Divagações: My Boy Jack

Existem muitas formas de contar uma história de guerra. Há tantos elementos envolvidos e a quantidade de situações extremas garante boa ...

Existem muitas formas de contar uma história de guerra. Há tantos elementos envolvidos e a quantidade de situações extremas garante boa parte do efeito dramático. Não importa se o personagem principal é um desconhecido ou um grande nome, se ele vai para a frente de batalha ou se atua apenas nos bastidores, se ele vive ou morre. Guerra é guerra. É cruel, é injusta e é totalmente sem propósito dentro de qualquer contexto que considere as pessoas envolvidas. É uma situação imposta aos indivíduos.

Em My Boy Jack, por exemplo, ninguém se dá ao trabalho de discutir o contexto político – e essa não é qualquer batalha, mas a I Guerra Mundial. Enquanto o conflito é iminente, seus personagens querem fazer parte dele e defender a sua nação, nem importa muito contra o quê. Depois da chegada da guerra, no entanto, é que os problemas se tornam pessoais. A propósito, a história é adaptada de uma peça que, por sua vez, é baseada em fatos reais.

Rudyard Kipling (David Haig, também autor da peça), na posição de um escritor famoso, usa as palavras para influenciar pessoas e é um grande formador de opinião. Têm amigos poderosos e sabe utilizá-los para conseguir o que deseja. Assim, quando seu filho, John (Daniel Radcliffe), decide servir seu país, ele faz de tudo para atender a vontade do rapaz, mesmo com as constantes recusas devido a uma grave miopia.

Embora motivado, John não é necessariamente um grande patriota. Ele tem uma relação fria e burocrática com o pai, mostrando quem verdadeiramente é apenas para a irmã, Elsie (Carey Mulligan). Ele se esforça para ser o melhor dos soldados não por desejar vencer a guerra, mas por querer ter suas próprias conquistas, por querer ser alguém. No entanto, todo esse distanciamento só chega a Rudyard quando o filho desaparece após uma batalha, motivando ele e sua esposa, Caroline (Kim Cattrall), a uma busca frenética sobre o que aconteceu.

Como disse anteriormente, existem muitas formas de contar uma história de guerra. O problema é que My Boy Jack fica na dúvida entre várias facetas. Para começar, o filme deveria se focar no pai, mas usa muito tempo de tela com o filho, destruindo boa parte da empatia que o público poderia sentir pelo primeiro. Além disso, a estrutura se torna cansativa.

A trama poderia ser centrada na busca por John ou nos esforços para colocá-lo no exército ou na forma como Rudyard lidava com a guerra pelos bastidores ou até mesmo nos relacionamentos familiares dentro desse período conturbado da história. Sendo sobre tudo isso, muita coisa acontece e nada realmente emociona. Para completar, a dinâmica entre os personagens não me convenceu. De alguma forma, a personagem de Carey Mulligan parece ser a única integrante real em uma família onde todos os demais são desconhecidos entre si.

O pior é que não se pode negar os esforços do diretor Brian Kirk em transformar My Boy Jack em um grande épico (ok, as batalhas em si não parecem muito convincentes, mas esses são poucos momentos). As sequências nas trincheiras são muito bem realizadas e boa parte das cenas foi realmente gravada nas propriedades que eram da família Kipling. É um filme cheio de boas intenções, embora nem todas sejam transformadas em realidade.

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