A pieguice já surge no título: The Fundamentals of Caring. Baseado em um livro de Jonathan Evison, com roteiro e direção de Rob Burnett (mais conhecido por seus trabalhos na televisão), esse filme é um daqueles dramas com um tom mais leve, levemente cômico, e uma mensagem maior que a vida. Ao menos esse não te deixa se sentindo depressivo ao final.

A história envolve um homem apático, Ben Benjamin (Paul Rudd), que está se recuperando de uma grave perda e está relutante em aceitar o fim de seu casamento, mesmo dois anos depois. Desempregado e sem inspiração para tentar a vida como escritor, ele busca um novo caminho em um curso de cuidador. Seu primeiro cliente/paciente é Trevor (Craig Roberts), um rapaz inteligente e de um humor ácido que está confinado a uma cadeira de rodas, tem poucos movimentos e passa o dia interagindo com a televisão, tendo sua mãe (Jennifer Ehle) e Ben como suas únicas interações com o mundo.

Eventualmente, os dois partem juntos em uma viagem pelos Estados Unidos para ver alguns dos pontos turísticos de beira de estrada mais toscos do país (como ‘o maior bovino’, já devidamente empalhado há vários anos). A princípio, a ideia é fazer o rapaz ter novas experiências e viver um pouco, mas também se trata de uma oportunidade dos dois se aproximarem e tirarem o melhor um do outro – querendo ou não, talvez Ben precise mais de Trevor que o contrário. No caminho, eles fazem amizade com Dot (Selena Gomez), uma jovem caroneira que quer reconstruir a vida em outra cidade, e Peaches (Megan Ferguson), que está grávida de um soldado e quer ter seu filho na companhia de sua mãe.

Obviamente, tudo é bastante previsível e não é preciso ser adivinho para saber o que vai acontecer (até mesmo na piada final). Mas se você se dispôs a realmente assistir a um filme chamado The Fundamentals of Caring, o negócio e embarcar na proposta e curtir. O humor do filme não é exatamente óbvio, mas está dentro do esperado quando se tem um protagonista bastante ranzinza.

Além disso, o elenco faz com que o filme valha a pena. Paul Rudd é charmoso como sempre, enquanto Craig Roberts entrega uma performance digna do ‘ator-promessa’ que ele é (sim, quero mais!). Por sua vez, Selena Gomez cumpre seu papel sem surpreender, mas também sem atrapalhar. Já Jennifer Ehle mora no meu coração e, mesmo que seu papel seja pequeno, é sempre bom vê-la.

A seu modo, The Fundamentals of Caring consegue ser um road movie bastante decente, explorando não só os pontos turísticos, mas também lojinhas e restaurantes de beira de estrada, além dos imprevistos que só uma viagem longa podem trazer. Os personagens têm objetivos definidos, mas nem todos buscam exatamente a coisa e, juntos, eles aprendem uns com os outros, criando um estranho senso de fraternidade. É um clichê do gênero, mas é preciso dizer que ele é bem executado.

No fim das contas não deixa de ser bom que a Netflix esteja acolhendo esse tipo de filme como distribuidora. A produção é interessante o suficiente para atrair a sua curiosidade e foi realizado por uma equipe competente. Mas, ao mesmo tempo, o valor dos ingressos de cinema não motivaria tanta gente assim a ver um filme como esse – que, convenhamos, funciona muito bem quando você está debaixo das cobertas e conta uma caneca de chá quente a sua disposição no criado-mudo.

Ou seja, The Fundamentals of Caring não reinventa a roda e se contenta em ser simplesmente bonitinho. Não vai fazer você chorar – nem de tristeza e nem de tanto rir – mas deve emocionar o suficiente para derreter um pouquinho seu coração. De maneira geral, é um bom filme para recomendar para a sua tia.