Divagações: The Post
23.1.18
Muitas vezes, a escolha por contar certas histórias – ainda mais quando se trata de acontecimentos históricos –, vem mais do seu significado para a nossa sociedade atual do que da importância dada a ela em sua época. Afinal de contas, jogar a luz no passado para não cometermos os mesmos erros no presente sempre pareceu uma boa forma de abordar determinados assuntos sem precisar encarar polêmicas ou lidar diretamente com elementos e pessoas tomados pelo calor do momento.
The Post é exatamente esse tipo de filme, fruto de um contexto sociopolítico muito específico nos Estados Unidos e que não esconde suas intenções de traçar paralelos entre a realidade observada pelos jornalistas do The Washington Post nos anos 1970 com o que vemos hoje em dia. Assim, o longa-metragem serve como um alerta sobre a necessidade de uma imprensa livre e independente como forma de controle dos agentes políticos, algo que tem sido questionado cada vez mais na chamada "era da pós-verdade".
Passado durante a gestão Nixon, The Post acompanha um período de transição extremamente importante na política e no jornalismo estadunidense. Em 1971, repórteres do The New York Times recebem e publicam um dossiê feito em segredo pelo secretário de defesa americano sobre os interesses políticos do país na Guerra do Vietnã, deixando claro que a população foi enganada por mais de uma década. Com o Times sob ameaça de censura por uma ordem direta da presidência, o editor-chefe do Washington Post, Ben Bradlee (Tom Hanks) resolve continuar a cobertura da história a todo o custo – nem que para isso tenha que convencer a dona do jornal, Kay Graham (Meryl Streep), que já está enrolada com a abertura de capital do Post e a necessidade de não arriscar o futuro do jornal por conta das ambições de Bradlee.
Esse é, antes de tudo, um filme com aquela cara de grande produção para o Oscar, com nomes pesados no elenco e na produção, além da direção de Steven Spielberg, o que sempre exala certa pompa. E não é sem motivo, pois The Post é especialmente caprichado em tudo que se propõe. Por outro lado, ao vir com todos esses elementos já consagrados, a produção também soa um pouco derivativa, como quem jogou seguro e não assumiu nenhum risco narrativo ou estilístico, o que não a torna especialmente memorável.
Isso é compensado com energia e profundidade aos personagens principais e uma recriação impecável dos Estados Unidos de 1971. Os coadjuvantes, apesar de um pouco ofuscados pelos protagonistas do filme, são suficientemente críveis dentro de toda a estrutura de trabalho que levou à publicação dos documentos, chamados de Pentagon Papers. Além disso, Meryl Streep é o grande destaque, retratando muito bem uma figura pública que foi extremamente importante para inspirar mulheres em todo os Estados Unidos. Afinal, Kay Graham foi a primeira mulher a assumir um papel tão importante no sistema de mídia americano, mostrando suas fragilidades e inseguranças tanto quanto seu compromisso com o que acreditava ser o certo.
Em compensação, a história por vezes é um pouco truncada ou confusa. Imagino que, por esses acontecimentos já serem conhecidos do povo americano, o roteiro preferiu não se estender no que considerava detalhes irrelevantes. Porém, para nós brasileiros, e até mesmo para um público mais jovem que cresceu bem longe da era Nixon, algumas lacunas podem demorar um pouco demais para serem preenchidas. Mesmo assim, nada passa exatamente em branco ou compromete o entendimento geral da trama.
Além disso, como a produção ainda é sobre jornalistas procurando fontes e juntando evidências, talvez o longa-metragem soe um pouco monótono para alguns públicos. Afinal, o drama não é exatamente muito aparente e a liberdade de imprensa não é um direito ao qual todos dão a mesma importância. Mas, para aqueles que tem simpatia pela causa e tudo que ela representa no dia de hoje, The Post é muito pungente e capaz de empolgar – a despeito do tom eventualmente autocongratulatório, consequência do seu subtexto nem um pouco sutil sobre o papel da imprensa no governo Trump.
Assim, apesar de não ter como negar que The Post não traz nada de novo e é um filme absolutamente convencional em sua estrutura, sendo claramente idealizado com um olho na temporada de premiações, ele ainda serve como um bom drama de época e consegue capitalizar bem nas forças de seus participantes. Se você é um daqueles que acreditam na força da imprensa e estava com saudades de um filme como Spotlight nesses últimos tempos, The Post talvez sirva para matar um pouco essa vontade.
