Divagações: Män som hatar kvinnor
23.8.16
Embora Män som hatar kvinnor tenha sido oficialmente lançado em 2009, eu ainda não o havia assistido quando fui ao cinema conferir The Girl with the Dragon Tattoo, dois anos depois. Muita gente criticou a versão estadunidense por ser demasiadamente similar a esta – o que é verdade. Alguns enquadramentos são praticamente idênticos, assim como os cenários e a caracterização dos personagens, embora a outra produção tenha perceptivelmente mais orçamento. Ainda assim, há algumas diferenças sutis de roteiro e ritmo: a versão tradicional sueca (existe uma opção estendida) tem seis minutos a menos e conta uma trama um pouco maior. O que não quer dizer que um filme seja melhor que o outro (e também não impede as pessoas de terem o seu favorito).
A história, obviamente, é a mesma, sendo baseada no primeiro livro de uma trilogia escrita por Stieg Larsson. Lisbeth Salander (Noomi Rapace) é uma jovem com um passado problemático e que prefere simplesmente não se envolver com as pessoas. Ela trabalha como investigadora em uma agência e acaba dirigindo mais atenção que o habitual a um de seus investigados, o jornalista Mikael Blomkvist (Michael Nyqvist). Ele está sendo processado por calúnia após ter escrito sobre o envolvimento de um grande empresário no tráfico de armas, contudo, Lisbeth acredita que tudo se trata de uma armação. Assim, quando ele começa em um novo emprego, ela decide ajudá-lo. A nova missão envolve descobrir o assassino da neta de Henrik Vanger (Sven-Bertil Taube), um homem muito rico e com uma família de suspeitos.
Män som hatar kvinnor consegue, assim, trazer dois elementos muito fortes e aplicá-los com qualidade. Um deles é o mistério da moça em si, que desapareceu sem deixar vestígios mesmo com um círculo pequeno de possibilidades e ainda atrapalha as relações familiares. Outro envolve os dois protagonistas. Ambos têm personalidades fortes, são obstinados e possuem grandes problemas pessoais para resolver. Em uma trama hollywoodiana, é raro encontrar tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo e de forma independente – pense bem: dificilmente detetives vivem fatos que não envolvem diretamente seus mistérios.
Outro ponto interessante do filme é que a Suécia retratada não é tão bonita quanto a que costumamos ver na televisão (ou na internet). As pessoas não são maravilhosas, as casas são muito bagunçadas, a paisagem não é sempre paradisíaca. Mesmo se passando tão longe e envolvendo pessoas com muito dinheiro, essa produção traz uma realidade muito mais palpável que sua contraparte estadunidense, a qual foi bem mais fiel à imagem que temos da Suécia que o próprio filme produzido por lá.
Com relação ao elenco, Noomi Rapace foi uma escolha perfeita para Män som hatar kvinnor. Ela se preparou durante sete meses para ter o físico da personagem e entrega a carga expressiva correta, ou seja, apenas o mínimo necessário. Lisbeth Salander é uma personagem para ser descoberta e compreendida aos poucos. Já Michael Nyqvist tem um desafio bem menor, mas não deixa de ser o responsável por manter a ética do filme nos eixos. Ele consegue segurar a atenção do público, já que a protagonista feminina demora a cativar, deixando o foco fluir aos poucos para ela.
Um mistério de primeira classe, esse filme merece ser visto pelo que é, sem compromisso com as continuações, o remake ou até mesmo com os livros. É um trabalho caprichado e com personalidade do diretor Niels Arden Oplev, que valoriza a ação, a trama intrincada e personagens difíceis. Não é todo dia que se encontra um filme assim.
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