Divagações: Lola Versus
30.4.15
Greta Gerwig é uma atriz talentosa que está seguindo um caminho diferente. Eventualmente, ela está presente em grandes produções, mas sempre em papéis pequenos. Ela é bonita, mas não parece se esforçar para atingir um padrão Hollywoodiano e há algo nela que lembra aquela moça que trabalha no andar debaixo.
Ao mesmo tempo, Greta parece ter lugar reservado como protagonista em um tipo específico de filme. Neles, interpreta uma mulher que tem justamente a idade que parece ter, que faz coisas idiotas na vida e que é capaz de seguir em frente mesmo assim. Esse é o caso de Frances Ha e também de Lola Versus, lançado praticamente no mesmo período.
Em Lola Versus, ela é (advinhem!) Lola, uma mulher de 29 anos que mora com o amor da sua vida e está fazendo os preparativos do casamento quando Luke (Joel Kinnaman) decide terminar. Os dois estavam juntos desde o Ensino Médio e ela simplesmente não sabe o que é ser solteira. Assim, apela para seus dois grandes amigos, a maluquinha Alice (Zoe Lister Jones) e o certinho Henry (Hamish Linklater).
Com uma premissa realística (quem nunca soube de uma história assim?), o filme segue como uma obra sincera. Tirando o fato de que ninguém parece ter um compromisso muito sério com trabalho ou algo assim, os personagens levam vidas normais e se esforçam para seguir em frente. Tudo bem que eles não precisavam se cruzar com tanta frequência, mas é preciso observar que se trata de um recorte da vida, com um ano sendo exprimido ao longo de 87 minutos.
O mais legal de Lola Versus é que não há um compromisso definido com um final feliz ou com qualquer clichê preestabelecido. Obviamente, existem vários pontos em comum com muitas outras obras do gênero, mas a trama é sincera consigo mesma e brinca com o fato de ser uma ficção tentando se parecer com uma situação do mundo real. Greta Gerwig interpreta sem qualquer esforço e encanta a cada nova trapalhada – mesmo aquelas absolutamente imperdoáveis. Joel Kinnaman e Hamish Linklater seguem essa deixa sem problemas, enquanto Zoe Lister Jones entrega algo diferente e levemente destoante, simplesmente porque ela pode (é a roteirista, ao lado do diretor Daryl Wein) e o baile segue.
A questão da naturalidade descompromissada segue nos aspectos técnicos do filme. Ao invés das cores ressaltadas das comédias românticas, o filme assume uma aparência levemente desbotada, adequada para uma cidade grande e um coração despedaçado. Os enquadramentos de câmera não inovam, mas também não são intrusivos e seguem contando a história sem se sobrepor a ela. Para completar, a trilha sonora é legal – até mesmo porque vários personagens fazem parte do meio artístico –, mas apenas o suficiente. Resumindo: nada é incrível, mas o conjunto funciona muito bem.
Lola Versus é um filme de qualidade, mas que passa praticamente despercebido. Você entende que isso é para o bem da produção, mas é triste que seu público não seja mais amplo. Ao mesmo tempo, não deixa de fazer parte do charme. É uma obra para você indicar a algum amigo e deixar que as pessoas descubram aos poucos. Não é aquele tipo que faz um enorme sucesso em seu lançamento, mas é daqueles que continuarão sendo assistidos por muito e muito tempo.
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