Divagações: Alien: Covenant

Depois da decepção que foi Prometheus , a franquia Alien teve que esperar quase cinco anos por um novo filme. Mesmo com uma tentativa frus...

Depois da decepção que foi Prometheus, a franquia Alien teve que esperar quase cinco anos por um novo filme. Mesmo com uma tentativa frustrada de Neill Blomkamp em direção a uma produção mais contemporânea (que infelizmente não chegou a fruição, embora os materiais apresentados fossem bastante promissores), Ridley Scott volta ao leme da série para Alien: Covenant, prometendo um retorno às origens ao mesmo tempo em que atava as pontas soltas deixadas pelo spinoff de 2012.

Dez anos após os acontecimentos do último filme, Alien: Covenant acompanha a tripulação de uma nave de colonização – a titular Covenant –, em seu caminho para um novo planeta habitável pela raça humana. Contudo, um acidente interrompe o trajeto bruscamente, acordando a tripulação do seu sono criogênico antes da hora estipulada. Com o capitão morto no acidente, Oram (Billy Crudup) assume a nave e, mesmo sob os protestos de sua segunda em comando Daniels (Katherine Waterston), manda uma equipe de expedição para um planeta próximo após ouvir uma transmissão misteriosa, possivelmente humana. Lá, eles encontram o androide David (Michael Fassbender), uma versão anterior do próprio membro sintético da Covenant, Walter (também interpretado por Fassbender), abandonado no planeta deserto. Pouco a pouco, porém, a tripulação da nave vai percebendo que as coisas não são como parecem.

A verdade é que, depois de Life, esgotei minha paciência para um terror espacial fundado em coincidências e na incompetência de personagens que teoricamente seriam indivíduos bem treinados e capazes. Infelizmente, Alien: Covenant cai nesse mesmo erro (ainda que não de maneira tão crassa quanto seu antecessor), tornando a experiência bastante previsível. Para piorar, os personagens são pouco inspirados e há algumas sequências vergonhosas, dignas de um filme de terror adolescente.

Admito que o último terço do filme, passado dentro de uma nave com um clima claustrofóbico e similar ao que iniciou a franquia, é efetivamente bacana, sendo um bom clímax. O problema é que, para chegarmos até lá, há tanta gordura e tanta estupidez que chega a ser complicado relevar. Veja bem, ainda que Alien: Covenant seja superior a Prometheus (o que não é exatamente um grande mérito), ele fica bem aquém das expectativas, justamente porque falta um pouco de foco no que ele quer ser – sem contar que o caminho frequentemente é alongado para um desfecho emocional que nem sempre vale a pena.

Inclusive, todo início do longa-metragem só serve para criar uma série de coincidências fantásticas e estabelecer alguns elementos narrativos que são irrelevantes a longo prazo. Por sua vez, a segunda parte se perde nas baboseiras pseudofilosóficas de David, que já não eram o ponto alto de Prometheus, desperdiçando o potencial de Fassbender, possivelmente o único membro do elenco que pode dar alguma profundidade para seus personagens e um subtexto interessante para suas ações, mas que gasta tempo demais nas afetações.

Assim, Ridley Scott não soube amadurecer sua obra ou capitalizar no que tornou Alien uma franquia emblemática e criou um subgênero próprio. Ao invés disso, ele repete os mesmos erros que tornaram Prometheus um filme decepcionante: personagens idiotas, ambientação fraca e elementos demais para uma história relativamente simples. Até para quem gostou do seu predecessor, a situação não é exatamente melhor. Afinal, o que eu considero como os melhores elementos do filme – as relações entre criador e criatura – não são bem trabalhadas. Para completar, todo o desfecho tão antecipado no final de Prometheus é colocado de modo muito breve e incidental no meio de uma cena, perdendo qualquer impacto emocional.

Com isso, nem mesmo a esperada volta do Xenomorph (Goran D. Kleut) salva o filme. Até mesmo porque sua aparição é guardada para os minutos finais, perdendo muito do impacto visual do monstro que poderia ter sido melhor utilizado desde o início. Como se não bastasse, há o retorno do Neomorph (também Kleut), que volta para a tristeza de quem preferia ignorar a sua existência.

Ainda que Alien: Covenant não seja terrível, a produção é mais uma decepção para os fãs de longa data da franquia. Falta uma identidade mais forte e a confiança para fazer isso tudo funcionar – já que o filme tenta ser coisas demais sem sucesso, em vez de fazer apenas uma coisa bem. Com o anúncio de mais continuações no horizonte, só nos resta esperar e descobrir se as recentes falhas de Ridley Scott são apenas tropeços ou se esse é o prenúncio de uma direção não tão animadora para a série.

Outras divagações:
Prometheus

Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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