Divagações: Star Trek Beyond

Em 2009, Star Trek reinventou uma série que há muito fora deixada de lado na cultura pop. O sucesso inesperado e a clara intenção de cria...

Em 2009, Star Trek reinventou uma série que há muito fora deixada de lado na cultura pop. O sucesso inesperado e a clara intenção de criar uma franquia duradoura eram, ao mesmo tempo, motivos para animar e para trazer receio devido ao novo formato adotado pela série. Quando Star Trek Into Darkness chegou, quatro anos depois, a balança pendeu para o lado do temor. Mesmo sendo um filme competente, ele ficou bem longe de entregar algo tão fresco e instigante quanto seu predecessor.

Assim, eu me aproximei de Star Trek Beyond com bastante cautela. Se as coisas só piorassem, esta poderia ser uma sentença de morte para a nova versão de Kirk e companhia. Inclusive, com Justin Lin assumindo a cadeira de diretor, a preocupação ficou ainda mais acentuada, já que a ação nem de longe é o maior atrativo de Star Trek. Ou seja, transformar a série em algo mais agitado poderia ser um tremendo tiro no pé.

Felizmente, já adianto que Star Trek Beyond não é a bomba que poderia ser. Pelo contrário, é uma obra muito divertida e que consegue achar um bom balanço entre a faceta mais canastrona da série de televisão e a proposta mais pé no chão dos filmes. Aliás, esse talvez seja o melhor blockbuster dessa temporada de verão cheia de decepções (o que não é exatamente um grande feito).

Três anos depois do início de sua missão de exploração do universo, o capitão Kirk (Chris Pine) começa a sentir os efeitos do isolamento e do tédio no espaço. A tripulação continua a mesma e pouca coisa mudou – se muito, o romance entre Spock (Zachary Quinto) e Uhura (Zoe Saldana) não parece ter engrenado. No meio desse marasmo, a Enterprise recebe uma missão que pode ser a última de Kirk no comando. Porém, o que era para ser um simples resgate acaba escalando para um confronto direto com Krall (Idris Elba), um líder militar de um planeta não mapeado pela federação, situação que acaba aproximando a tripulação da alienígena Jaylah (Sofia Boutella), uma sobrevivente do regime tirânico em questão.

Considerando as circunstâncias, é claro que Star Trek Beyond dá um passo para trás quando se trata de tornar o filme mais inteligente, tendo menos conceitos de ficção científica hard e um pouco mais de fantasia. A própria história, apesar de ter algumas reviravoltas, não é exatamente imprevisível e se mantém bastante básica no frigir dos ovos, prendendo-se a algumas fórmulas narrativas consagradas ao invés de tentar inovar.

Deste modo, parece que Star Trek está mais próximo do seu rival histórico, Star Wars, do que nunca. O filme até mesmo soa como uma resposta ao ‘clima Marvel’ trazido por Star Wars: Episode VII - The Force Awakens.

Digo isso porque realmente enxergo Star Trek Beyond como uma produção mais leve, com mais sequências de ação, mais tiradas (muitos poderiam até mesmo dizer que há um excesso de frases de efeito) e um plot mais raso do os fãs da franquia estão acostumados a ver. Isso poderia ser desagradável aos entusiastas não fosse o bom equilíbrio que o filme acha entre esses dois polos, conseguindo abrir um pouco a série para o público amplo, sem exatamente alienar quem já acompanhava os personagens a décadas.

Obviamente existem decisões questionáveis nesse meio, como a simplificação e descaracterização de alguns personagens, que não exatamente seguem suas contrapartes da série clássica. Mas nada que exatamente subtraia muito da experiência geral, ainda que os fãs tenham chiado um pouco com todo o bafafá envolvendo a sexualidade do piloto da Enterprise, Sulu (John Cho), que teve cenas um pouco ‘amenizadas’ depois de algumas reclamações que precederam o lançamento do filme.

Mesmo assim, ainda é interessante ver estes personagens interagindo entre si. Apesar de ser um elenco numeroso, há algo de muito orgânico na maneira em que os oficiais da nave se relacionam. McCoy (Karl Urban) ganha bastante espaço nesse filme e é interessante vê-lo orbitando ao redor de personagens além do capitão. Outra menção importante é Chekov (Anton Yelchin), simplesmente porque essa é a última vez que veremos o personagem nesta versão da franquia após a trágica morte do ator.

Visualmente, o filme acerta em cheio, com aquela representação otimista e colorida do futuro que só Star Trek consegue trazer. Transparece o carinho com o qual a direção de arte foi feita, com um visual que eu realmente gostaria de ver mais por aí. As sequências de ação também são legais, mesmo tendo que admitir que esperava um pouco mais de Justin Lin, sobretudo pelo 3D subutilizado que poderia ser bem melhor em um filme passado no espaço.

Star Trek Beyond renovou levemente as minhas esperanças de ver a franquia continuar nos cinemas. Mesmo não sendo tão bom quanto o primeiro e tendo esse ar derivativo, é uma obra que merece ser assistida, ainda mais em um mar de fracassos como foram estes últimos meses. Não sei se há muito para onde ir daqui para a frente, mas um último filme para fechar a missão da Enterprise não seria exatamente surpreendente. Se for assim, quem sabe não veremos um capitão Jean-Luc Picard nos cinemas dentro de alguns anos?

Outras divagações:
Star Trek
Star Trek Into Darkness

Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

RELACIONADOS

0 recados