Divagações: Finding Dory

Ah, as continuações. Quando eu era criança, não me preocupava nem um pouco com isso. Inclusive, achava que quanto mais eu pudesse ver meus...

Ah, as continuações. Quando eu era criança, não me preocupava nem um pouco com isso. Inclusive, achava que quanto mais eu pudesse ver meus personagens favoritos, melhor. Como adulta, começo a ver essa questão um pouco mais criticamente. Há uma certa ‘preguiça criativa’ caminhando ao lado do ‘dinheiro certo’ em Hollywood.

Quando isso acontece em um estúdio que admiro, como (ainda) é o caso da Pixar, preciso considerar um quadro mais amplo. Sim, dar continuidade a uma história é um jeito mais garantido de conseguir bons resultados nas bilheterias. Mas também é uma oportunidade de voltar a explorar um universo repleto de possibilidades e de trazer de volta personagens que ainda têm muitas histórias para contar. Resumindo: sou parcial e não nego!

Finding Dory, inclusive, é um caso de uma continuação não-direta. A escolha de contar a história a partir de um novo ponto de vista e com uma mudança nos protagonistas faz com que o filme consiga manter seu frescor, mesmo 13 anos após o lançamento do original. E você achando querendo enganar que era seu priminho quem estava morrendo de vontade de ir ao cinema!

Afinal, a verdade é que a trama de Finding Nemo acabou e seria preciso uma desculpa muito esfarrapada para separar pai e filho novamente, fazendo essa família de peixes sofrer mais uma vez (lembre-se: em filmes da Pixar, até sentimentos têm sentimentos). Assim, o criador da história original e diretor dos dois filmes, Andrew Stanton, resolveu escrever sobre a mais querida coadjuvante da produção original, Dory (Ellen DeGeneres).

A peixinha que sofre de perda de memória recente tem um vislumbre de sua família e decide que seria uma boa ideia buscar por seus pais (Diane Keaton e Eugene Levy). Para isso, ela recruta a ajuda de Marlin (Albert Brooks) e Nemo (Hayden Rolence) e, no caminho, conquista o apoio interesseiro de um polvo rabugento e campeão de mimetismo, Hank (Ed O'Neill), além de reencontrar uma amiga de infância, a tubarão-baleia Destiny (Kaitlin Olson).

Ou seja, Finding Dory é uma jornada cheia de figuras marcantes e boas piadas – um prato cheio para as crianças rirem um bocado e se impressionarem com as criaturas do fundo do mar. Por ser uma trama direcionada exclusivamente pelos personagens (em oposição a circunstâncias maiores que eles), a produção precisa de carisma e de personalidades acentuadas para funcionar. Isso faz com que cada coadjuvante tenha seu momento para brilhar, contar um pouco de seu passado e mostrar que cada um tem suas qualidades e seus defeitos.

Afinal, como a protagonista sofre de perda de memória recente e precisa de ajuda o tempo todo, o longa-metragem aproveita para criar uma verdadeira rede de solidariedade entre seus personagens. Quem tem pouca visão ganha um direcionamento, quem tem baixa autoestima recebe apoio, quem é controlador demais aprende a se deixar levar e assim por diante. Quer uma ideia mais positiva que essa para passar para as crianças? O melhor é que isso é feito de forma natural, sem aquela noção forçosa de ‘moral do dia’.

Como não podia deixar de ser, Finding Dory também vai colocando detalhes que, aos poucos, constroem uma trajetória emocional capaz de deixar muita gente grande com os olhos marejados. Antes que você perceba, vai ficar com vontade de abraçar uns peixes azuis por aí! Ou de comprar uns brinquedos...

Para completar, o curta-metragem que antecede o filme, Piper, é de um primor técnico fantástico. Os detalhes são impressionantes e, claro, a história do filhote de pássaros que tem medo do mar, mas precisa ir para a praia para se alimentar, é de uma delicadeza sem fim. Dá até mesmo vontade de ir novamente ao cinema apenas para conferir esses seis minutos mais uma vez.

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