Divagações: Kôkaku Kidôtai
16.5.17
Kôkaku Kidôtai é uma animação adorada por muitos. Em grande parte, isso se deve a seu caráter nostálgico, mas também ocorre pela qualidade de seu conteúdo e pelo fato de que, mesmo atualmente, não é todo dia que vemos uma animação de ficção-científica para o público adulto – agora, imagine como eram as coisas em 1995.
Aliás, mais difícil ainda, é encontrar uma produção com uma estética cyberpunk. Por mais que sempre seja possível recorrer a Blade Runner, nenhuma outra produção bebeu tão vorazmente dessa água. The Matrix, Total Recall e The Terminator até chegaram bem perto, mas a Tóquio de Kôkaku Kidôtai é incomparável. A cidade repleta de tecnologia, mas ao mesmo tempo decadente e repleta de desigualdades, representa um futuro cada vez mais incomodamente realista (ainda que absurdo em muitos conceitos).
Ao longo do filme, acompanhamos o trabalho de Motoko Kusanagi (Atsuko Tanaka) e de colegas como seu amigo e parceiro de trabalho Batou (Akio Ôtsuka). Ela é uma espécie de policial ciborgue e, por mais que seus colegas (e muitas pessoas dessa sociedade) tenham partes cibernéticas, ela chama a atenção por ter um corpo totalmente artificial. A consciência que vive dentro desse corpo, o seu ‘eu’ é chamado de ‘fantasma’ – e é desse conceito que temos a expressão ‘fantasma na concha’, que dá título ao filme.
Por ser uma ciborgue, Motoko tem algumas vantagens em sua profissão, como poder usar de ilusões de ótica (ou algo assim!) para parecer invisível, por exemplo. E, tendo um corpo perfeito que não é exatamente seu, ela também não tem receio nenhum de ficar pelada pela cidade de vez em quando.
Obviamente, há quem questione uma heroína nua andando por aí. O evidente apelo de uma protagonista ‘gostosona’, obviamente, não deve ter passado despercebido para o diretor do longa-metragem, Mamoru Oshii, e nem para o autor do mangá original, Shirow Masamune. Ou seja, muitos olhares já ficariam vidrados na animação sem se importar muito com o conteúdo.
Mas, de qualquer modo, toda a estética devidamente estilizada e bem pensada de Kôkaku Kidôtai ficaria vazia se não houvesse um conteúdo. Na trama, vemos o cotidiano de uma equipe investigativa de elite. Eles estão lidando com criminosos que interferem na mente das pessoas, plantam memórias no cérebro e se utilizam de inocentes sem dó.
Como a protagonista mal demonstra emoções (ela é propositalmente retratada se assemelhando mais a uma boneca que a uma pessoa), esse parece ser apenas mais um grande caso. Mas, com o tempo, percebe-se que não é só isso. Motoko questiona frequentemente a sua própria natureza e tem curiosidade ao lidar com seu rival (Iemasa Kayumi). Ainda que tenha um forte compromisso com seu trabalho, ela parece disposta a arriscar tudo por respostas que não são exatamente sobre ela, mas sobre a natureza humana de forma geral. Afinal, como você pode provar que está vivo? O que difere você de, por exemplo, uma inteligência artificial extremamente competente?
Com isso, Kôkaku Kidôtai não é exatamente sobre a trajetória de uma heroína. Embora se utilize de sua protagonista, o filme a coloca sob os holofotes apenas para apresentar dúvidas filosóficas que intrigam o ser humano a centenas de anos. Para quem se encanta com a animação e com seus apelos, essa profundidade vem como um sopro de ar fresco e a necessidade de muita reflexão. Já quem busca por conteúdo, mas ainda torce o nariz para o formato, recomendo respirar fundo e aguentar o visual antiquado de um filme de 1995. Afinal, ouvi dizer que você não vai encontrar a mesma profundidade no filme estrelado por Scarlett Johansson.
Outras divagações:
Ghost in the Shell
Aliás, mais difícil ainda, é encontrar uma produção com uma estética cyberpunk. Por mais que sempre seja possível recorrer a Blade Runner, nenhuma outra produção bebeu tão vorazmente dessa água. The Matrix, Total Recall e The Terminator até chegaram bem perto, mas a Tóquio de Kôkaku Kidôtai é incomparável. A cidade repleta de tecnologia, mas ao mesmo tempo decadente e repleta de desigualdades, representa um futuro cada vez mais incomodamente realista (ainda que absurdo em muitos conceitos).
Ao longo do filme, acompanhamos o trabalho de Motoko Kusanagi (Atsuko Tanaka) e de colegas como seu amigo e parceiro de trabalho Batou (Akio Ôtsuka). Ela é uma espécie de policial ciborgue e, por mais que seus colegas (e muitas pessoas dessa sociedade) tenham partes cibernéticas, ela chama a atenção por ter um corpo totalmente artificial. A consciência que vive dentro desse corpo, o seu ‘eu’ é chamado de ‘fantasma’ – e é desse conceito que temos a expressão ‘fantasma na concha’, que dá título ao filme.
Por ser uma ciborgue, Motoko tem algumas vantagens em sua profissão, como poder usar de ilusões de ótica (ou algo assim!) para parecer invisível, por exemplo. E, tendo um corpo perfeito que não é exatamente seu, ela também não tem receio nenhum de ficar pelada pela cidade de vez em quando.
Obviamente, há quem questione uma heroína nua andando por aí. O evidente apelo de uma protagonista ‘gostosona’, obviamente, não deve ter passado despercebido para o diretor do longa-metragem, Mamoru Oshii, e nem para o autor do mangá original, Shirow Masamune. Ou seja, muitos olhares já ficariam vidrados na animação sem se importar muito com o conteúdo.
Mas, de qualquer modo, toda a estética devidamente estilizada e bem pensada de Kôkaku Kidôtai ficaria vazia se não houvesse um conteúdo. Na trama, vemos o cotidiano de uma equipe investigativa de elite. Eles estão lidando com criminosos que interferem na mente das pessoas, plantam memórias no cérebro e se utilizam de inocentes sem dó.
Como a protagonista mal demonstra emoções (ela é propositalmente retratada se assemelhando mais a uma boneca que a uma pessoa), esse parece ser apenas mais um grande caso. Mas, com o tempo, percebe-se que não é só isso. Motoko questiona frequentemente a sua própria natureza e tem curiosidade ao lidar com seu rival (Iemasa Kayumi). Ainda que tenha um forte compromisso com seu trabalho, ela parece disposta a arriscar tudo por respostas que não são exatamente sobre ela, mas sobre a natureza humana de forma geral. Afinal, como você pode provar que está vivo? O que difere você de, por exemplo, uma inteligência artificial extremamente competente?
Com isso, Kôkaku Kidôtai não é exatamente sobre a trajetória de uma heroína. Embora se utilize de sua protagonista, o filme a coloca sob os holofotes apenas para apresentar dúvidas filosóficas que intrigam o ser humano a centenas de anos. Para quem se encanta com a animação e com seus apelos, essa profundidade vem como um sopro de ar fresco e a necessidade de muita reflexão. Já quem busca por conteúdo, mas ainda torce o nariz para o formato, recomendo respirar fundo e aguentar o visual antiquado de um filme de 1995. Afinal, ouvi dizer que você não vai encontrar a mesma profundidade no filme estrelado por Scarlett Johansson.
Outras divagações:
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