Divagações: Team America - World Police
21.4.15
Uma das maiores polêmicas de 2014 na indústria cinematográfica foi o vazamento de informações da Sony provocado por hackers da Coreia do Norte irritados com o filme The Interview, que retrata de forma cômica uma entrevista com o ‘supremo líder’ Kim Jong-un (Randall Park). Uma das consequências foi o cancelamento da estreia do filme, uma iniciativa do estúdio que foi recebida como uma covardia. Irritados com a situação, alguns donos de cinema substituíram a produção – já programada em suas grades – por Team America: World Police, o que deu origem a uma nova polêmica, com a Paramount solicitando o cancelamento das sessões.
Uma sátira política, Team America: World Police conta a história de um grupo de elite estadunidense que combate o terrorismo pelo mundo. Para lidar com uma ameaça vida da Coreia do Norte, é recrutado o ator Gary Johnston (Trey Parker, também diretor do filme), que precisa aprender a lidar com terroristas, celebridades e o amor.
O detalhe é que não se trata de uma produção convencional, pois a história é contada com marionetes – e não há exatamente uma preocupação em esconder os fios. Ao mesmo tempo, não se trata de uma animação fofa, sendo que o filme contém muitos palavrões, diálogos adultos, violência e até cenas de sexo. O estranhamento que isso provoca é essencial para o humor escrachado e para as camadas de ressignificação. Tudo pode parecer exagerado e bobo, mas Team America: World Police jamais pode ser chamado de um filme burro.
Também é válido observar que se trata de uma produção de 2004. Na época, as ações contra grupos terroristas eram mais comuns, mas esse período de 10 anos não foi capaz de afetar tanto assim o filme e seu alcance. O sentimento antiamericano e a própria forma como o país lida suas crises diplomáticas continuam sendo válidas. Além disso, o retrato amalucado de Kim Jong Il (Trey Parker, mais uma vez) encaixa com a polêmica provocada por The Interview. Team America: World Police não é a favor ou contra a guerra, propriamente falando, mas abre caminho para se discutir como ela é feita.
Para completar, o filme tem uma crítica à Hollywood. Diversos atores são retratados como fazendo parte de um grupo que quer interferir na política mundial, incluindo Alec Baldwin, Samuel L. Jackson, George Clooney, Matt Damon, Tim Robbins, Sean Penn, Helen Hunt e Susan Sarandon, além do documentarista Michael Moore. O poder das celebridades é elevado ao cúmulo desde a premissa do filme, que não deixa de provocar ao colocar um ‘ator da Broadway’ como o protagonista. Obviamente é tudo muito ofensivo, mas ninguém vai ousar reclamar de uma brincadeira que deu tão certo e fez tanta gente rir (com a exceção de Sean Penn, mas isso parece fazer parte da piada).
O texto de Trey Parker, Matt Stone e Pam Brady pode não ter o humor mais refinado do mundo, mas Team America: World Police consegue fazer muita gente rir até hoje sem perder seu apelo político. É um filme que merece ser revisto e que, vamos combinar, tem canções melhores que muitos musicais por aí. America, fuck yeah! Comin' again to save the motherfucking day, yeah!
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