Divagações: Rosemary's Baby
11.1.18
Baseado em um livro de Ira Levin, Rosemary's Baby é tido como uma das mais fiéis adaptações cinematográficas de uma obra literária. Assim sendo, o filme conta a sua história de uma maneira que dificilmente vemos nas obras de terror. Há poucos cortes, um ritmo que se constrói lentamente e uma paranoia que pode ser loucura, mas também pode ser verdade. Ou seja, o longa-metragem valoriza muito mais a construção do suspense que o horror em si. Não há grandes sustos, cenas escuras e correrias desorientadas, mas um cenário tipicamente urbano, figurinos fiéis ao período e uma canção de ninar docemente cantada pela própria Mia Farrow. Mesmo assim, Rosemary's Baby facilmente entraria em uma lista dos filmes mais macabros já produzidos.
Na história, Rosemary Woodhouse (Mia Farrow) é uma típica jovem dona de casa dos anos 1960. Ela e seu marido, Guy (John Cassavetes), acabaram de se mudar para um apartamento maior, pois pretendem ter filhos em breve. Tudo corre bem, ainda que haja uma certa tensão entre os dois, pois ele é um ator e sua carreira está demorando para decolar. Ambos riem das lendas que rondam seu novo edifício contadas por Hutch (Maurice Evans), uma espécie de figura paterna para Rosemary, e logo fazem amizade com seus vizinhos, o casal de idade Roman e Minnie Castevet (Sidney Blackmer e Ruth Gordon).
O quadro começa a mudar quando o casal decide realmente ter um filho. Embora esteja feliz pela gravidez que não demora a chegar e pela melhora nas propostas de trabalho do marido, a moça se ressente pelos comportamentos estranhos de Guy, pela forçada proximidade dele com o casal do apartamento ao lado e pela falta de apoio dada por seu novo médico, Dr. Sapirstein (Ralph Bellamy), indicado por Minnie. Ao longo dos meses, ela começa a desconfiar de que há algo errado com sua gravidez e com o bebê, mas não tem a quem recorrer, já que todas as pessoas ao seu redor parecem estar envolvidas com a estranha conspiração – ou mortas.
A maneira como o diretor e roteirista Roman Polanski decidiu contar essa história – gradual e com mais suspeitas do que provas – faz com que o público siga atentamente o fio da meada pelo olhar de Rosemary, uma personagem ingênua e facilmente manipulável. À medida em que a personagem sofre transformações, motivada por sua jornada e pelos que a cercam, o sentimento de receio (e, ao menos no meu caso, de indignação) também cresce.
Para isso, um ponto essencial é o elenco. Enquanto Mia Farrow consegue cativar o público e entregar uma performance competente, são os coadjuvantes que precisam convencer de que realmente há algo estranho acontecendo. Nesse sentido, John Cassavetes entrega uma performance dúbia e reticente – talvez derivada de seus desentendimentos com Polanski – que colocam a credibilidade da protagonista em questão, mas não abalam completamente a convicção de que ela pode estar certa. Em contrapartida, Sidney Blackmer e Ruth Gordon não medem esforços como o casal de velhinhos que passam de incomodamente amistosos a abertamente ameaçadores. Sem eles, Rosemary's Baby perderia muito de seu impacto.
Dessa forma, ainda que compartilhe muito de seus temas com outros filmes de terror dos anos 1960 e 1970, essa é uma obra que constrói seu universo com muito mais cuidado que o habitual. Por mais que a temática seja a de um filme de terror, com direito a bruxaria, demônios e o próprio anticristo, a narrativa é típica de um suspense, focada na conspiração que segue a protagonista.
E talvez seja por isso que Rosemary’s Baby continua efetivo mesmo após tanto tempo. Ele não se reduz aos monstros, aos cultos satânicos ou à ameaça em si – o que poderia gerar cenas assustadores que ficariam facilmente datadas –, mas se apoia com convicção no sentimento agoniante que vai lentamente tomando conta de todas as sequências. Antes que você perceba, o longa-metragem já estará perturbando sua próxima noite de sono.
Outras divagações:
Carnage
Na história, Rosemary Woodhouse (Mia Farrow) é uma típica jovem dona de casa dos anos 1960. Ela e seu marido, Guy (John Cassavetes), acabaram de se mudar para um apartamento maior, pois pretendem ter filhos em breve. Tudo corre bem, ainda que haja uma certa tensão entre os dois, pois ele é um ator e sua carreira está demorando para decolar. Ambos riem das lendas que rondam seu novo edifício contadas por Hutch (Maurice Evans), uma espécie de figura paterna para Rosemary, e logo fazem amizade com seus vizinhos, o casal de idade Roman e Minnie Castevet (Sidney Blackmer e Ruth Gordon).
O quadro começa a mudar quando o casal decide realmente ter um filho. Embora esteja feliz pela gravidez que não demora a chegar e pela melhora nas propostas de trabalho do marido, a moça se ressente pelos comportamentos estranhos de Guy, pela forçada proximidade dele com o casal do apartamento ao lado e pela falta de apoio dada por seu novo médico, Dr. Sapirstein (Ralph Bellamy), indicado por Minnie. Ao longo dos meses, ela começa a desconfiar de que há algo errado com sua gravidez e com o bebê, mas não tem a quem recorrer, já que todas as pessoas ao seu redor parecem estar envolvidas com a estranha conspiração – ou mortas.
A maneira como o diretor e roteirista Roman Polanski decidiu contar essa história – gradual e com mais suspeitas do que provas – faz com que o público siga atentamente o fio da meada pelo olhar de Rosemary, uma personagem ingênua e facilmente manipulável. À medida em que a personagem sofre transformações, motivada por sua jornada e pelos que a cercam, o sentimento de receio (e, ao menos no meu caso, de indignação) também cresce.
Para isso, um ponto essencial é o elenco. Enquanto Mia Farrow consegue cativar o público e entregar uma performance competente, são os coadjuvantes que precisam convencer de que realmente há algo estranho acontecendo. Nesse sentido, John Cassavetes entrega uma performance dúbia e reticente – talvez derivada de seus desentendimentos com Polanski – que colocam a credibilidade da protagonista em questão, mas não abalam completamente a convicção de que ela pode estar certa. Em contrapartida, Sidney Blackmer e Ruth Gordon não medem esforços como o casal de velhinhos que passam de incomodamente amistosos a abertamente ameaçadores. Sem eles, Rosemary's Baby perderia muito de seu impacto.
Dessa forma, ainda que compartilhe muito de seus temas com outros filmes de terror dos anos 1960 e 1970, essa é uma obra que constrói seu universo com muito mais cuidado que o habitual. Por mais que a temática seja a de um filme de terror, com direito a bruxaria, demônios e o próprio anticristo, a narrativa é típica de um suspense, focada na conspiração que segue a protagonista.
E talvez seja por isso que Rosemary’s Baby continua efetivo mesmo após tanto tempo. Ele não se reduz aos monstros, aos cultos satânicos ou à ameaça em si – o que poderia gerar cenas assustadores que ficariam facilmente datadas –, mas se apoia com convicção no sentimento agoniante que vai lentamente tomando conta de todas as sequências. Antes que você perceba, o longa-metragem já estará perturbando sua próxima noite de sono.
Outras divagações:
Carnage
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