Divagações: Grave
5.1.18
Ouvi dizer que quando Grave foi exibido em um festival de cinema na Suécia mais de 30 pessoas precisaram sair da sala de cinema porque estavam passando mal. Muitas vomitaram antes mesmo de chegar na porta de saída.
A cena não era exatamente uma novidade para a diretora e roteirista da produção, Julia Ducournau, que já havia perdido parte de seu público em outros eventos anteriores, incluindo no prestigiado Festival de Toronto, no Canadá. Aliás, “assista ao trailer do filme que fez as pessoas vomitarem em festivais” chegou a ser a chamada usada pelo site The Guardian para o vídeo promocional do filme. Também foi amplamente divulgado que um cinema de Los Angeles ofereceria sacolinhas de vômito, como aquelas dos aviões, para seus clientes (melhor do que ficar limpando o chão, eu diria).
Mas Grave é realmente tão forte assim? Se você é particularmente impressionável, facilmente assustável, não gosta de ver sangue e tem um estômago sensível: realmente, talvez seja melhor não assistir. Para os demais, a vantagem de ver o filme em casa é que você pode simplesmente pausar a produção para respirar um pouco. Mas se você quer o efeito completo, que afete o seu sono, vale assistir em um soco só.
A história acompanha uma caloura da universidade de veterinária, Justine (Garance Marillier). Ela é uma menina inocente (leia-se virgem) e cheia de ideais que já chega na instituição com certa notoriedade, pois seus pais são veterinários e sua irmã, Alexia (Ella Rumpf), é uma das veteranas. Logo no trote, o vegetarianismo da moça é testado, com ela sendo ligeiramente forçada – pela própria irmã, aliás – a comer um miúdo de coelho. O que se segue é uma estranha alergia, seguida por uma vontade incontrolável de comer carne crua – e humana, de preferência.
Obviamente, toda a história pode ser lida como uma metáfora para o despertar sexual da protagonista, especialmente com ela sendo contraposta a seu melhor amigo e colega de quarto, Adrien (Rabah Nait Oufella). Aos poucos, ela muda sua postura corporal, seu jeito de se vestir, seu gosto por músicas e decide se entregar aos seus desejos carnais (que, nesse caso, são bem literais). Contudo, vamos combinar que simplesmente não compensa tentar encontrar significados mais profundos em um filme como Grave.
O objetivo do filme é chocar, mostrar um bocado de sangue e abusar de conceitos perturbadores. Com isso, ele mergulha no que há de mais “sujo” na vida universitária. Em vez de aulas, vemos conversas particulares com professores manipuladores. Em vez de provas escritas, temos exames práticos com os alunos cortando animais mortos sobre uma mesa. Em vez de reuniões ou grupos de estudo, há festas absurdas com direito a muito álcool, muita pegação e até mesmo banhos de tinta ou visitas ao necrotério hospitalar (obviamente, o prédio do curso de medicina fica logo ao lado).
Tudo isso, claro, é devidamente acompanhado pelas tentativas da protagonista de morder alguém, como uma espécie de vampira adolescente incontrolável. A vontade é retratada como se fosse uma espécie de vício, com a ausência de carne humana trazendo verdadeiros ataques de abstinência (que poderiam ser melhores, mas tudo bem).
Outro ponto macabro é a relação com a irmã, que acha bem divertido ver a caçula sofrendo por não querer se render a seus impulsos – sob alguns aspectos, Alexia é mais assustadora que Justine. As cenas entre as duas alternam momentos normais entre duas adolescentes com importunações que vão além do que seria o usual entre irmãs, mesmo quando ambas têm personalidades bem diferentes. Há uma vontade de provocar e, simultaneamente, uma estranha cumplicidade entre as duas.
Juntando todos esses elementos, Grave consegue trazer uma situação absurda em um contexto onde ela parece ser algo que realmente aconteceria com alguém. O filme constrói muito bem seu universo e consegue fazer o público mergulhar a ponto de sentir que deve ter um respingo de sangue em algum lugar. É perturbador, mas, ao mesmo tempo, a produção nem ao menos tenta ser profunda, levando-se a sério na medida certa.
