Divagações: Elysium

Muitos filmes com histórias futurísticas pedem que as pessoas acreditem em coisas que não são plausíveis. Alguns fazem isso de forma deli...

Muitos filmes com histórias futurísticas pedem que as pessoas acreditem em coisas que não são plausíveis. Alguns fazem isso de forma delicada, disfarçada, sutil... Outros simplesmente jogam tudo na cara do espectador e esperam que ele não note que está sendo ludibriado. Infelizmente, esse é o caso de Elysium.

O filme é um longa-metragem de ação rápido (são apenas 109 minutos) que não perde muito tempo explicando como as coisas chegaram naquele ponto. Basicamente, a tecnologia avançou muito e os ricos foram viver em uma estação espacial chamada Elysium, onde o principal apelo são umas macas que restauram o corpo e curam qualquer coisa (ou seja, você nunca morre e eu não sei como é feito controle populacional nesse lugar).

Na Terra, por sua vez, as pessoas são exploradas e vivem em situações deploráveis, com robôs impondo a ordem sem qualquer respeito pela vida. E é no planetinha azul que encontramos Max (Matt Damon), um ex-ladrão de carros que está tentando se reinserir na sociedade. Ele trabalha na linha de produção de robôs, mas a falta de humanidade do empresário John Carlyle (William Fichtner) o coloca de novo no caminho de Spider (Wagner Moura), um fora da lei que está tentando enviar pessoas ilegalmente para Elysium.

Com o apoio de seu amigo Julio (Diego Luna), Max aceita um determinado ‘trabalho’, mas antes ele acaba revendo uma amiga de infância, Frey (Alice Braga), que tem uma filha doente. O que ele não sabe é que a missão o fará enfrentar o cruel agente Kruger (Sharlto Copley) e ir de encontro com a secretária de segurança (ou algo assim) de Elysium, Delacourt (Jodie Foster).

O detalhe é que, agora, você já sabe praticamente tudo o que é necessário conhecer sobre o filme – exceto por alguns detalhes e o final, mas isso eu não vou contar. Não há nenhuma filosofia maior, um grande objetivo, um elemento redentor, algo que faça você querer mais. Nada disso. Elysium é um filme fechado em si mesmo que não se abre nem mesmo para a imaginação dos espectadores.

Tudo bem... Pode-se pensar que existe uma crítica social, mas ela é muito mal formulada para funcionar efetivamente. Como já havia feito em District 9, o diretor e roteirista Neill Blomkamp tentou mostrar a alienação, posição muito confortável em que a humanidade se coloca. Contudo, a falta de um contraste com uma pessoa ‘normal’ de Elysium fez com que esse detalhe não funcione como deveria – até porque as pessoas relutariam em se identificar e/ou admitir que, caso fosse possível, viveriam naquele lugar sem peso na consciência. Também há certo pensamento comunista, mas vamos manter isso entre nós.

A propósito, quem curtiu District 9 talvez encontre algum alento no visual de Elysium. A Terra é repleta de poeira, as casas são semidestruídas, há muitas pichações e parece que todos vivem em um acampamento gigante. Era para ser Los Angeles, mas até aparecem umas bandeirinhas ocasionais da África do Sul.

Vale dizer também que o elenco se esforça muito para fazer a produção dar certo. O personagem de Matt Damon é bastante ingrato, mas ele faz o que é possível. Alice Braga e Jodie Foster apresentam duas mulheres igualmente fortes e, ao mesmo tempo, muito diferentes (a cena em que elas finalmente se encontram poderia ser bem mais legal). Já Wagner Moura grita bastante e convence, embora merecesse um pouco mais de ação (não gostei dessa história de bengala!). Por fim, Sharlto Copley rouba várias cenas enquanto Diego Luna é simplesmente um cara legal.

Como uma das poucas opções em cartaz para quem gosta de ação (e talvez a única que se aproxime um pouco da ficção científica), Elysium vale como entretenimento, mas não vai muito longe nisso. O filme é esquecível e sem grandes apelos, mas parece ter sido feito com carinho, o que já é muita coisa nos tempos atuais.


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