Divagações: jOBS

Muito provavelmente, você – que está lendo essa resenha – lembra de pelo menos algum pequeno detalhe do dia cinco de outubro de 2011, dat...

Muito provavelmente, você – que está lendo essa resenha – lembra de pelo menos algum pequeno detalhe do dia cinco de outubro de 2011, data da morte de Steve Jobs. Eu, por exemplo, entrei no site da Pixar para ler a mensagem deixada pelo pessoal do estúdio a alguém que os ajudou no começo de sua jornada.

Não demorou muito para que anunciassem diversas biografias e, inevitavelmente, uma produção cinematográfica. Alguns diriam que é falta de respeito e outros que se trata de aproveitar oportunidades. Se o ‘homenageado’ gostaria ou não disso tudo, não há como saber – e, provavelmente, são poucos os que realmente se importam.

De qualquer modo, jOBS conseguiu para o papel principal um ator famoso (o que é diferente de um bom ator) e relativamente parecido com o retratado. O filme também selecionou um período interessante e particularmente criativo de sua carreira, o que proporciona aos espectadores a visão de um jovem saudável, cheio de manias, mandão, mimado, bom negociador e com uma incrível visão de futuro.

Na história, Steve Jobs (Ashton Kutcher) deixa a faculdade para ser seu próprio chefe e embarca ao lado de alguns amigos – em especial, Steve Wozniak (Josh Gad) – e um bom investidor, Mike Markkula (Dermot Mulroney), naquilo que se tornaria a Apple. Eventualmente, ele acaba saindo da empresa, mas o filme se estende até seu retorno.

De uma forma geral, é perceptível que o filme é repleto de boas intenções e decisões acertadas. Ainda assim, há certo ar de amadorismo visível a cada nova cena. Esse é o primeiro roteiro de Matt Whiteley, que deixa muitas pontas soltas e tem alguma dificuldade em mostrar a passagem do tempo e certos dramas mais profundos.

O diretor, Joshua Michael Stern, tem um pouco mais de experiência e tenta resolver a questão do tempo através de clichês de fotografia. Os anos 1970 assumem um inacreditável tom sépia, enquanto o mundo corporativo é cinzento e o retorno triunfal tenta ser um pouco mais colorido – tudo, sempre que possível, com brincadeiras no ajuste focal e iluminação estourada. Até funciona, mas deixa a desejar.

O elenco também se esforça para fazer a coisa funcionar. Ashton Kutcher, inclusive, deixa vários maneirismos de lado e consegue bons resultados ao lado de um elenco de apoio de qualidade – destaco, aqui, a curta e valiosa participação de J.K. Simmons. Ao mesmo tempo, o filme se beneficiaria muito de um protagonista mais forte, que soubesse ir além dos gritos e olhinhos brilhantes.

Assim, com a qualidade técnica de um filme feito diretamente para a televisão, jOBS conseguiu ir além devido ao seu lançamento rápido e o elenco com alguns bons nomes. Voltamos àquela discussão mencionada no começo do texto...

O detalhe é que, por mais que ajude a vender a produção, isso também pesa contra o filme. Afinal, todas as pessoas assistindo se lembram dos acontecimentos (a ponto de alguém atrás de mim na sala ter ficado sussurrando sobre o que deveria acontecer nas próximas cenas) e podem não identificar aquele homem com o que elas conheciam ou achavam conhecer.

Mediano até o último fio de cabelo, jOBS é um filme oportunista que se esforça para não ser só isso, embora seja difícil disfarçar a origem. Espero que, em alguns anos, alguém se motive a contar novamente essa história e faça um trabalho melhor.

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