas da vida, mas dá um jeito de se reerguer, ainda que permaneça com o coração machucado. E Kamala Khan (Iman Vellani) é uma menina com muita energia, que sonha em viver grandes aventuras com sua heroína favorita. Já deu para perceber que alguém está destoando no grupo.

Embora cada uma delas tenha sua própria vida, elas são forçadamente conectadas quando a líder política Dar-Benn (Zawe Ashton) resolve utilizar um poderoso bracelete – que é idêntico ao de Kamala – para salvar seu planeta e, de quebra, vingar-se de Carol. Como as três heroínas são capazes de manipular luz de diferentes formas, a cada vez que usam seus poderes ao mesmo tempo, elas trocam fisicamente de lugar.

Com isso, The Marvels usa de uma premissa simples para explorar a dinâmica (propositalmente não muito harmoniosa) entre suas protagonistas e criar cenas de luta divertidas. O recurso funciona porque, de outra forma, elas poderiam derrotar qualquer outro “inimigo” sem muitos problemas, mas também porque força Carol Danvers a criar laços e falar sobre sua vida no espaço, dando uma nova dimensão a uma personagem que, de outra forma, seria apenas sisuda e chata.

Além disso, com o tempo de tela dividido, Kamala consegue trazer comédia sem incomodar demais (ou talvez eu seja simplesmente muito velha para lidar com uma pessoa tão cheia de energia). Em contrapartida, nem mesmo os ares de protagonista conseguem salvar Monica Rambeau, que segue sendo apenas uma enciclopédia de termos científicos rocambolescos, usados para explicar a “ciência” envolvida no filme.

De qualquer modo, The Marvels consegue ser engraçado e trazer um entretenimento perfeitamente aceitável. Não se trata de uma grande obra-prima e está longe de ser a melhor coisa que o estúdio já levou aos cinemas – mas também está longe de ser a pior. Considerando que vamos começar a temporada de produções “sérias”, que aspiram premiações, esta é uma boa opção para quem quer apenas curtir uma tarde divertida.

Outras divagações:
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Captain America: The First Avenger
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Captain Marvel
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Doctor Strange in the Multiverse of Madness
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Guardians of the Galaxy Vol. 2
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Iron Man 2
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