Divagações: Steamboat Bill, Jr.

Existem algumas experiências nessa vida que são impagáveis. No último domingo, a Orquestra Sinfônica do Paraná me proporcionou um momento ...

Existem algumas experiências nessa vida que são impagáveis. No último domingo, a Orquestra Sinfônica do Paraná me proporcionou um momento que não pretendo esquecer em pleno Teatro Guaíra. Regidos pelo maestro Stefan Geiger, os músicos tocaram a trilha sonora composta em 2003 por Timothy Brock para o filme Steamboat Bill, Jr., datado de 1928.

A produção, assim como muitas de sua época, não tinha uma música própria na época de seu lançamento e diversas versões já foram lançadas. O diferencial é que Brock é um músico especializado nos anos 1920 e 1930 – e que se deu ao trabalho de colocar instrumentos típicos do local e do período (como o banjo) em sua composição.

Na história, William Canfield (Ernest Torrence) tem seu próprio barco a vapor no Mississipi, mas seu negócio está ameaçado pela concorrência de J.J. King (Tom McGuire). Um novo ânimo surge quando ele descobre que seu filho, que ele não vê desde bebê, está prestes a visitá-lo. O rapaz, contudo, não atende as suas expectativas. William Canfield Jr. (Buster Keaton) é um jovem atrapalhado, de roupas largas, com um bigodinho risível e uma boina.

Pai e filho parecem descordar em tudo e, para completar, mais confusões surgem quando ele reencontra uma amiga da cidade, Kitty King (Marion Byron) – a filha do temido concorrente. Quando o reencontro familiar está prestes a terminar com uma nota de fracasso, um furacão faz com que o filho precise partir em uma verdadeira missão de resgate.

Tudo em Steamboat Bill, Jr. é apresentado da melhor maneira possível, com uma comédia física e muitos efeitos práticos. Como eu estava em um teatro repleto, as risadas das crianças comandavam as reações do público e se tornava impossível não achar engraçado cada pequeno tropeção. Isso sem contar que muita coisa naquela época era feita com base na coragem.

Um exemplo clássico disso é a clássica cena em que a fachada de uma casa cai sobre Buster Keaton, que está posicionado no lugar exato onde fica a janelinha do sótão. Ele já havia feito coisas similares antes, mas nunca com uma estrutura tão grande e pesada. Outra cena marcante envolve o protagonista e uma árvore sendo arrastados pelo vento. O resultado pode parecer ‘tosco’ para o espectador atual, mas é bastante impressionante quando se considera que tudo foi filmado sem o auxílio de dublês ou de efeitos colocados na fase de pós-produção.

A trilha sonora de Steamboat Bill, Jr., obviamente, é um capítulo à parte. É incrível pensar em como a intensidade dos instrumentos auxilia a transmitir as ideias, eleva as realizações dos personagens, enfatiza situações e, claro, deixa tudo ainda mais divertido. Quando tocada ao vivo, ela cria um momento mágico, como se o filme estivesse realmente acontecendo diante do público. A música dá cores para as imagens em preto e branco.

Ao final de uma exibição como essa, eu me sinto tremendamente grata pela oportunidade. Não sei quem teve a ideia, mas sou certamente agradecida. Steamboat Bill, Jr. é um clássico do cinema mudo. O filme traz as trucagens da época e o senso de humor próprio de Buster Keaton, além da combinação perfeita entre o exagero físico e a sutileza da comunicação característicos do período. Foi uma experiência para ser aplaudida de pé.

Boa sorte para quem tentar me encontrar na foto! ;)

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