Divagações: Busanhaeng

Um dos maiores sucessos comerciais do cinema da Coreia do Sul – tanto doméstica quanto internacionalmente – Busanhaeng é mais um filme de...

Um dos maiores sucessos comerciais do cinema da Coreia do Sul – tanto doméstica quanto internacionalmente – Busanhaeng é mais um filme de zumbi. A questão é que esse não é um filme que tenta subverter o gênero, trazer elementos novos ou colocar um importante subtexto para o público. Esse é simplesmente mais um filme de zumbi. Mas ele é bem feito e entrega muito bem em sua proposta, então, funciona.

O cenário, especialmente, é bem calculado. Há algo estranho acontecendo no mundo, mas os personagens estão alheios a isso e têm suas próprias preocupações. Todos eles vão entrar em um trem com destino a Busan e, a princípio, ficarão isolados do mundo enquanto um ataque zumbi acontece lá fora, algo que acompanharão por meio de seus celulares ou pelos televisores disponíveis nos vagões. No entanto, uma passageira de última hora consegue entrar no trem, criando caos dentro de um espaço bastante limitado, forçando pessoas muito diferentes a se relacionarem e trazendo à tona o que há de melhor e de pior na humanidade.

Ao longo dessa confusão, Busanhaeng acompanha alguns dos passageiros a bordo. Yon-suk (Eui-sung Kim) trabalha para uma companhia de ônibus e se considera a pessoa mais importante a bordo do trem. Seok-woo (Yoo Gong) é um homem de negócios muito ocupado, mas que decidiu tirar um dia de folga para que sua filha, Soo-an (Su-an Kim), veja a mãe no dia de seu aniversário. Seong-kyeong e Sang-hwa (Yu-mi Jung e Dong-seok Ma) são um casal que está esperando o primeiro filho. Jin-hee (Sohee) é uma líder de torcida que está viajando com o time de beisebol da escola, incluindo o tímido Yong-guk (Woo-sik Choi). In-gil e Jong-gil (Soo-jung Ye e Myung-sin Park) são duas senhoras idosas que têm suas diferenças, mas que se gostam muito. E há também um mendigo (Gwi-hwa Choi) que entrou desesperadamente no trem para fugir do caos que começava a se instaurar na estação.

Obviamente, a maior parte deles não irá sobreviver até o final da viagem. Mas eles vão lutar pela vida, vão até mesmo brigar entre si e tentarão chegar o mais longe possível. Aos poucos, Busan deixa de ser apenas o destino final de uma linha de trem e passa a ser uma última esperança – há quem diga que a cidade conseguiu oferecer resistência aos invasores.

O trem, a princípio, funciona muito bem para retratar o desespero e cria o ambiente ideal para esse tipo de história. Os personagens têm uma locomoção limitada (há apenas duas saídas em cada vagão) e não podem abandonar o veículo. Para alcançar outras pessoas, sempre precisam cruzar com pelo menos um vagão infectado e, pouco a pouco, eles refinam seus conhecimentos sobre a ameaça. Em alguns momentos, haverá a oportunidade de expandir esses horizontes, mas o trem sempre representa o recurso mais adequado para seguir adiante e buscar salvação.

Sem procurar por complicações, Busanhaeng se aproveita da ignorância e do isolamento dos personagens para criar um espaço fechado onde a história pode se desenrolar. Com isso, os heróis e os vilões são pessoas comuns, igualmente motivadas pelo desespero e por seus instintos de sobrevivência. Nenhum deles é complexo o bastante para que o público crie uma identificação real, mas alguns ganham tempo de tela suficiente para fazer com que os sacrifícios sejam sentidos com maior intensidade.

Ou seja, é tudo muito bem calculado. O diretor e roteirista Sang-ho Yeon usa bem os elementos do gênero e sabe que não está reinventando a roda dos filmes de zumbi, mas que está fazendo girar uma ferramenta bem azeitada fazendo com que Busanhaeng seja uma experiência divertida e que cumpre seus objetivos.

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