Divagações: Wicked: Part I
19.11.24Dentre os musicais de grande popularidade que marcaram época, Wicked é um dos que nunca tive a oportunidade de assistir ao vivo. Pelo menos...
19.11.24
Dentre os musicais de grande popularidade que marcaram época, Wicked é um dos que nunca tive a oportunidade de assistir ao vivo. Pelo menos aos paulistas resta o consolo de uma nova temporada da montagem em breve, impulsionada pelo lançamento do filme. Assim, por enquanto, tive de me contentar com algumas cenas avulsas e o álbum do elenco original.
De qualquer modo, tenho plena consciência da importância que essa peça tem para seus fãs e de como fazia falta torná-la mais acessível ao público. No entanto, adaptações de musicais sempre são uma faca de dois gumes: ao mesmo tempo em que podem expandir o alcance da obra para quem jamais teria acesso a uma boa montagem teatral, frequentemente enfrentam uma recepção negativa e, muitas vezes, parecem perder o ponto do formato.
Assim, depois de mais de uma década sem conseguir tirar o filme do papel, foi anunciado que a obra seria dividida em duas partes. Ou seja, uma peça de duas horas e meia foi transformada em dois filmes de duração ainda maior – isso sem, supostamente, adicionar novas canções. Para mim, Wicked: Part I parecia simplesmente uma tentativa um tanto cínica de capitalizar em cima de um nome reconhecível.
Para deixar os fãs ainda mais nervosos, a adaptação ficou a cargo de Jon M. Chu, que tem uma filmografia é inconsistente — embora eu admita simpatizar com sua adaptação de In the Heights. Soma-se a isso um elenco controverso: Cynthia Erivo já acumulava polêmicas antes de se vincular ao projeto e Ariana Grande que, por não ser uma atriz tradicional, virou alvo automático de críticas. Em resumo, ficou difícil acreditar que essa adaptação seria um sucesso.
Para quem chegou até aqui sem entender muita coisa: Wicked: Part I é baseado em uma peça que deriva de um livro que, por sua vez, funciona como uma prequela de O Mágico de Oz. O musical foi lançado na Broadway em 2003, com Idina Menzel e Kristin Chenoweth nos papéis principais (e que fazem uma breve participação no filme).
A história acompanha Elphaba (Cynthia Erivo) — a Bruxa Má do Oeste — e Glinda (Ariana Grande), que se tornaria a Bruxa Boa do Sul. Embora elas representem lados opostos na história original, as duas tiveram uma relação bastante próxima durante a juventude, quando estudavam na Universidade Mágica de Shiz, em Oz.
Foi lá que Elphaba, mesmo enfrentando intensa discriminação de seus colegas, chama a atenção da professora Morrible (Michelle Yeoh). A mestre enxerga um grande talento para a magia na estudante, algo que talvez seja suficiente para levá-la até o titular Wizard (Jeff Goldblum), na Cidade das Esmeraldas.
Dito isso, afirmo que Wicked: Part I é um filme – e uma adaptação – bastante aceitável e que eu me diverti consideravelmente. Apesar de não ser livre de falhas, a produção é caprichada, com cenários e efeitos práticos convincentes. Algumas cenas musicais, inclusive, são elevadas pelo ambiente ao redor.
No entanto, o uso de efeitos visuais é irregular, especialmente nos cenários. A prevalência de computação gráfica no famoso número de encerramento do primeiro ato foi um tanto decepcionante e reduziu o impacto de uma das mais famosas cenas da história da Broadway.
Além disso, diante das críticas ao elenco antes do lançamento, acho relevante dizer que isso não chega a incomodar. Tanto Erivo quanto Grande entregam boas performances musicais, embora distintas das originais, com alterações tonais evidentes para se adequarem ao estilo das atrizes – algo que pode dividir os fãs mais puristas.
No entanto, como o filme foi significativamente expandido para além das canções, os momentos de atuação direta sofrem um pouco. Cynthia Erivo, em particular, parece um tanto engessada no papel. Já Ariana Grande foi uma grata surpresa, mostrando-se carismática como Glinda, embora limitada dramaticamente – algo que prejudica o último ato do filme e, provavelmente, pesará ainda mais na segunda parte da história, que é menos leve e cômica.
Já em relação à divisão em duas partes, eu não acredito que isso tenha beneficiado a produção. Encerrando-se no final do primeiro ato da peça, o filme tem um momento catártico, mas não é impactante o suficiente para deixar o público ansioso pelo próximo capítulo, que só estreia daqui a um ano, tempo suficiente para o entusiasmo esfriar.
Além disso, o segundo ato de Wicked (como acontece com muitos musicais) é considerado mais fraco que o primeiro, possuindo menos números icônicos. Isso me faz questionar como a obra será adaptada e se haverá desvios maiores da peça para justificar a divisão e, talvez, tentar consertar alguns dos pontos mais criticados.
No geral, Wicked: Part I é o tipo de adaptação que não eleva o material original, mas também não o compromete. Musicais já são um grande risco no cinema, especialmente considerando que as adaptações recentes têm falhado tanto em bilheteria quanto em crítica. E não acredito que esse longa-metragem seja mágico o suficiente para reverter essa tendência. Ainda assim, é difícil tirar conclusões definitivas sobre algo que é apenas “meio filme”.
Contudo, se você tem algum carinho pela peça original ou por O Mágico de Oz, pode valer a pena conferir a produção nos cinemas. Por outro lado, se você é um daqueles que tem uma aversão irracional a pessoas cantando e dançando sem motivos, não há nada aqui para mudar sua opinião. Como fã de musicais, considero que minhas expectativas foram atendidas, mas não superadas.
