Divagações: Magic in the Moonlight

Quem já viu vários filmes de Woody Allen sabe que o cineasta fez diversas produções fantásticas e dignas de nota. Ao mesmo tempo, a maior...

Quem já viu vários filmes de Woody Allen sabe que o cineasta fez diversas produções fantásticas e dignas de nota. Ao mesmo tempo, a maior parte de seus longas-metragens é formada por histórias simples, que ganham destaque pelos diálogos espirituosos e pelas atuações inspiradas – uma fórmula excelente, mas que nem sempre sai como o esperado.

Magic in the Moonlight é um desses casos onde algo deu errado. O filme passou quase em branco, recebendo críticas negativas por quem se deu ao trabalho de assistir. A verdade é que pouca gente embarcou na premissa e mesmo os materiais promocionais já receberam diversos narizes tortos. Mas não se trata exatamente de um desastre cinematográfico. Temos aqui uma história simples (e boba), dois bons atores interagindo de uma maneira divertida (e boba) e um consequente resultado leve e descompromissado (e bobo). Para quem não quer nada sério, pode até ser uma boa opção.

Stanley Crawford (Colin Firth) é um mágico inglês que ganha a vida vestido de chinês, fazendo truques de mágica em cima de um palco. Hoje em dia, isso não geraria nenhuma glória, mas, aparentemente, seus truques eram impressionantes o suficiente para que ele vivesse confortavelmente nos anos 1920. Bastante cético e arrogante, ele é conhecido em seu meio por desmascarar paranormais, especialmente aqueles que vivem de aplicar golpes.

Assim, Stanley é convocado por seu amigo Howard Burkan (Simon McBurney) para revelar os truques da clarividente Sophie Baker (Emma Stone), uma jovem que alega ter contato com ‘o outro lado’ e que já conquistou o coração de um herdeiro rico e inocente (Hamish Linklater). O detalhe é que, embora a performance da moça pareça ser bastante canastra, ela aparentemente tem uma ligação real com o oculto.

O filme, dessa forma, apoia-se em uma premissa sem rodeios para colocar seus dois protagonistas em choque (os coadjuvantes pouco importam e são subaproveitados). Colin Firth provavelmente se diverte encarnando o típico inglês ranzinza e extremamente racional (o que é meio estranho para alguém que ganha a vida entretendo as pessoas como um mágico). Já Emma Stone entrega seu charme habitual misturado a certo mistério e um aspecto de charlatanismo que, preciso admitir, combina muito bem com ela e seus grandes olhos azuis. Juntos, os dois não têm uma química incrível, mas a dinâmica funciona.

Aliás, Magic in the Moonlight consegue nos lembrar de uma época mais inocente (se é que isso um dia realmente existiu) e charmosa das produções de Woody Allen. O longa-metragem talvez esteja um pouco deslocado no tempo, mas suponho que ele encontraria seu público sem problemas se explorasse seus temas com um pouco mais de afinco – em especial, o contraste entre a racionalidade e o sobrenatural – e se não tivesse alguns buracos bem incômodos no roteiro.

Em especial, destaco as bizarras mudanças de humor do personagem de Firth, que mergulha muito fundo a cada nova ‘descoberta’. Ele deveria representar um contraste em relação ao aspecto vigarista da personagem de Emma Stone, mas ela acaba soando mais contida e confortável que ele, que apresenta constantes sobressaltos e é facilmente manipulado pela própria tia, Olivia (Catherine McCormack). Talvez o objetivo fosse fazer o público simpatizar mais com ela do que com ele, mas suponho que isso já ocorreria naturalmente – pela mera personalidade de cada um –, sem a necessidade desse tipo de artifícios.

Por esses motivos, admito que Magic in the Moonlight é um filme com bastante potencial, mas ele tropeça em uma execução preguiçosa ou simplesmente desajeitada. Em outras mãos (ou em outros tempos, talvez), o filme poderia entregar algo bem mais interessante, mas esse não é o caso. Ainda dá para se divertir e deixar a imaginação vagar, mas fica uma sensação de que poderia ter sido melhor. Fica para o próximo, Woody.

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