Divagações: To Rome with Love

Trabalhando desde a década de 1950, Woody Allen teve sucessos, fracassos e resultados medianos em grande quantidade. Em 2011, por exempl...

Trabalhando desde a década de 1950, Woody Allen teve sucessos, fracassos e resultados medianos em grande quantidade. Em 2011, por exemplo, Midnight in Paris foi muito bem recebido pela crítica, pelo público e por seus colegas, conquistando um Oscar de Melhor Roteiro Original – que o cineasta não foi buscar pessoalmente. Seu trabalho seguinte foi To Rome with Love, mais um filme dessa fase europeia do que talvez seja o mais famoso dos nova-iorquinos.

Como o filme anterior, esse também é repleto de personagens marcantes, mas eles se dividem em várias histórias paralelas. Hayley (Alison Pill) é uma turista americana que se apaixona por Michelangelo (Flavio Parenti). Em pouco tempo, os dois decidem noivar e ela chama os pais para conhecerem a família de seu amado. O pai dela é Jerry (Woody Allen), um produtor musical aposentado e conhecido por suas ideias pouco usuais. Já o pai dele é Giancarlo (Fabio Armiliato), dono de uma funerária e excelente cantor – mas somente debaixo do chuveiro. Essa talvez seja uma das tramas mais divertidas do filme, mostrando o encontro de duas culturas de uma maneira descontraída (embora um tanto neurótica).

Uma segunda história acompanha um cidadão italiano absolutamente comum. Leopoldo (Roberto Benigni) tem um trabalho burocrático e vive com a mulher e os filhos. De repente, ele começa a ser perseguido por repórteres, que estão interessados em aspectos ordinários de sua vida, como seu café da manhã e a maneira como abotoa a roupa. Sem entender nada, ele acaba envolvido nessa fama absurda. Essas sequências são simples, também de fundo cômico e poderiam ter uma conotação crítica, mas acabam com um ar de filosofia de botequim.

Mais similar ao tom de Midnight in Paris, outro segmento acompanha John (Alec Baldwin). Em sua juventude, ele morou em Roma e visitando a cidade acaba encontrando um jovem com quem se identifica. Jack (Jesse Eisenberg) vive em harmonia com a namorada, Sally (Greta Gerwig), até que a chegada de uma amiga dela, Monica (Ellen Page), tem potencial para estragar essa vida pacífica. Essa história poderia render um filme só para ela, mas acaba se encaixando bem entre as loucuras do filme, até porque a presença do personagem de Alec Baldwin se dá de uma maneira bem incompreensível.

Por fim, Antonio (Alessandro Tiberi) e Milly (Alessandra Mastronardi) são recém-casados vindos do interior da Itália que pretendem se estabelecer em Roma. No primeiro dia na nova cidade, no entanto, eles acabam se desencontrando e vivendo tentações amorosas. Uma prostituta chamada Anna (Penélope Cruz) invade o quarto de Antonio e acaba sendo confundida com sua mulher por um grupo de gente idosa e importante. Já Milly cruza com uma filmagem a caminho do cabeleireiro e conhece o grande astro de cinema Luca Salta (Antonio Albanese). Essa talvez seja a história mais ‘normal’ do filme, embora também seja forçada e tenha personagens caricatos.

Afinal, com tanta coisa para contar, To Rome with Love acaba não se aprofundando em nada e fica difícil para o espectador se envolver com qualquer um dos personagens. O filme traz diversos aspectos da cidade que merecem ser observados – italianos jovens e cheios de esperança, estudantes com toda a vida pela frente, gente comum e turistas apaixonados –, procurando focar mais nas pessoas de Roma que em suas paisagens (eles passam pelos pontos turísticos, mas você mal os enxerga).

Por mais que Woody Allen queira fazer uma declaração de amor, ele acaba se atrapalhando um pouco, falando mais do que devia e dizendo pouca coisa. Paris teve mais sorte, mas talvez a Itália tenha novas oportunidades.

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