A cena não era exatamente uma novidade para a diretora e roteirista da produção, Julia Ducournau, que já havia perdido parte de seu público em outros eventos anteriores, incluindo no prestigiado Festival de Toronto, no Canadá. Aliás, “assista ao trailer do filme que fez as pessoas vomitarem em festivais” chegou a ser a chamada usada pelo site The Guardian para o vídeo promocional do filme. Também foi amplamente divulgado que um cinema de Los Angeles ofereceria sacolinhas de vômito, como aquelas dos aviões, para seus clientes (melhor do que ficar limpando o chão, eu diria).
Mas Grave é realmente tão forte assim? Se você é particularmente impressionável, facilmente assustável, não gosta de ver sangue e tem um estômago sensível: realmente, talvez seja melhor não assistir. Para os demais, a vantagem de ver o filme em casa é que você pode simplesmente pausar a produção para respirar um pouco. Mas se você quer o efeito completo, que afete o seu sono, vale assistir em um soco só.
A história acompanha uma caloura da universidade de veterinária, Justine (Garance Marillier). Ela é uma menina inocente (leia-se virgem) e cheia de ideais que já chega na instituição com certa notoriedade, pois seus pais são veterinários e sua irmã, Alexia (Ella Rumpf), é uma das veteranas. Logo no trote, o vegetarianismo da moça é testado, com ela sendo ligeiramente forçada – pela própria irmã, aliás – a comer um miúdo de coelho. O que se segue é uma estranha alergia, seguida por uma vontade incontrolável de comer carne crua – e humana, de preferência.
Obviamente, toda a história pode ser lida como uma metáfora para o despertar sexual da protagonista, especialmente com ela sendo contraposta a seu melhor amigo e colega de quarto, Adrien (Rabah Nait Oufella). Aos poucos, ela muda sua postura corporal, seu jeito de se vestir, seu gosto por músicas e decide se entregar aos seus desejos carnais (que, nesse caso, são bem literais). Contudo, vamos combinar que simplesmente não compensa tentar encontrar significados mais profundos em um filme como Grave.
O objetivo do filme é chocar, mostrar um bocado de sangue e abusar de conceitos perturbadores. Com isso, ele mergulha no que há de mais “sujo” na vida universitária. Em vez de aulas, vemos conversas particulares com professores manipuladores. Em vez de provas escritas, temos exames práticos com os alunos cortando animais mortos sobre uma mesa. Em vez de reuniões ou grupos de estudo, há festas absurdas com direito a muito álcool, muita pegação e até mesmo banhos de tinta ou visitas ao necrotério hospitalar (obviamente, o prédio do curso de medicina fica logo ao lado).
Tudo isso, claro, é devidamente acompanhado pelas tentativas da protagonista de morder alguém, como uma espécie de vampira adolescente incontrolável. A vontade é retratada como se fosse uma espécie de vício, com a ausência de carne humana trazendo verdadeiros ataques de abstinência (que poderiam ser melhores, mas tudo bem).
Outro ponto macabro é a relação com a irmã, que acha bem divertido ver a caçula sofrendo por não querer se render a seus impulsos – sob alguns aspectos, Alexia é mais assustadora que Justine. As cenas entre as duas alternam momentos normais entre duas adolescentes com importunações que vão além do que seria o usual entre irmãs, mesmo quando ambas têm personalidades bem diferentes. Há uma vontade de provocar e, simultaneamente, uma estranha cumplicidade entre as duas.
Juntando todos esses elementos, Grave consegue trazer uma situação absurda em um contexto onde ela parece ser algo que realmente aconteceria com alguém. O filme constrói muito bem seu universo e consegue fazer o público mergulhar a ponto de sentir que deve ter um respingo de sangue em algum lugar. É perturbador, mas, ao mesmo tempo, a produção nem ao menos tenta ser profunda, levando-se a sério na medida certa.
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