Divagações: Life
20.4.17
No terror e no suspense, existem fórmulas e modelos consagrados e uma boa opção é simplesmente fazer uma boa execução dentro disso, a ponto de superar seus antecessores ou os subverter de algum modo – geralmente enveredando para outro gênero ou para algum subtexto absurdo. Life não parece ser exatamente um exemplar da segunda espécie, preferindo ser mais ortodoxo e prestar uma homenagem a outros filmes de horror espacial, tendo Alien, de Ridley Scott, claramente como sua grande inspiração. A diferença seria que a nova produção estaria mais próxima da realidade ou, pelo menos, é isso o que gostaria.
A história segue um caminho bastante usual. Depois de uma coleta de amostras de solo em Marte, um grupo de pesquisa da estação espacial internacional acaba encontrando o que parece ser um micro-organismo complexo e que pode ser a chave para diversos avanços científicos. Como esperado para o gênero, a amostra acaba crescendo a uma velocidade alarmante, colocando não apenas a pesquisa em risco, mas a própria vida dos tripulantes como a comandante Miranda North (Rebecca Ferguson), o mecânico Rory Addams (Ryan Reynolds) e o piloto David Jordan (Jake Gyllenhaal).
Life tem um início promissor e uma boa atmosfera (com o perdão do trocadilho), mas sofre do mesmo mal de boa parte dos filmes do seu tipo: a síndrome do "tudo que pode dar errado vai dar errado". Pode-se dizer que a produção é orquestrada contra os protagonistas, transformando-se em um exercício de atrito um pouco cansativo, onde toda e qualquer ação dos personagens vai ter o resultado mais catastrófico possível.
Isso torna a experiência um tanto previsível, o que não seria um problema se o filme todo não se tornasse uma comédia de erros. Veja bem, ao contrário do xenomorfo de Alien, que se mostra um perseguidor implacável que sobrepuja a tripulação da Nostromo, o alienígena de Life é bem-sucedido com base na incompetência de seus protagonistas e por pura sorte (ou azar, dependendo do seu ponto de vista).
Mesmo que tente trazer um pouco de credibilidade científica e uma ambientação mais verossímil, o filme de Daniel Espinosa falha onde no mesmo ponto em que as sequências do filme que o inspirou (nominalmente Prometheus) também erra. Personagens que deveriam ser grandes mentes científicas agem contra qualquer critério de lógica ou razão, cometem erros que nenhum astronauta faria e colocam a si mesmos e aos outros em riscos desnecessários. A isso se soma a quantidade improvável de fatalidades a qual seus protagonistas são expostos e já é o suficiente para quebrar qualquer suspensão de descrença. Entendo que a estupidez dos personagens é o que move filmes de monstro para frente, mas isso deveria ser repensado quando a premissa envolve algumas das maiores mentes científicas da Terra.
Apesar disso, Life tem momentos de genuína tensão e consegue capturar muito bem o clima claustrofóbico e de gravidade zero de uma estação espacial legítima. Infelizmente, o bom elenco é subaproveitado em personagens bidimensionais, tornando especialmente complicado se importar muito com o destino daquelas pessoas, quer seja pela falta de empatia ou pelo roteiro que não colabora.
Basicamente, Life é um daqueles filmes que está muito perto de ser bom, mas vários pequenos defeitos vão minando a boa vontade do público. Não é catastrófico, apenas sem sal.
Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle
A história segue um caminho bastante usual. Depois de uma coleta de amostras de solo em Marte, um grupo de pesquisa da estação espacial internacional acaba encontrando o que parece ser um micro-organismo complexo e que pode ser a chave para diversos avanços científicos. Como esperado para o gênero, a amostra acaba crescendo a uma velocidade alarmante, colocando não apenas a pesquisa em risco, mas a própria vida dos tripulantes como a comandante Miranda North (Rebecca Ferguson), o mecânico Rory Addams (Ryan Reynolds) e o piloto David Jordan (Jake Gyllenhaal).
Life tem um início promissor e uma boa atmosfera (com o perdão do trocadilho), mas sofre do mesmo mal de boa parte dos filmes do seu tipo: a síndrome do "tudo que pode dar errado vai dar errado". Pode-se dizer que a produção é orquestrada contra os protagonistas, transformando-se em um exercício de atrito um pouco cansativo, onde toda e qualquer ação dos personagens vai ter o resultado mais catastrófico possível.
Isso torna a experiência um tanto previsível, o que não seria um problema se o filme todo não se tornasse uma comédia de erros. Veja bem, ao contrário do xenomorfo de Alien, que se mostra um perseguidor implacável que sobrepuja a tripulação da Nostromo, o alienígena de Life é bem-sucedido com base na incompetência de seus protagonistas e por pura sorte (ou azar, dependendo do seu ponto de vista).
Mesmo que tente trazer um pouco de credibilidade científica e uma ambientação mais verossímil, o filme de Daniel Espinosa falha onde no mesmo ponto em que as sequências do filme que o inspirou (nominalmente Prometheus) também erra. Personagens que deveriam ser grandes mentes científicas agem contra qualquer critério de lógica ou razão, cometem erros que nenhum astronauta faria e colocam a si mesmos e aos outros em riscos desnecessários. A isso se soma a quantidade improvável de fatalidades a qual seus protagonistas são expostos e já é o suficiente para quebrar qualquer suspensão de descrença. Entendo que a estupidez dos personagens é o que move filmes de monstro para frente, mas isso deveria ser repensado quando a premissa envolve algumas das maiores mentes científicas da Terra.
Apesar disso, Life tem momentos de genuína tensão e consegue capturar muito bem o clima claustrofóbico e de gravidade zero de uma estação espacial legítima. Infelizmente, o bom elenco é subaproveitado em personagens bidimensionais, tornando especialmente complicado se importar muito com o destino daquelas pessoas, quer seja pela falta de empatia ou pelo roteiro que não colabora.
Basicamente, Life é um daqueles filmes que está muito perto de ser bom, mas vários pequenos defeitos vão minando a boa vontade do público. Não é catastrófico, apenas sem sal.
Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle
0 recados