Divagações: Darkest Hour
9.1.18
Uma das figuras políticas históricas que mais me intriga é Winston Churchill. A princípio, ele parece ser uma figura impopular, pouco carismática e um tanto quanto inconveniente, mas sua atuação como Primeiro Ministro do Reino Unido durante a 2ª Guerra Mundial o colocou na História dentro de um prisma inesperadamente favorável. Afinal, estar do lado vencedor é sempre a melhor opção – e só posso imaginar que há um gostinho especial quando a sensação é de que você liderou o time responsável por uma virada no jogo.
Darkest Hour é justamente sobre essa suposta mudança nos rumos do conflito. Somos apresentados aos momentos que antecederam a chegada de Churchill (Gary Oldman) ao poder, seguidos por seus primeiros posicionamentos oficiais e suas decisões quanto à participação do Reino Unido na guerra. Entre seus principais opositores políticos estão justamente dois colegas de partido: o primeiro-ministro anterior, Neville Chamberlain (Ronald Pickup), e o visconde Halifax (Stephen Dillane), que poderia assumir seu lugar.
A propósito, as principais críticas deles estão relacionadas ao posicionamento belicoso (e muitas vezes inconsequente) de Churchill, que descarta negociações de um acordo de paz com a Alemanha nazista. É com base nisso que começa a se articular uma espécie de golpe interno, supostamente capaz derrubar o político que já está em uma posição consideravelmente delicada – eles não estão ganhando a guerra e a desastrosa evacuação para Dunkirk pode ser a gota d’água nas esperanças britânicas.
A questão é que, no frigir dos ovos, nem o protagonista do filme se importa muito com as movimentações de seus rivais. Ele tem tanta coisa para fazer, pensar e decidir que simplesmente dispensa a opinião de seus inimigos com facilidade. Assim, Darkest Hour acaba desperdiçando um precioso tempo com dois personagens que são retratados como patéticos e incapazes de realmente fazer alguma coisa concreta. Sinceramente, eu preferia que todas as cenas seguissem nos calcanhares de Gary Oldman e que a própria 2ª Guerra Mundial por si só já fosse considerada desafio suficiente.
Aliás, enquanto oferece todas as oportunidades possíveis para seu protagonista brilhar, Darkest Hour também dá um show de desperdício de bons coadjuvantes. Outros exemplos fáceis estão nas duas principais personagens femininas da trama. Clementine Churchill (Kristin Scott Thomas) é retratada como uma esposa sempre presente e apoiadora, mas sua personalidade forte é vista apenas de relance. Por sua vez, a datilógrafa do ministro, Elizabeth Layton (Lily James), funciona apenas como um olhar sensível e admirado – mas pouco crítico – de suas ações.
Ainda bem que, além de contar com a presença dominante de Oldman, a produção ainda consegue se segurar com uma trilha sonora impactante e dramática. Assinada por Dario Marianelli, a música do filme coloca o público automaticamente na correria do conflito, com direito a toda a sensação de desespero e à motivação de lutar que o protagonista tenta instilar no povo britânico.
O compositor, a propósito, é um colaborador de longa data do diretor Joe Wright. Os dois trabalham muito bem juntos e suas parcerias acabam contendo o que há de melhor e de pior nas obras de Wright. Sempre muito bonitos e tecnicamente bem-acabados, cada um de seus filmes têm um grande destaque visual – nesse caso, eu diria que é a impressionante maquiagem de Gary Oldman – e são extremamente centrados em um ou dois personagens. Darkest Hour não apenas não é uma exceção como uma vítima disso, em um caso onde o público poderia se beneficiar de uma variedade de olhares e perspectivas a respeito do protagonista, uma vez que o longa-metragem carece de uma confrontação efetiva.
Em contrapartida, a produção ganha muito por seu recorte curioso da História e por sua abordagem, afinal, não é sempre que vemos o quanto Hitler e seu exército estiveram próximos de ganhar a guerra. Honrando seu título, Darkest Hour é um filme sobre um momento que até já foi retratado anteriormente, mas nunca com tanto cuidado e com tanto peso. Se render um Oscar para Oldman (e, talvez, outro de Melhor Cabelo e Maquiagem, além de uma indicação para Marianelli) será merecido, mas é uma pena que o grande impacto sobre o público tenha ficado realmente só na intenção.
