Divagações: Flickan som lekte med elden

Por mais que sejam baseadas em livros de grande sucesso comercial, ouso dizer que as adaptações cinematográficas das obras de Stieg Lars...

Por mais que sejam baseadas em livros de grande sucesso comercial, ouso dizer que as adaptações cinematográficas das obras de Stieg Larsson merecem um diretor mais autoral, capaz de lidar com esses elementos e dar uma identidade própria a eles. Assim, esse segundo filme da trilogia traz um desafio adicional: o novo diretor, Daniel Alfredson, assumiu o posto precisando dar continuidade ao excelente trabalho visto em Män som hatar kvinnor ao mesmo tempo em que precisava dar seu próprio ritmo ao filme. Para completar, ele filmou Flickan som lekte med elden simultaneamente à Luftslottet som sprängdes, valorizando a conexão entre as duas tramas.

Flickan som lekte med elden se passa alguns meses após a primeira história. Os dois protagonistas lembram com carinho um do outro, mas seguiram com suas vidas. Tudo muda, contudo, quando Lisbeth Salander (Noomi Rapace) volta para a Suécia após um período de ‘férias’ e reencontra algumas figuras do seu passado. Para tirar a moça de cena, ela é acusada de três assassinatos: o de seu responsável legal, Nils Bjurman (Peter Andersson), o do jornalista Dag Svensson (Hans Christian Thulin) e o da namorada dele, a pesquisadora Mia Bergman (Jennie Silfverhjelm) – não por acaso, os dois últimos estavam trabalhando em conjunto com Mikael Blomkvist (Michael Nyqvist) para uma reportagem especial na revista Millenium.

Assim, esses dois personagens se cruzam mais uma vez (ainda que só venham a dividir cena muito brevemente). Particularmente, acho que essa trama é inferior à anterior por tornar as duas figuras grandes demais, importantes demais. A retraída e quieta Lisbeth se torna primeira página em todos os jornais, enquanto o responsável Mikael se julga mais competente que a polícia e acaba ingressando em um time de investigação para ajudar a amiga – o que é louvável, mas faz parecer que ele não se abalou emocionalmente pela morte do colega assassinado.

Não há uma trama paralela e nem um espaço para respiro em Flickan som lekte med elden. Os protagonistas estão envolvidos até o cerne em absolutamente tudo o que acontece. Tudo é mais frenético e chega a ser difícil de acompanhar o mistério, que envolve também prostituição, violência e um misterioso homem chamado Alexander Zalachenko (Georgi Staykov). Para completar, já adianto que essa não é uma história fechada como a anterior, deixando muitas pontas soltas a cargo da sequência.

De certa forma, essa narrativa funciona bem e traz novidades para as mentes já acostumadas com as fórmulas de Hollywood. Não há um envolvimento romântico tradicional e a investigação segue muitos métodos, mas os heróis não têm superpoderes e nem conseguem lutar como profissionais em artes marciais. Há também a atração das tramas paralelas, em que Mikael e Lisbeth seguem pistas similares e caminhos muito diferentes para tentar chegar em um mesmo resultado. É complicado que a inocência dela fique clara desde o princípio, pois isso poderia ser um recurso interessante para criar tensão, mas é interessante descobrir que ela deixou segredos para trás.

Menos ‘obrigatório’ que seu antecessor, Flickan som lekte med elden é um filme que só funciona se o espectador estiver disposto a embarcar também em sua sequência (e imediatamente, se possível). Os personagens são ótimos e as atuações estão à altura, mas a característica principal é que as respostas não são dadas de maneira fácil. É preciso prestar atenção para aproveitar a história, deixando-se levar pela magia de um bom filme.

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