Divagações: Tinker Tailor Soldier Spy

Eu gosto de, às vezes, ir no cinema, escolher um filme aleatório e descobrir do que exatamente se trata em plena exibição (com o blog iss...

Eu gosto de, às vezes, ir no cinema, escolher um filme aleatório e descobrir do que exatamente se trata em plena exibição (com o blog isso tem ficado super raro, mas deixa para lá). O detalhe é que, para fazer isso, é preciso embarcar – nem que seja em uma furada. De qualquer modo, antes de ir ver Tinker Tailor Soldier Spy acabei lendo as opiniões de gente que foi ver o filme e que, em sua maior parte, queriam se divertir não conseguiram, pois acharam muito arrastado. Ou seja, gente que não entrou no clima proposto. Realmente, o filme é lento, longo e não muito adequado para quem não tem paciência, quer relaxar ou está com sono, mas, mesmo assim, na sessão em que eu estava teve gente aplaudindo quando o filme acabou (para que exatamente eu não sei, mas foi com empolgação).

Tinker Tailor Soldier Spy se passa no alto escalão da inteligência britânica e em plena época de Guerra Fria. Enquanto procuram descobrir os estratagemas russos, os figurões descobrem que um deles, na verdade, é um espião a serviço do inimigo. Para tentar descobrir quem é o traidor, o governo chama o recém-aposentado George Smiley (Gary Oldman), que passará a investigar os ex-colegas com o apoio do jovem Peter Guillam (Benedict Cumberbatch). O mistério também envolve um chefe falecido logo após a aposentadoria (John Hurt), um ex-agente que participou de uma missão secreta mal sucedida (Mark Strong) e um agente que investigou demais por conta própria (Tom Hardy).

Com tantos pequenos detalhes para serem levados em consideração, não é de se estranhar que Tinker Tailor Soldier Spy seja lento. Cada gesto precisa ser observado a medida em que acompanhamos a investigação e tentamos descobrir quem é o traidor. No final das contas, todas as informações estão no filme, mas ele não as dá de graça e é preciso prestar atenção. Os suspeitos são bastante experientes, sabem com quem estão lidando e são interpretados por excelentes atores. Toby Jones, Ciarán Hinds e Colin Firth fazem cara de pouco confiáveis e, ao mesmo tempo, de cavaleiros respeitáveis.

O único elemento que quebra um pouco a tensão é a trilha sonora, mas só depois que todos os pontos principais foram estabelecidos. Nesse momento, aliás, é que as barreiras pessoais começam a cair e os profissionais se transformam em homens. Os suspeitos começam a ficar nervosos, Peter Guillam dá sinais de não estar lidando bem com a pressão e George Smiley começa a relembrar o passado. O trabalho de Gary Oldman é primoroso ao mostrar como um homem que já viveu muito lida com suas lembranças. Em momentos lúcidos parece prestes a enlouquecer, em situações enlouquecedores se mantém absolutamente racional. Essa atuação é justamente uma das principais pérolas do filme.

Mais próximo a uma experiência pessoal que a entretenimento de massa, Tinker Tailor Soldier Spy trouxe aos cinemas mais uma obra incrível de John le Carré. Carregada em seus traços literários, mas perfeitamente confortável na nova mídia, a história não nega ser pesada e também não quer ser suavizada. É o ‘filmão’ para quem quer pensar enquanto assiste e não para quem quer acompanhar perseguições em ritmo acelerado. Ao mesmo tempo, não estamos falando de algo ‘difícil’, pois é preciso apenas embarcar naquele universo e viver ao lado dos personagens.

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