Divagações: Punch-Drunk Love

É engraçado como um filme é ‘vendido’ para você. Para me convencerem a assistir Punch-Drunk Love , falaram que “esse, aparentemente, é o ú...

É engraçado como um filme é ‘vendido’ para você. Para me convencerem a assistir Punch-Drunk Love, falaram que “esse, aparentemente, é o único filme em que Adam Sandler é um bom ator”. Mesmo que ele tenha cometidos muitos erros ao longo da carreira, é preciso considerar que Sandler tem quase 60 trabalhos no currículo (incluindo televisão e animações). O que faria desse filme algo especial? Não demorei a descobrir: a direção e o roteiro de Paul Thomas Anderson.

Apoiado por uma forte ‘vibe indie’, o ator conseguiu dar a seu eterno jeito bobão um aspecto melodramático. Sem muito sacrifício, ele fez o que sabe fazer de melhor sem nem precisar se esforçar para deixar as cenas engraçada – que, convenhamos, é onde ele anda errando há tempos – e até conseguiu uma indicação aos Golden Globes. Ironicamente, a lembrança foi justamente na categoria de Melhor Ator em Comédia ou Musical. Quem entende esses críticos de cinema...

De qualquer modo, Punch-Drunk Love conta a história de um homem perturbado psicologicamente, Barry Egan (Adam Sandler), que trabalha como fornecedor de itens para hotéis. Ele gostaria de ter uma vidinha pacata, mas precisa lidar com a pressão familiar criada por suas diversas irmãs ao mesmo tempo em que é extorquido pelo violento gerente de uma linha de tele sexo (Philip Seymour Hoffman) e em que tenta começar um relacionamento com Lena Leonard (Emily Watson), uma mulher que parece propositalmente não perceber quando ele faz algo inadequado. Para completar, ele decide ficar rico por meio de milhas aéreas ao aproveitar uma promoção que envolve comprar muitos pudins.

Essa até poderia ser a sinopse de um filme no melhor estilo ‘patinho feio’, mas não é bem esse o objetivo. Como é relativamente comum nos filmes de Anderson, você até pode esperar que algumas coisas deem certo para o protagonista, mas não todas (e não necessariamente no momento mais conveniente). O resultado é que há uma grande margem para surpreender o público – um recurso que funciona maravilhosamente bem quando é bem aproveitado, como é o caso.

A verdade é que Punch-Drunk Love é uma dessas comédias dramáticas (ou dramas cômicos) que não tem exatamente muita graça, mas que possui um elemento de absurdo forte demais para que seja realmente enquadrado como um ‘filme sério’. Na maior parte do tempo, eu fiquei com dó do protagonista e de suas abusivas relações familiares, acreditando que ele tinha conseguido muito na vida apesar de tantas dificuldades impostas a sua pessoa. Mas talvez eu só tenha um coração mole.

Será que esse é realmente o único filme em que Adam Sandler é um bom ator? Confesso que não vou assistir a tudo o que ele já fez para tentar descobrir. Mas é fato que o texto e a direção souberam trabalhar muito bem não somente com o estilo do ator como com a mística que existe ao seu redor. Mesmo sendo completamente diferente do que encontramos na maior parte de seus filmes, esse personagem ainda é terrivelmente parecido com o que vemos em boas parte das comédias estreladas por Sandler.

Assim, se você estiver cansado de ser feito de bobo, mas ainda estiver disposto a dar uma chance ao ator, Punch-Drunk Love é uma boa pedida. Quem tem um ódio profundo, no entanto, não vai conseguir curar seus ressentimentos (sim, há gente assim). E caso você simplesmente não se importe, o filme tem seus méritos próprios, é divertido, leve e representa uma boa opção de entretenimento.

Outras divagações:
The Master
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