Divagações: Irrational Man

Irrational Man é um daqueles filmes que, quanto menos você souber sobre o que vai acontecer, melhor. Vou tentar não contar detalhes sobre...

Irrational Man é um daqueles filmes que, quanto menos você souber sobre o que vai acontecer, melhor. Vou tentar não contar detalhes sobre a trama e manter você no escuro, ao mesmo tempo em que dou as minhas impressões sobre o longa-metragem, mas, mesmo assim, já adianto: você foi avisado.

Escrito e dirigido – mas não estrelado e nem narrado – por Woody Allen, o filme conta a história da vinda de um novo professor de filosofia a uma universidade. Como é relativamente comum no mundo acadêmico, Abe Lucas (Joaquin Phoenix) chega à instituição com a consciência de que todo mundo sabe mais do que o suficiente sobre sua vida. Ainda assim, a má fama não parece o incomodar muito, mesmo que, com ela, venham os avanços de Rita Richards (Parker Posey), esposa de um colega e professora de outro departamento.

Fora de forma, desmotivado, bebendo muito e sempre a um passo de um ato drástico, Lucas acaba fazendo amizade com uma aluna que ele admira intelectualmente, Jill Pollard (Emma Stone). Ela, por sua vez, fica deslumbrada com a atenção e nem se importa muito quando começam a circular boatos de que os dois estão tendo um caso. Obviamente, o namorado dela, Roy (Jamie Blackley), não é da mesma opinião.

A dinâmica entre esses personagens cria um cenário bastante interessante para Irrational Man, especialmente porque Allen sabe se aproveitar como poucos de um curso de filosofia em andamento. Tudo o que é falado em sala de aula é capaz de gerar grandes e acaloradas discussões, sem dúvida, mas fica bem claro que os temas foram colocados de maneira calculada – eles fazem mais parte dos dilemas internos do protagonista que da própria aula.

Aliás, os questionamentos levantados não são exatamente uma novidade na obra do cineasta, tendo aparecido anteriormente em filmes como Crimes and Misdemeanors, Cassandra's Dream e Match Point, além de diversas entrevistas. Mas ouso dizer que Irrational Man é a obra que os traz de forma mais direta, uma vez que os dois personagens principais são, essencialmente, questionadores (afinal, temos um professor e uma estudante de filosofia). Para quem não se interessa pelos ‘academicismos’ do diretor que, convenhamos, estavam se tornando mais raros, uma parte essencial do apelo do filme simplesmente se perde.

É interessante também pensar que todos esses pensamentos sombrios e pesados se passam em um local belo e ensolarado, o que cria um contraste incômodo. O ambiente universitário, com seus gramados aconchegantes de dia e suas festas loucas a noite, não combina com um protagonista depressivo e muito menos com suas conversas sobre guerras, desastres e tentativas de tornar o mundo um lugar melhor. Será que ele fala a verdade? Será que devemos acreditar nesse sofrimento que ele carrega?

Mas, no fundo, nem temos muito tempo para questionar a legitimidade de Abe Lucas. Após estabelecer seu cenário, o filme mergulha rapidamente em seus temas e somos afogados por ele. Para quem ficaria feliz apenas com a interação entre os personagens, Irrational Man decide que quer entregar algo diferente. Em sua reviravolta, o protagonista ganha uma motivação e tudo passa a girar ao redor dessa novidade – algo que Joaquin Phoenix interpreta muito bem. O abismo entre cada uma das pessoas fica mais evidente e, em vez da convivência, passamos a ver o choque.

A direção do roteiro, sinceramente, não deve agradar a todos, mas é puro Woody Allen. Ela faz com que Irrational Man se questione e nos coloca sua própria perspectiva sobre moralidade e sobre o sentido da vida. Não é um grande drama e nem um filme para se ver com os amigos e um balde de pipoca, mas talvez seja tão válido quanto uma boa leitura.

Outras divagações:
Bananas
Everything You Always Wanted to Know About Sex * But Were Afraid to Ask
Sleeper
Love and Death
Annie Hall
Interiors
Manhattan
Stardust Memories
A Midsummer Night's Sex Comedy
Zelig
Broadway Danny Rose
The Purple Rose of Cairo
Hannah and Her Sisters
Radio Days
September
Another Woman
Crimes and Misdemeanors
Whatever Works
Midnight in Paris
To Rome with Love
Café Society

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