Divagações: The Way Way Back

Histórias de amadurecimento representam um volume gigantesco tanto no cinema quanto na literatura. Elas surgem dentro de vários gêneros – ...

Histórias de amadurecimento representam um volume gigantesco tanto no cinema quanto na literatura. Elas surgem dentro de vários gêneros – comédia, drama, suspense, terror – e trazem espectros diferentes do que é ser adolescente e precisar crescer. The Way Way Back, a princípio, é apenas mais uma dessas histórias, daquelas que tentam equilibrar uma trama séria com momentos mais leves e engraçados. A mensagem geral desse tipo de filme é: não é fácil, mas dá para se divertir no caminho.

Duncan (Liam James) gostaria de passar as férias com seu pai, mas está sendo forçado a uma temporada na casa de praia de Trent (Steve Carell), o novo namorado de sua mãe, Pam (Toni Collette). Os dois ‘rapazes’ não se dão nada bem e um claramente menospreza o outro. Sem o menor interesse de se enturmar com os amigos da filha de Trent, Steph (Zoe Levin), Duncan – apesar de sentir uma quedinha por Susanna (AnnaSophia Robb) – acaba arrumando um emprego em um parque aquático, apegando-se ao gerente do lugar, Owen (Sam Rockwell).

Basicamente, o que temos é uma constante busca pela figura paterna. Com seu pai ausente – um aspecto enfatizado diversas vezes ao longo do filme – o protagonista cria uma rejeição a quem busca ocupar esse lugar de maneira forçosa. Ao mesmo tempo, a adoção de um mentor acontece de forma natural, mesmo quando há claras indicações de que não se trata de uma pessoa ‘ideal’ para o papel. Assim, a percepção de um mundo adulto falho e cheio de imperfeições também faz parte da temática de The Way Way Back.

E, mesmo assim, não se trata de um filme sério. Por mais que o personagem de Liam James seja um tanto quanto rabugento e antissocial, os coadjuvantes se encarregam de trazer uma leveza e se comportam de forma carinhosa com ele. Destaco especialmente a vizinha maluca (Allison Janney) e o funcionário do parque que está sempre prestes a pedir demissão (Jim Rash que, aliás, escreveu e dirigiu o filme ao lado de Nat Faxon). Inesperadamente, a personagem de Maya Rudolph é um dos pontos mais sérios e sensíveis da produção, pois ela é a responsável por trazer um foco mais realista, falando em responsabilidades e em preocupações com o futuro.

Caso você não tenha paciência para a primeira meia hora do filme e para a personalidade do protagonista, recomendo esperar um pouco mais antes de desistir. The Way Way Back tem um visual bonito e uma trilha sonora interessante, mas é verdade que demora um pouco para dizer exatamente a que veio. Os adultos com pouca paciência talvez realmente não aguentem, mas quem se deixar envolver pelo mundo de um adolescente de 14 anos vai aproveitar.

Vale acrescentar que essa talvez seja uma boa ‘aula’ para quem não faz a menor ideia de como lidar com o filho da namorada ou do namorado. Não que o filme dê respostas prontas (pelo contrário), mas ele ajuda quem estiver disposto a relembrar. Até mesmo porque eu questiono o apelo da produção para quem realmente tem 14 anos... Suponho que eu teria gostado, mas muitos dos meus colegas de escola teriam preferido algo mais animado.

Sendo engraçado e delicado na medida certa, The Way Way Back não é um filme inovador, mas ele é inspirador. Essa é uma daquelas histórias que já nascem com cara de nostálgicas, como se você ou algum de seus conhecidos tivesse vivido uma situação semelhante. O verão do protagonista ficou com aquele gosto agridoce: a situação geral não era nem um pouco agradável, mas certas coisas vão deixar saudades. É como sentir falta dos tempos do Ensino Médio – até que você lembra que não gostaria de passar por tudo aquilo de novo.

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