Divagações: She's All That
15.9.16
Houve um tempo em que Freddie Prinze Jr. estava em alta. Ele aparecia em boa parte das produções destinadas ao público adolescente e era tido como uma grande promessa de Hollywood. Mas ainda bem que esse tempo passou!
Em She's All That, ele é Zack Siler, o rapaz mais popular da escola que leva um fora da namorada patricinha, Taylor Vaughan (Jodi Lyn O'Keefe), pois ela o trocou por um ator canastro, Brock Hudson (Matthew Lillard). Irritado com a situação, Zack faz uma aposta com seu amigo, Dean Sampson (Paul Walker), em que promete transformar a esquisita Laney Boggs (Rachael Leigh Cook) na rainha do baile.
Com essa trama, esse é mais um filme a beber na fonte da peça Pygmalion, de George Bernard Shaw. No entanto, é um dos que tem menos preocupações em manter qualquer relação com a história original, deixando boa parte de seu charme e de seus dilemas se perderem. Na verdade, a produção não parece nem ao menos comprometida com a sua premissa inicial, usando um fiapo de história apenas para criar bobas tensões românticas entre os protagonistas.
Exemplifico: não há nenhuma atitude real de Zack em She's All That que o torne uma pessoa melhor. Ele simplesmente não se esforça nem para ganhar nem para perder a aposta, aproximando-se de Laney apenas porque não tem nada melhor para fazer já que está sem a namorada. Além disso, o personagem de Paul Walker carece de definição e tempo de tela, nunca chegando a ser um antagonista a altura.
A única a ganhar um pouco mais de destaque é a personagem de Rachael Leigh Cook. Ela é a única a ter família – com direito até a um irmão mais novo interpretado por Kieran Culkin – e um passado. Contudo, mais uma vez, o roteiro fraco torna a personagem suscetível e inconsistente (ela é tímida, mas faz teatro experimental; sente tudo com muita intensidade, mas não consegue se expressar na pintura), fazendo com que a simples aparição de um garoto popular na sua vida faça muitas coisas mudarem.
Além disso, em um filme como esse, os coadjuvantes costumam ter destaque, o que não é exatamente o caso. O melhor amigo da mocinha, Jesse Jackson (Elden Henson), tem poucas falas e quase nenhuma personalidade, enquanto a irmã do mocinho, Mackenzie (Anna Paquin), serve apenas para ajudar a história a andar. A propósito, na época, a presença de Anna no elenco chamou bastante atenção para o filme, ajudando na divulgação.
Aliás, quando She's All That foi lançado, o filme teve uma boa recepção entre seu público-alvo, inclusive sendo indicado a prêmios como Kids' Choice Awards, Teen Choice Awards e MTV Movie Awards (e levando vários deles para casa). Com um elenco carismático como esse, suponho que mais da metade do caminho já estivesse traçada. Ao mesmo tempo, a história sem sal tornou a produção absolutamente esquecível para gerações futuras.
She's All That está bem longe de ser um bom filme e provavelmente não deve agradar nem mesmo aqueles que assistiram à produção em 1999. Suponho que ainda existam alguns fãs e vários nostálgicos, mas dificilmente esse filme irá atender as demandas de um novo público. É a efemeridade de Hollywood.
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