Sundance ousa e acerta

O Festival de Sundance começa nesta quinta-feira em Park City (Utah, EUA). Criado em 1981 pelo ator e diretor Robert Redford como uma mostra...

O Festival de Sundance começa nesta quinta-feira em Park City (Utah, EUA). Criado em 1981 pelo ator e diretor Robert Redford como uma mostra regional, o festival se consolidou como a maior vitrine do cinema independente mundial. É o primeiro ano do festival sob a direção de John Cooper em substituição a Geoffrey Gilmore, que esteve à frente do evento por 19 anos. Cooper, que já era um dos seus principais programadores, disse que o apoio que recebeu do Instituto Sundance o encorajou a fazer algumas mudanças nesta 26ª edição.

"Achamos que poderíamos correr alguns riscos e repensar programas, tanto sob o aspecto artístico quando de audiência, algo que certamente revigorará a comunidade do cinema independente", afirmou o novo diretor, acrescentando que a seleção neste ano foi um pouco mais rigorosa do que no passado.

Foram criadas as Mostras Next para exibir filmes de baixo orçamento fora da competição e Spotlight, com filmes que trazem inovações artísticas e/ou garimpados em outros festivais.

O Sundance também não vai ter mais filme de abertura. O evento abre com selecionados das competições dramáticas de documentários e de curtas. Para dar início à programação ficcional foi escolhido o drama Howl, de Rob Epstein e Jeffrey Friedman, com James Franco na pele de Allen Ginsberg, poeta da geração beat.

Segredos da tribo, novo filme de José Padilha, está na prestigiada mostra Documentário Mundial. O filme investiga o escândalo numa comunidade acadêmica com relação à exploração de índios e tribos indígenas na Bacia Amazônica. Padilha contou que rodou o longa na própria Amazônia e entrevistou índios alvos de estudos realizados por antropólogos franceses.

"É um filme que trata a antropologia de maneira crítica, analisando as pesquisas e os debates que envolveram e ainda continuam envolvendo a etnografia dos índios ianomâmis da Venezuela", definiu o diretor de Tropa de elite (Urso de Ouro em Berlim), que retorna pela terceira vez ao Sundance, onde em 2000 esteve como produtor de Os carvoeiros, do inglês Nigel Noble; e em 2003 impressionou o público independente com o impactante Ônibus 174.

Entre os títulos que concorrem com Segredos da tribo, um deles tem ligação direta com o Brasil: Lixo extraordinário (Waste land), da documentarista inglesa Lucy Walter, que mostra o trabalho do artista plástico Vik Muniz com catadores de lixo no Rio. Codirigido por João Jardim, a iniciativa é uma produção conjunta da produtora brasileira O2 com a Inglaterra. O filme também está na mostra Panorama do Festival de Berlim (11 a 21/02).

Jardim – que não vai a em Park City, mas já confirmou presença na Berlinale – disse que ficou entusiasmado com a ideia do artista e tudo que foi gerado com ela, sobretudo o contato dos catadores com a arte.

"Foi um trabalho muito gratificante, um verdadeiro mutirão no qual todos ajudaram a compor as obras artísticas e aceitaram ser fotografados. O processo de criação do Vik é muito interessante. Ele trabalha utilizando imagens como referências, que pode ser um quadro de Pablo Picasso ou de um outro pintor. Ele mostrava a imagem e pedia que eles ficassem naquela mesma posição para as fotos", explica.

Os destaques da competição americana de documentários, que inclui 16 títulos, são Freedom riders, de Stanley Nelson; Waiting for Superman, de Davis Guggenheim, que examina a crise da educação pública nos Estados Unidos; e Casino Jack & The United States of Money, do premiado com o Oscar Alex Gibney.

Na competição dramática, também com 16 títulos – além de Howl – Sympathy for delicious, de Mark Ruffalo, um drama sobre um DJ paraplégico; e Hesher, de Spencer Susser, estrelado por Natalie Portman e trazendo no elenco a veterana Piper Laurie, estão entre os mais esperados.

A mostra Cinema Mundial selecionou, entre 1.022 inscrições, 14 títulos da Europa, Austrália, Canadá, Índia, Iraque, Coreia do Sul entre outros. O destaque é a rara presença do cinema da Groenlândia e da Bolívia, com Nuummioq, de Otto Rosing e Torben Bech, que narra a viagem de um jovem em busca do seu passado; e Southern district, de Juan Carlos Valdivia, sobre a queda social de uma família rica afetada pelas mudanças no seu país.

Na Documentário Mundial – onde competem Padilha e Jardim – o outro representante latino é Pecados de mi padre, do argentino Nicolas Entel, sobre o chefe do narcotráfico colombiano Pablo Escobar.

Foram selecionados 112 longas-metragens, representando 38 países, com 43 diretores estreantes.

Na Première se destacam Michael Winterbottom, com dois filmes: The killer inside me e The shock doctrine, adaptação do livro do jornalista Naomi Klein; e Joel Schumacher com Twelve (filme que vai encerrar o festival no dia 31), sobre jovens privilegiados em Manhattan envolvidos com drogas e assassinatos.

Outra atração da Première é a estreia na direção dos atores Diego Luna com Abel; e do oscarizado Philip Seymour Hoffman com Jack goes boating.

Na Spotlight os mais esperados são Enter the void, de Gaspar Noé; O profeta, de Jacques Audiard, Grande Prêmio do júri em Cannes; e Life 2.0, de Jason Spingarn-Koff, um documentário sobre pessoas que têm suas vidas dramaticamente transformadas pelo mundo virtual.

Queridinha de Crepúsculo, Kristen Stewart ten participação dupla no palco indie: em The Runaways, de Floria Sigismundi, no papel da cantora Joan Jett; e na competitiva americana em Welcome to the Rileys, de Jack Scott, vivendo uma prostituta.


Texto: Carlos Augusto Brandão

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