Divagações: Les Misérables
31.1.13
Eu estava estranhamente empolgado para ver Les Misérables, afinal de contas, não é sempre que um musical é tido como um dos grandes filmes do ano. Em meio a esse gênero tão mal representado em Hollywood, geralmente se limitando a uma dúzia de títulos relevantes por década, ver um musical que se propunha a ser grandioso, era por si só um motivo para se empolgar.
Nunca fui um grande fã da obra de Victor Hugo nem vi a versão do musical da Broadway no qual este filme se baseia, porém, resolvi dar um voto de confiança a Tom Hooper, que dirigiu o excelente The King’s Speech. Ainda assim, a magnitude desse projeto me faz ficar com um pé atrás, já que Hooper, mesmo tendo se mostrado competente, não fizera muitas coisas nos anos anteriores além de um punhado de séries para a televisão britânica. Com um grande elenco e uma história de enormes proporções as coisas poderiam dar muito certo ou muito errado.
Assim como o livro, Les Misérables acompanha a vida de Jean Valjean (Hugh Jackman), um homem que, após ser incriminado por roubar um pão para salvar o filho de sua irmã, serve dezenove anos de trabalhos forçado nas galés. Quando termina sua pena, ele se descobre em um mundo hostil, onde ele é estigmatizado por ser um criminoso em condicional. Isso muda quando ele conhece o bispo Myriel (Colm Wilkinson, que interpretou Jean Valjean por muitos anos no musical da Broadway), que com um ato de bondade muda sua perspectiva sobre a humanidade, o levando a fugir da condicional e a reconstruir a vida como um homem de bem.
Anos depois, Valjean ascende na sociedade, abandona seu nome e se torna um industrial em uma pequena cidade francesa, o que leva seu caminho a se cruzar com o inspetor Javert (Russell Crowe), que ainda tenta capturar o fugitivo Jean, e com Fantine (Anne Hathaway), uma garota empobrecida cuja trajetória de vida o comove e o leva a cuidar de sua filha, Cosette (Isabelle Allen e Amanda Seyfried).
Como Les Misérables percorre mais de vinte anos de história em suas quase três horas de duração, é complicado falar de história sem revelar detalhes da trama. Apesar disso, é satisfatória a maneira como novos personagens são introduzidos, dando à trama dimensões diferentes das que se apresentavam de início. Porém, esse excesso acaba sendo uma das maiores fraquezas do filme, já que não há exatamente um objetivo e essa ausência de um fio condutor pode levar os menos pacientes ao tédio.
Ainda assim, quem espera boas atuações não irá se decepcionar. Hugh Jackman, apesar de estar mais apagado do que eu gostaria, segura bem a barra, mas acaba não apresentando nenhuma centelha de brilhantismo no que poderia ser seu trabalho mais memorável. O mesmo vale para Russell Crowe que, apesar das críticas, provou que sabe cantar. Anne Hathaway, por sua vez, mostrou porque é uma das favoritas ao Oscar, entregando uma atuação breve, mas visceral e emocionante, facilmente levando os mais sensíveis às lágrimas. É claro que não podemos nos esquecer de Sacha Baron Cohen e Helena Bonham Carter, que roubam a cena quando aparecem, entregando um desejado alívio cômico para um filme repleto de sofrimento.
Apesar disso, Les Miserables falha onde Lincoln acerta. Ambos são filmes onde o ponto central é a atuação. Porém, enquanto a direção de Steven Spielberg consegue extrair o máximo em termos de ritmo e de técnica, Hooper parece perdido, falhando em estabelecer um passo constante para a história e em transformar a própria filmagem em uma maneira de fortalecer os pontos sobre o qual o roteiro se debruça, salvo em umas duas ou três boas cenas mais bem trabalhadas.
Para quem está na expectativa, esse pode ser um filme bastante recompensador. Sua estrutura em uma série de crescendos e cenas dramáticas, sem pausas para respirar ou ir ao banheiro, pode ser ao mesmo tempo uma experiência grandiosa e sufocante. A ausência de uma grande catarse pode acabar incomodando àqueles que buscavam um final mais satisfatório, mas isso se encaixa na proposta do filme. Les Miserables merece a minha recomendação, já que, mesmo com suas falhas, emociona e consegue entregar uma ótima experiência cinematográfica.
Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle
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