Divagações: The Iron Lady
1.3.12
Contar a vida de uma pessoa já é uma tarefa difícil em formato de
livro. Em um filme de duas horas isso assume ares de missão impossível – e,
ainda assim, há muitas cinebiografias. Esse ano, J. Edgar e The Iron Lady
trouxeram figuras políticas controversas, afastando os mais jovens do gênero e
recebendo olhares tortos da crítica. Os dois filmes apostaram em uma estrutura
mais convencional e tentaram minimizar pontos controversos das carreiras dos
retratados ao se voltarem para aspectos pessoais. Em pensar que no ano passado
tivemos The King’s Speech e The Social Network...
De qualquer modo, The Iron Lady conta a história da ex-primeira
ministra inglesa Margaret Thatcher (Alexandra Roach e Meryl Streep). O filme
explora a influência dos ideais de seu pai, Alfred Roberts (Iain Glen) durante
a juventude, o casamento com Denis Thatcher (Harry Lloyd e Jim Broadbent), o
início da carreira, as decisões controversas como primeira-ministra e a queda
do cargo e o início da senilidade, com o acompanhamento da filha, Carol Thatcher (Olivia Colman). Ela é mostrada como uma mulher forte, determinada e
inflexível em suas decisões. Ao mesmo tempo, ela é apegada aos valores familiares
e às vaidades femininas, tornando sua presença em um parlamento masculino ainda
mais marcante.
Dirigido por Phyllida Lloyd, o filme transforma todos os personagens
em pessoas incríveis, especialmente Denis Thatcher, que vive apenas nas
lembranças e nos devaneios da protagonista. Aliás, a decisão de costurar a
história com momentos da personagem em idade avançada e com a saúde debilitada
faz com que a história perca ainda mais de seu apelo. Afinal, uma mulher como
essa merece ser vista em seu auge e com todo o tipo de polêmicas ao seu redor.
Ainda assim, a batalha mental que ela trava com as lembranças do marido é
essencial dentro do contexto narrativo.
Obviamente, uma personagem forte – e real – como essa chamaria a
atenção. Assim que The Iron Lady foi anunciado como tendo Meryl Streep no papel
principal, a atriz automaticamente se transformou na favorita para o Oscar,
previsão que se confirmou no último domingo (26). Ela consegue dar o tom ao
filme, segurando uma personalidade difícil em diversas fases da vida. Outra
atriz poderia ter endurecido ou amolecido, mas Meryl mantém o ponto certo.
Contudo, não dá para negar que ela é tão esperada e tão marcante por si só que,
por vezes, aparece mais que seu próprio trabalho.
Como Thatcher ainda está viva, o filme, infelizmente, acabou sendo
bastante sutil em pontos mais controversos, como as decisões econômicas que
alavancaram as taxas de desemprego na década de 1980 e a Guerra das Malvinas
(quem já teve a oportunidade de ir para a Argentina sabe o ressentimento que
ainda existe). Esses pontos obrigatórios estão presentes, embora exista um
grande potencial perdido nesse ponto. Um filme mais político poderia gerar
problemas, mas talvez fosse melhor e mais memorável que essa opção onde apenas
se conta, mas não se explora quem realmente é a retratada e em quais ideais ela
acredita.
Como filme, The Iron Lady é dramático e emocionante, principalmente
devido ao trabalho dos atores. Como biografia, no entanto, é uma obra um tanto
receosa demais, beirando a covardia – algo que não seria tolerado pela
personagem principal, diga-se de passagem. É justamente por não cumprir esse
objetivo que o filme foi mal visto por muito. Para quem está mais interessado
em um bom drama baseado em fatos reais do que em política, no entanto, essa é
uma boa opção.
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