Divagações: De rouille et d'os

Realizado em diversas partes do país, o Festival Varilux de Cinema Francês desse ano está imperdível! Aqui em Curitiba ele já acabou, ma...

Realizado em diversas partes do país, o Festival Varilux de Cinema Francês desse ano está imperdível! Aqui em Curitiba ele já acabou, mas nessa semana deve acontecer em outras cidades. Consulte a programação no site oficial do evento!

Um filme que eu fiz questão de ver foi De rouille et d'os, que conquistou duas indicações no Bafta e mais duas nos Golden Globes. O filme conta a história de duas pessoas que se encontram nas reviravoltas da vida. Alain van Versch (Matthias Schoenaerts) é pai de um menino de cinco anos, Sam (Armand Verdure), que resolve se mudar para viver com a irmã e o marido dela (Corinne Masiero e Jean-Michel Correia) após ficar desempregado e sem um tostão no bolso. Já Stéphanie (Marion Cotillard) trabalha como treinadora de baleias em um parque, mas acaba sofrendo um grave acidente e perdendo as pernas.

Os dois protagonistas são pessoas imperfeitas e incompletas. Ele é desapegado, tem dificuldades em seus relacionamentos familiares e demonstra certa tendência à violência, algo que parece melhorar quando resolve brigar por dinheiro. Ela, por sua vez, valoriza muito uma independência que acaba perdendo de forma muito brusca, o que muda por completo sua realidade e sua identidade pessoal.

Em um cenário tão bonito quanto Antibes, no entanto, é difícil sofrer e os ambos acabam encontrando seus caminhos e se envolvendo. Enquanto o aprendizado de Stéphanie acontece aos poucos, a mensagem demora um pouco mais para entrar na cabeça de Alain, precisando de uma sucessão de erros, acidentes e mudanças para que ele se liberte e, finalmente, expresse suas emoções.

De rouille et d'os, assim, consegue ser eficiente e bastante crível ao contar sua história. A propósito, emocionar parece ser uma especialidade do diretor Jacques Audiard, que também é roteirista do filme. Baseado em uma série de histórias de Craig Davidson, o filme mostra uma França linda, mas sem turistas, focando no dia a dia comum dos personagens e nos problemas da classe trabalhadora.

Na verdade, o filme até mostra um pouco da situação econômica complicada da França, mas seu forte está nos olhares e nas pequenas ações que dizem mais sobre as pessoas do que elas mesmas sabem. Marion Cotillard está incrível e essa é a primeira vez em muito tempo que a vejo mostrar que realmente sabe atuar – afinal, em seus papéis de Hollywood, ela é muito mais uma mulher bonita com um sotaque charmoso que qualquer outra coisa.

Além dos olhos brilhantes dos atores, a iluminação também é muito eficiente na hora de contar essa história. Os interiores são escuros e sempre colocam os personagens em situações onde suas imperfeições físicas ou emocionais se tornam mais relevantes e de difícil superação. A luz exterior, no entanto, ilumina suas vidas e torna tudo mais feliz. Não dá para negar que isso torna tudo muito óbvio e é fácil prever o que virá a seguir. No entanto, essa expectativa deixa De rouille et d'os apenas mais irresistível.

Realmente, é uma pena que a presença do filme nos cinemas brasileiros seja tão limitada. Embora a iniciativa do festival seja ótima e traga muitas obras que normalmente não veríamos, De rouille et d'os merecia estar entre os grandes lançamentos, com um número razoável de salas e sessões. Intouchables, por exemplo, teve essa oportunidade e se saiu muito bem.

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