Outras divagações:
Pride & Prejudice
Atonement
Hanna
Anna Karenina
Darkest Hour é justamente sobre essa suposta mudança nos rumos do conflito. Somos apresentados aos momentos que antecederam a chegada de Churchill (Gary Oldman) ao poder, seguidos por seus primeiros posicionamentos oficiais e suas decisões quanto à participação do Reino Unido na guerra. Entre seus principais opositores políticos estão justamente dois colegas de partido: o primeiro-ministro anterior, Neville Chamberlain (Ronald Pickup), e o visconde Halifax (Stephen Dillane), que poderia assumir seu lugar.
A propósito, as principais críticas deles estão relacionadas ao posicionamento belicoso (e muitas vezes inconsequente) de Churchill, que descarta negociações de um acordo de paz com a Alemanha nazista. É com base nisso que começa a se articular uma espécie de golpe interno, supostamente capaz derrubar o político que já está em uma posição consideravelmente delicada – eles não estão ganhando a guerra e a desastrosa evacuação para Dunkirk pode ser a gota d’água nas esperanças britânicas.
A questão é que, no frigir dos ovos, nem o protagonista do filme se importa muito com as movimentações de seus rivais. Ele tem tanta coisa para fazer, pensar e decidir que simplesmente dispensa a opinião de seus inimigos com facilidade. Assim, Darkest Hour acaba desperdiçando um precioso tempo com dois personagens que são retratados como patéticos e incapazes de realmente fazer alguma coisa concreta. Sinceramente, eu preferia que todas as cenas seguissem nos calcanhares de Gary Oldman e que a própria 2ª Guerra Mundial por si só já fosse considerada desafio suficiente.
Aliás, enquanto oferece todas as oportunidades possíveis para seu protagonista brilhar, Darkest Hour também dá um show de desperdício de bons coadjuvantes. Outros exemplos fáceis estão nas duas principais personagens femininas da trama. Clementine Churchill (Kristin Scott Thomas) é retratada como uma esposa sempre presente e apoiadora, mas sua personalidade forte é vista apenas de relance. Por sua vez, a datilógrafa do ministro, Elizabeth Layton (Lily James), funciona apenas como um olhar sensível e admirado – mas pouco crítico – de suas ações.
Ainda bem que, além de contar com a presença dominante de Oldman, a produção ainda consegue se segurar com uma trilha sonora impactante e dramática. Assinada por Dario Marianelli, a música do filme coloca o público automaticamente na correria do conflito, com direito a toda a sensação de desespero e à motivação de lutar que o protagonista tenta instilar no povo britânico.
O compositor, a propósito, é um colaborador de longa data do diretor Joe Wright. Os dois trabalham muito bem juntos e suas parcerias acabam contendo o que há de melhor e de pior nas obras de Wright. Sempre muito bonitos e tecnicamente bem-acabados, cada um de seus filmes têm um grande destaque visual – nesse caso, eu diria que é a impressionante maquiagem de Gary Oldman – e são extremamente centrados em um ou dois personagens. Darkest Hour não apenas não é uma exceção como uma vítima disso, em um caso onde o público poderia se beneficiar de uma variedade de olhares e perspectivas a respeito do protagonista, uma vez que o longa-metragem carece de uma confrontação efetiva.
Em contrapartida, a produção ganha muito por seu recorte curioso da História e por sua abordagem, afinal, não é sempre que vemos o quanto Hitler e seu exército estiveram próximos de ganhar a guerra. Honrando seu título, Darkest Hour é um filme sobre um momento que até já foi retratado anteriormente, mas nunca com tanto cuidado e com tanto peso. Se render um Oscar para Oldman (e, talvez, outro de Melhor Cabelo e Maquiagem, além de uma indicação para Marianelli) será merecido, mas é uma pena que o grande impacto sobre o público tenha ficado realmente só na intenção.
Outras divagações:
Pride & Prejudice
Atonement
Hanna
Anna Karenina
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