Divagações: Mansfield Park
30.8.16
Como fã do trabalho de Jane Austen, eu sempre acredito que há poucas adaptações cinematográficas do trabalho da escritora. A maior parte é representada por séries para a televisão e há uma grande quantidade de filmes para televisão também. Ainda assim, sempre há algo para descobrir. Mansfield Park, por exemplo, é uma das obras com menos versões e eu demorei em conferir essa versão de 1999.
Aqui, a diretora e roteirista Patricia Rozema resolveu aproximar a personagem do público ao fazê-la olhar para a câmera e ‘escrever’ trechos de histórias que na verdade são da juventude da própria Jane Austen. O recurso é um pouco estranho, já que toda a ambientação parece bem fiel ao período original, mas é preciso observar que isso não é exatamente verdade. Muitos detalhes de cena, figurinos e sapatos foram reimaginados, fornecendo um aspecto mais moderno para essa versão da história.
A narrativa de Mansfield Park, ainda assim, segue exatamente como o previsto. Tudo começa quando a jovem Fanny Price (Hannah Taylor Gordon) é retirada da casa dos pais para ser uma ‘caridade’ na casa de sua tia (Lindsay Duncan), que casou com o rico Thomas Bertram (Harold Pinter). Rejeitada pela família, ela encontra uma possível exceção em seu primo mais novo, Edmond (Philip Sarson), que se torna seu único amigo.
Vários anos depois, Fanny (Frances O'Connor) precisa decidir que rumo dar a sua vida. Ela pode casar bem com um amigo da família em quem não confia, Henry Crawford (Alessandro Nivola), ou voltar a viver na pobreza ao lado de sua mãe (também interpretada por Lindsay Duncan) e de sua irmã favorita, Susan (Sophia Myles). Ao mesmo tempo, ela sofre ao acompanhar o romance entre Edmond (Jonny Lee Miller) e Mary Crawford (Embeth Davidtz), uma mulher cheia de ideias ‘modernas’.
Mansfield Park, dessa forma, traz uma releitura dos valores de Fanny Price. No livro, ela é uma jovem absolutamente correta para os valores da época e não se permitia muitas diversões. Aqui, ela se permite ter uma mente um pouco mais livre e sonhar, o que é uma grande vantagem para aproximar a personagem do público, principalmente depois que os espectadores estão mais acostumados com as olhadelas para a câmera.
Sua antagonista Mary Crawford, ao mesmo tempo, tem seu ‘bom senso’ de moça da cidade transformado em ‘falta de tato’ em quase a totalidade das cenas, o que torna o contraste mais evidente, mas enfraquece o relacionamento dela com Edmond. Para completar, achei que as melhores mudanças envolveram o irmão mais velho, Tom Bertram (James Purefoy), que se tornou um abolicionista ferrenho e pintor absolutamente inovador. É uma pena que ele seja um personagem menos relevante para o andar da história principal e, portanto, tenha menos tempo em cena.
Cheio de boas intenções, Mansfield Park é uma produção que cumpre seus propósitos e consegue trazer uma das obras menos conhecidas de Jane Austen de uma forma mais atraente para o público – com direito até a algumas cenas mais chocantes. Mesmo assim, não se trata de uma obra-prima nem de um filme particularmente inovador, mas de um longa-metragem perfeitamente razoável e adequado para aqueles dias de frio em que você está com vontade de assistir um bom romance debaixo das cobertas, com ou sem alguém ao seu lado.
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