Outras divagações:
Jaws
Indiana Jones and the Last Crusade
The Terminal
The Adventures of Tintin
Lincoln
Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle
The Post é exatamente esse tipo de filme, fruto de um contexto sociopolítico muito específico nos Estados Unidos e que não esconde suas intenções de traçar paralelos entre a realidade observada pelos jornalistas do The Washington Post nos anos 1970 com o que vemos hoje em dia. Assim, o longa-metragem serve como um alerta sobre a necessidade de uma imprensa livre e independente como forma de controle dos agentes políticos, algo que tem sido questionado cada vez mais na chamada "era da pós-verdade".
Passado durante a gestão Nixon, The Post acompanha um período de transição extremamente importante na política e no jornalismo estadunidense. Em 1971, repórteres do The New York Times recebem e publicam um dossiê feito em segredo pelo secretário de defesa americano sobre os interesses políticos do país na Guerra do Vietnã, deixando claro que a população foi enganada por mais de uma década. Com o Times sob ameaça de censura por uma ordem direta da presidência, o editor-chefe do Washington Post, Ben Bradlee (Tom Hanks) resolve continuar a cobertura da história a todo o custo – nem que para isso tenha que convencer a dona do jornal, Kay Graham (Meryl Streep), que já está enrolada com a abertura de capital do Post e a necessidade de não arriscar o futuro do jornal por conta das ambições de Bradlee.
Esse é, antes de tudo, um filme com aquela cara de grande produção para o Oscar, com nomes pesados no elenco e na produção, além da direção de Steven Spielberg, o que sempre exala certa pompa. E não é sem motivo, pois The Post é especialmente caprichado em tudo que se propõe. Por outro lado, ao vir com todos esses elementos já consagrados, a produção também soa um pouco derivativa, como quem jogou seguro e não assumiu nenhum risco narrativo ou estilístico, o que não a torna especialmente memorável.
Isso é compensado com energia e profundidade aos personagens principais e uma recriação impecável dos Estados Unidos de 1971. Os coadjuvantes, apesar de um pouco ofuscados pelos protagonistas do filme, são suficientemente críveis dentro de toda a estrutura de trabalho que levou à publicação dos documentos, chamados de Pentagon Papers. Além disso, Meryl Streep é o grande destaque, retratando muito bem uma figura pública que foi extremamente importante para inspirar mulheres em todo os Estados Unidos. Afinal, Kay Graham foi a primeira mulher a assumir um papel tão importante no sistema de mídia americano, mostrando suas fragilidades e inseguranças tanto quanto seu compromisso com o que acreditava ser o certo.
Em compensação, a história por vezes é um pouco truncada ou confusa. Imagino que, por esses acontecimentos já serem conhecidos do povo americano, o roteiro preferiu não se estender no que considerava detalhes irrelevantes. Porém, para nós brasileiros, e até mesmo para um público mais jovem que cresceu bem longe da era Nixon, algumas lacunas podem demorar um pouco demais para serem preenchidas. Mesmo assim, nada passa exatamente em branco ou compromete o entendimento geral da trama.
Além disso, como a produção ainda é sobre jornalistas procurando fontes e juntando evidências, talvez o longa-metragem soe um pouco monótono para alguns públicos. Afinal, o drama não é exatamente muito aparente e a liberdade de imprensa não é um direito ao qual todos dão a mesma importância. Mas, para aqueles que tem simpatia pela causa e tudo que ela representa no dia de hoje, The Post é muito pungente e capaz de empolgar – a despeito do tom eventualmente autocongratulatório, consequência do seu subtexto nem um pouco sutil sobre o papel da imprensa no governo Trump.
Assim, apesar de não ter como negar que The Post não traz nada de novo e é um filme absolutamente convencional em sua estrutura, sendo claramente idealizado com um olho na temporada de premiações, ele ainda serve como um bom drama de época e consegue capitalizar bem nas forças de seus participantes. Se você é um daqueles que acreditam na força da imprensa e estava com saudades de um filme como Spotlight nesses últimos tempos, The Post talvez sirva para matar um pouco essa vontade.
Outras divagações:
Jaws
Indiana Jones and the Last Crusade
The Terminal
The Adventures of Tintin
Lincoln
Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle
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