Outras divagações:
G.I. Joe: Retaliation
Now You See Me 2
Crazy Rich Asians
In the Heights
Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle
De qualquer modo, tenho plena consciência da importância que essa peça tem para seus fãs e de como fazia falta torná-la mais acessível ao público. No entanto, adaptações de musicais sempre são uma faca de dois gumes: ao mesmo tempo em que podem expandir o alcance da obra para quem jamais teria acesso a uma boa montagem teatral, frequentemente enfrentam uma recepção negativa e, muitas vezes, parecem perder o ponto do formato.
Assim, depois de mais de uma década sem conseguir tirar o filme do papel, foi anunciado que a obra seria dividida em duas partes. Ou seja, uma peça de duas horas e meia foi transformada em dois filmes de duração ainda maior – isso sem, supostamente, adicionar novas canções. Para mim, Wicked: Part I parecia simplesmente uma tentativa um tanto cínica de capitalizar em cima de um nome reconhecível.
Para deixar os fãs ainda mais nervosos, a adaptação ficou a cargo de Jon M. Chu, que tem uma filmografia é inconsistente — embora eu admita simpatizar com sua adaptação de In the Heights. Soma-se a isso um elenco controverso: Cynthia Erivo já acumulava polêmicas antes de se vincular ao projeto e Ariana Grande que, por não ser uma atriz tradicional, virou alvo automático de críticas. Em resumo, ficou difícil acreditar que essa adaptação seria um sucesso.
Para quem chegou até aqui sem entender muita coisa: Wicked: Part I é baseado em uma peça que deriva de um livro que, por sua vez, funciona como uma prequela de O Mágico de Oz. O musical foi lançado na Broadway em 2003, com Idina Menzel e Kristin Chenoweth nos papéis principais (e que fazem uma breve participação no filme).
A história acompanha Elphaba (Cynthia Erivo) — a Bruxa Má do Oeste — e Glinda (Ariana Grande), que se tornaria a Bruxa Boa do Sul. Embora elas representem lados opostos na história original, as duas tiveram uma relação bastante próxima durante a juventude, quando estudavam na Universidade Mágica de Shiz, em Oz.
Foi lá que Elphaba, mesmo enfrentando intensa discriminação de seus colegas, chama a atenção da professora Morrible (Michelle Yeoh). A mestre enxerga um grande talento para a magia na estudante, algo que talvez seja suficiente para levá-la até o titular Wizard (Jeff Goldblum), na Cidade das Esmeraldas.
Dito isso, afirmo que Wicked: Part I é um filme – e uma adaptação – bastante aceitável e que eu me diverti consideravelmente. Apesar de não ser livre de falhas, a produção é caprichada, com cenários e efeitos práticos convincentes. Algumas cenas musicais, inclusive, são elevadas pelo ambiente ao redor.
No entanto, o uso de efeitos visuais é irregular, especialmente nos cenários. A prevalência de computação gráfica no famoso número de encerramento do primeiro ato foi um tanto decepcionante e reduziu o impacto de uma das mais famosas cenas da história da Broadway.
Além disso, diante das críticas ao elenco antes do lançamento, acho relevante dizer que isso não chega a incomodar. Tanto Erivo quanto Grande entregam boas performances musicais, embora distintas das originais, com alterações tonais evidentes para se adequarem ao estilo das atrizes – algo que pode dividir os fãs mais puristas.
No entanto, como o filme foi significativamente expandido para além das canções, os momentos de atuação direta sofrem um pouco. Cynthia Erivo, em particular, parece um tanto engessada no papel. Já Ariana Grande foi uma grata surpresa, mostrando-se carismática como Glinda, embora limitada dramaticamente – algo que prejudica o último ato do filme e, provavelmente, pesará ainda mais na segunda parte da história, que é menos leve e cômica.
Já em relação à divisão em duas partes, eu não acredito que isso tenha beneficiado a produção. Encerrando-se no final do primeiro ato da peça, o filme tem um momento catártico, mas não é impactante o suficiente para deixar o público ansioso pelo próximo capítulo, que só estreia daqui a um ano, tempo suficiente para o entusiasmo esfriar.
Além disso, o segundo ato de Wicked (como acontece com muitos musicais) é considerado mais fraco que o primeiro, possuindo menos números icônicos. Isso me faz questionar como a obra será adaptada e se haverá desvios maiores da peça para justificar a divisão e, talvez, tentar consertar alguns dos pontos mais criticados.
No geral, Wicked: Part I é o tipo de adaptação que não eleva o material original, mas também não o compromete. Musicais já são um grande risco no cinema, especialmente considerando que as adaptações recentes têm falhado tanto em bilheteria quanto em crítica. E não acredito que esse longa-metragem seja mágico o suficiente para reverter essa tendência. Ainda assim, é difícil tirar conclusões definitivas sobre algo que é apenas “meio filme”.
Contudo, se você tem algum carinho pela peça original ou por O Mágico de Oz, pode valer a pena conferir a produção nos cinemas. Por outro lado, se você é um daqueles que tem uma aversão irracional a pessoas cantando e dançando sem motivos, não há nada aqui para mudar sua opinião. Como fã de musicais, considero que minhas expectativas foram atendidas, mas não superadas.
Outras divagações:
G.I. Joe: Retaliation
Now You See Me 2
Crazy Rich Asians
In the Heights
Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle